Obsessão_Trilogia Wolf Black I (Degustação)

Capítulo 5

"...e eu sei que em algum lugar dentro daquele frio, sem vida exterior, há uma alma humana real..."

—Teen Wolf—

O Corpo de Ryah repousava contra o chão de pedra húmida e gélida. Mas ele não sentia frio. Apesar de suado, ele não sentia nem mesmo calor. Ele já estava acostumado ao silêncio, e a solidão que o acompanhava. Naquele lugar, as horas passavam como minutos, os dias se tornavam meses e os meses se transformavam em anos. Não sabia dizer quanto tempo estava preso naquela cela, dez anos, talvez quinze ou mais, provavelmente vinte. Até mesmo Eydan já havia desistido de atormentá-lo, apesar de ainda mantê-lo ali.

Talvez o tempo o tenha deixado louco. Às vezes era difícil lembrar do seu próprio nome. As memórias se tornavam distantes e só lhe restavam os sonhos. Às vezes quando fechava os olhos em busca de paz, ele era capaz de ver uma criança, uma linda menininha de longos cabelos loiros prateados correndo pelo prado. Ele não podia ver seu rosto, mas podia ouvir seu riso suave a poucos passos de distância.

Mas não importava o quanto tentasse alcançá-la, ela sempre se mantinha longe demais. Ele sabia que aquilo não era real. Afinal, sua menina estava morta, apesar de nutrir um único fragmento de esperança de que isso fosse mentira, assim como grande parte do que Eydan dizia.

Infelizmente, tantos anos antes, diferente das outras vezes, Eydan lhe deu uma prova. Um pequeno urso de pelúcia manchado com o sangue de sua única filha. Ele sabia que era dela, por mais que quisesse acreditar no contrário. Ele reconheceu sua essência, seu doce perfume. Uma mistura perfeita da sua própria, fundido com o de sua companheira. Era diferente de tudo e qualquer um que ele já havia sentido. Surpreendentemente humano..., mas também com algo mais se escondendo sob a superfície.

Aquilo o destruiu. Mais do que qualquer ferida que pudesse lhe ser causada. Seu único motivo para viver, lhe foi arrancado. Então tudo que lhe restou, foi o sonho. Mas assim que abria os olhos, era obrigado a aceitar que tudo aquilo, se tratava apenas de uma ilusão, então era induzido a novamente mergulhar na profunda escuridão que se tornou sua alma.

Entretanto, já não importava mais. Já não existia mais nada que pudesse ser tirado dele. Então ele se conformou em esperar uma morte que lhe era negada. Ele já tentou antes escapar em busca de vingança, mas falhou. Tentou dar fim a sua existência medíocre, mas não obteve êxito. Quando parou de se alimentar, eles o obrigavam a comer. Quando lutou, eles o derrubaram. As surras se tornaram um meio de suprimir a dor. Mas como se soubessem disso, eles pararam de atacá-lo. Então um dia, ele simplesmente desistiu também. Desistiu de tentar e se conformou com seu destino.

Ao longe, ele ouviu passos se aproximando, mas não reconheceu o cheiro. Provavelmente era alguém novo. Jovem e lycan. E ele ficou surpreso por Eydan permitir que alguém soubesse de sua existência naquele lugar. Apesar de que ninguém o reconheceria na situação em que ele se encontrava.

O rapaz se aproximou de sua prisão, a princípio Ryah pensou que fosse uma peça pregada por sua mente. Mas então observou quando as mãos do rapaz tremeram quando ele abriu a grade que os separava. Isso fez com que Ryah o olhasse com um misto de surpresa e escárnio. Já que nem mesmo Eydan se atrevia a chegar tão perto desde o dia em que soube que sua filha e que sua companheira humana, estavam mortas. Mas foram as palavras do jovem que mais o surpreenderam e o impediram de reagir.

—Todos achavam que eu estava louco, mas sabia que eles estavam errados! —O rapaz murmurou. Ele tinha os cabelos em um tom acobreado, e olhos cinzentos.

Ryah se sentou. As correntes que envolviam seus pulsos e tornozelos tilintaram a sua volta, feitas de um material especial para o aprisionar na forma humana. Não que isso importasse. Seu lobo havia a muito tempo sucumbido, apenas seu corpo humano se recusava a fazê-lo também. O barulho ecoando pelo pequeno cômodo o incomodou. Com sua visão lycan, ele podia ver o rapaz, apesar da escuridão.