Colega de quarto

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Assim que entrei no quarto, fui recebida por uma garota sentada na beira da cama. Seus cabelos cacheados e longos, completamente pretos, emolduravam um rosto moreno de traços delicados, e seus olhos cinzentos tinham um brilho intenso. Quando me viu, ela abriu um sorriso caloroso.

- Oi! Eu me chamo Carol. E você? - perguntou com uma voz tranquila, mas cheia de entusiasmo.

- Sou Mikaele, mas pode me chamar de Mika - respondi, tentando parecer confiante, embora estivesse um pouco tímida.

Ela fechou o livro que estava lendo, marcando a página com cuidado.

- Você gosta de ler? - perguntou, inclinando a cabeça com curiosidade.

- Gosto, mas prefiro assistir a filmes. É mais rápido, sabe? Não exige tanto esforço. - Dei um sorriso sem graça, sentindo que essa resposta não iria impressioná-la.

Carol riu, balançando a cabeça.

- Ah, eu sou apaixonada por livros! Eles são como portais para outro mundo. Este aqui, por exemplo, está me prendendo de um jeito...

Olhei para o livro grosso em suas mãos. Era enorme, do tipo que eu jamais teria paciência para terminar. Já dava para perceber que ela era uma leitora ávida, do tipo que preferia aventuras nas páginas a aventuras reais.

Enquanto organizava minha mala, decidi puxar mais assunto.

- Qual é o seu livro favorito?

- Difícil escolher só um, mas amo "Quem é Você, Alasca?", a série Harry Potter e Percy Jackson. E você?

- Bom, eu li "Quem é Você, Alasca?" e Percy Jackson.

Ela arregalou os olhos, chocada.

- Só isso?! Você não tem ideia do que está perdendo! Ler é maravilhoso! - Ela levantou o livro e balançou no ar como se fosse uma bandeira de vitória. - Promete que vai tentar ler mais?

- Vou pensar no caso - respondi com um sorriso.

Depois de algum tempo conversando sobre livros, me virei para ela novamente.

- Quantos anos você tem?

- Dezesseis. E você?

- Quinze. - Sorri. - Está no primeiro ano?

- Sim, e pelo visto estamos na mesma turma! Sou do 1A.

- Eu também! Perfeito! Podemos estudar juntas!

A sensação de já ter encontrado uma amiga me deixou aliviada.

- Ei, vou dar uma passada no quarto ao lado. Uma amiga minha está lá. Quer vir?

- Ainda preciso organizar minhas coisas, mas me chama depois!

Com isso, fui até o quarto da Larry. Quando abri a porta, ela estava deitada na cama, com fones de ouvido e olhos fechados, parecendo completamente alheia ao mundo ao redor.

- Oi, Larry! - cumprimentei, entrando.

Ela abriu os olhos devagar e tirou um lado dos fones.

- Oi, Mika.

- O que está ouvindo? - perguntei, apontando para o celular dela.

- Charlie Brown Jr. Amo as músicas deles, mas também tenho algumas que eu mesma gravei.

Fiquei surpresa.

- Você canta?

- Ah, só de brincadeira - respondeu, desviando o olhar.

- Posso ouvir?

Ela hesitou por um momento, mas acabou concordando. Assim que a música começou, fiquei impressionada com a profundidade da voz dela.

- Larry, sua voz é incrível! Você deveria investir nisso.

Ela deu uma risada curta.

- Claro que não. Nem acho que canto bem.

- Como assim?! Sua voz é linda! E essas letras... você escreveu?

- Sim. São meio pessoais. Eu me inspirei no meu ex. Ele foi... importante.

- Parece que vocês tiveram algo especial.

Larry suspirou.

- Tivemos, mas eu estraguei tudo. Na época, eu era imatura. Agora, acho que seria diferente, mas é tarde demais.

- E você se culpa por isso?

Ela deu de ombros.

- Às vezes. Mas a vida segue, né? E você? Já namorou?

- Não. Nunca. Sempre que alguma coisa parecia começar, eu dava um jeito de fugir. Acho que gosto de ser livre.

Larry sorriu, mas sua expressão mudou rapidamente quando o celular vibrou ao lado dela. Ela olhou para a tela, e o nome "Laerte" apareceu.

- Quem é Laerte? - perguntei, curiosa.

Ela apertou o botão para rejeitar a ligação, e sua expressão endureceu.

- É só o meu pai.

- Parece que você não gosta muito dele.

Ela hesitou, os olhos fixos no celular.

- Ele fez algo horrível. Algo que nunca consegui perdoar.

Antes que eu pudesse perguntar mais, ouvi o som de passos no corredor. Eles pararam bem na frente da porta.

De repente, a maçaneta começou a girar lentamente. Olhei para Larry, que estava completamente imóvel, seu rosto uma mistura de surpresa e nervosismo.

A porta se abriu, mas a luz do corredor tornou impossível ver quem estava ali. Meu coração disparou. Quem poderia ser?

Quem sabe...amigas?Onde histórias criam vida. Descubra agora