A Herdeira Mestiça

O LAR

Toda a batalha dos territórios Molfenter ecoou pela noite, em cada canto pode-se ouvir os gritos e as vozes agitadas. Toda Elys se inundou em cinzas que voaram com o vento transmitindo a mensagem que todos já aguardavam. Como neve elas caiam sobre toda a ilha, até nos cantos mais remotos da floresta do Éden, desde as montanhas até o Lago Lyn tudo foi tomado por luto. Naquela noite todos saíram para fora, e viram a lua se despedir tinha cumprido seu papel como palco da batalha sangrenta. A notícia se espalhou antes do amanhecer, e pela primeira vez Bernard abraçou Lia como uma filha perdida, que talvez ela fosse, todos tinham se perdido com o tempo. Lis juntou-se ao seu povo assumindo a posição que sempre deveria ter assumido, uma líder, disposta a tudo pelo seu povo. Maicon e Victor se olharam como quando crianças, se lembraram de que cresceram e viveram para este momento, eram irmãos de alma e mais ainda parceiros de batalha, morreriam um pelo outro sem exitar. Mariah por sua vez, estava sozinha afastada de todos em uma colina, usava um vestido longo e preto com mangas largas, de ombro a ombro, os cabelos molhados, os olhos cheios. As cinzas tocando o topo da sua cabeça. Ela olhava as luzes vindas a quilometros de distancia, e por algum motivo sentia uma escuridão tomar seu peito, seu outro eu tinha retornado ela sentia em cada átomo do corpo. Cerrou os punhos enquanto as veias enegrecidas subiam seu corpo, os olhos negros como a noite fria e sem luz. O rei estava enfim Morto. O trono estava vazio.

Duas longas semanas se passaram, mais um dia tinha amanhecido em um clima nublado como um fragmento de toda escuridão que se instalou na ilha. Nos territórios knowa, todos tentavam seguir em frente com o plano, preparando tudo para sua vez na Guerra dos Renegados. Não se tinha noticias de sobreviventes vampiros, nem das fadas. Não era seguro ultrapassar os limites já que Killian tinha ordenado uma caçada aos seus companheiros, qualquer um que viesse para fora seria executado imediatamente. Mariah tinha afundado em seu próprio mundo, lutava todos os dias, treinava e ensinava os mestiços e os outros a se defenderem de forma incisiva e intimidadora. Suas noites tinham se tornado pesadelos, já que Lis tinha se mudado para a cabana da herdeira e a pegava gritando e suando toda madrugada. Um segredo que escolheram esconder, toda vez que Mariah despertava o outro eu, Lis protegia a casa com Magia a impedindo de sair. Os surtos eram pouco duradouros o que era bom, pois a força de uma feiticeira jamais suportaria a ira de uma filha dos céus e do inferno. 

Os primeiros raios de sol cruzaram os olhos de Mariah enquanto saia da cabana, com calças confortáveis, botas de caça e uma blusa branca larga de mangas dobradas até os cotovelos, a espada na bainha e os cabelos presos em um rabo de cavalo, destemida e focada marchava para que chamavam de campo de treinamento. Onde tinham construído alvos, e obstáculos. 

- Por quanto tempo ainda vai me ignorar? 

Mariah continuou andando. 

- Sabe que não pode evitar tudo isso, Mariah, eu sou sua mãe! 

Ela continuou andando. 

- Pode me culpar por sumir, pode me culpar por dar a luz a duas das mais perigosas criaturas do mundo. Eu realmente sou culpada! Mas não pode ignorar o fato de que, agora, neste momento, você e eu somos a unica coisa que restou da nossa família. 

Mariah parou e suspirou virando para encarar Aurora. 

- Família? Eu tive uma família. Um pai de verdade, uma casa de verdade, uma mãe de verdade. 

Mariah se aproximou um pouco mais. 

- Eles morreram em um acidente de carro. A partir dali, eu sempre estive sozinha. E depois veio a Melina, ela se tornou minha família. E eu a perdi também. Quanto ao meu pai Lorenzo, ele me condenou a morte enquanto estava nos Molfenter, ele olhou nos meus olhos e me deixou para morrer. Meu irmão é meu maior inimigo e estamos condenados a lutar um contra o outro. E você, mamãe, é o pilar de toda a desgraça que nos enterrou nessa sujeira.