CICATRIZES

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"Feridas mal cicatrizadas, criam raízes, como uma árvore apodrecida"

A medida que entravam cada vez mais na floresta densa, ela parecia mais viva e cheia de flores, frutas e cores. Como se deste lado fosse encantada, pequeninas criaturas os observavam passar por entre as folhas e copas das arvores, alguns com asas brilhantes, outros com orelhas pontudas, e roupas leves que dançavam com a brisa.

-O que são... - Antes que ela terminasse ele respondeu.

-São Fadas. Estas especialmente são guardiãs dos territórios da sua rainha Celine. Meu mestre tem um acordo brando com elas.

-São incrivelmente belas. – Comentou.

- Aa beleza costuma ser traiçoeira. - Riu ele. E Mariah se lembrou de sua aparência simpática e confiante.

-De fato é. - Disse a menina friamente.

O caminho se deu em uma trilha de pedras de esmeralda que brilhavam contra os, vaga lumes que flutuavam por ali, os raios de Sol eram pouco alcançados, e Mariah agradeceu por tirar a capa pesada. Mais abaixo viu outra vez as casinhas cheias de flores e aromas adocicados, ali havia mais fadas, algumas maiores e mais esguias, outras roliças e broncas, suas peles iam de tons e texturas divergentes, algumas brilhavam outras pareciam opacas e gelatinosas. Quando seus olhos cruzavam os de Mariah, ela entendia o que todos queriam dizer sobre a beleza delas, havia algo de terrível ali, alguma coisa não dita, escondida por trás dos vários tipos de olhos encontrados naquele lugar.

-Sugiro que não fique encarando, isso as deixa irritadas. - O homem seguia a passos firmes mas algo em sua postura dizia que ele também não se agradava de estar na presença daquelas criaturas. O caminho se abriu em uma estreita trilha de terra que levava a um chalé simples branco, e marrom com tons avermelhados, a chaminé estava ativa e logo Mariah sentiu um aroma fresco e adocicado de gengibre e hortelã. Na direita uma horta bem cuidada balançava suavemente enquanto pequenos insetos perambulavam por ali, e da esquerda um cavalo tão negro quanto à noite relinchava ao ver o assassino se aproximar, o garanhão estava preso por grossas cordas bem amarradas em uma arvore de tons azulados.

-Este é Meia-Noite. - Disse o homem acariciando a crina brilhosa do animal.

-Que criativo. - Desdenhou a menina, ainda sem expressão.

-Ele tem bom humor. - Comentou-o. A tensão havia passado.

-Vamos logo conhecer esse tal superior. - Exigiu a menina.

-Como quiser senhorita. - Ironizou.

A porta era feita de madeira artesanato com o símbolo do E com curvas precisas assim como no barco de Kyle.

-Entre.

E assim Mariah fez, a sala de estar era aconchegante, com estofados de veludo e couro, nas paredes havia quadros semelhantes aos do castelo Molfenter. Uma lareira crepitava dançando com a brisa que entrava pela janela entre aberta, sob as cortinas brancas de cetim. Duas poltronas de encostos altos de veludo cinza e tons de dourado nos detalhes estavam de frente para as chamas, e uma mão pendia para o lado de forma que fosse possível ver quem estava ali.

-Senhor, Ela está aqui...

[...]

O sol estava se pondo, e Pedro sentiu-se aliviado por além de se preocupar com o caminho que seguia também devesse se preocupar em não ser morto pela luz. Agora com a noite caindo sobre Elys, seria mais fácil encontrar os rastros de Mariah, sentiu uma amargues correr pela sua garganta como pequenos pregos rasgando-lhe, foi assim que sentiu quando pensou em tê-la perdido. Ele pensou ter falhado com seu propósito mas o destino lhe dera uma nova oportunidade e ele ia usar com sabedoria. A floresta se fechava entorno dele como se a própria não o deixasse prosseguir, pode observar enquanto caminhava que estava sendo vigiado, por pequenos olhos por entre as copas das arvores e nas plantas. Fadas. Ele sabia que estava perto do território delas, ficou tenso, não sabia se o broche que Thomas havia dado de fato funcionaria. Ainda sim continuou sua trilha de rastros andando cautelosamente, ele poderia correr e escapar dos olhos curiosos, mas sabia que seu desespero levantaria suspeitas das criaturas tão belas quanto pinturas surrealistas. As arvores começaram a se movimentar e Pedro escapava como dava, desviando aqui e ali, porém sua distração fez com que perdesse o rastro. Ele passou as mãos esguias pelos cabelos prateados os jogando para trás de qualquer jeito. Lembrou-se de sua vida enquanto ainda era humano, e desde aquele tempo -O que faz muito tempo- Pedro jamais se sentira assim até Ela aparecer...

A Herdeira Mestiça Onde histórias criam vida. Descubra agora