Capítulo 10

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Em casa, deitei na cama e comecei a segurar as lágrimas quando meu celular tocou.

- Alô - falei me sentando na cama.

- Amiga, me ajuda! - Era Sasha. - O que você acha desse vestido para um encontro?

Não querendo parecer uma amiga ruim, mas acabei me esquecendo que hoje era sexta e era o encontro de Sasha e Jason.

- Você não me mandou uma foto - foi tudo que pude dizer.

- Verdade. Espera, já mando.

Era um lindo vestido amarelo clarinho, não muito curto, mas não tão longo, com uns brilhinhos, porém sutil.

- É perfeito. Certeza que ele vai amar.

- Você acha?

- Ele seria um idiota se não amasse.

- Amiga, tenho que ir. Ele chegou.

- Vai lá.

Depois que ela desligou o telefone, ouvi a porta se abrindo lá em baixo. Desci para ver quem era, e então vi Zouth, Belle e minha mãe entrando, os três rindo.

- Oi, gente - disse.

-Oi - respondeu minha mãe. - A Belle vai ajudar a fazer o jantar hoje. Ela não é um doce?

- Vou fazer torta de nozes com chocolate  - disse sorrindo para mim - Sua preferida, não é?

- Sim - respondi sorrindo também. - Como posso ajudar?

- Que tal tomando um banho? - perguntou minha mãe.

Até aquele momento nem tinha percebido que não tinha tomado banho, e minha roupa estava encharcada de café, exalando o cheiro. Tomei um banho e então desci, e enquanto minha mãe fazia o jantar, meu irmão começou a tocar sua guitarra no balcão da cozinha. Quando me viu, perguntou se eu queria tocar. Nem precisava perguntar duas vezes. Peguei a guitarra e comecei.

- Não sabia que você tocava - disse Belle, com um olhar meio surpreso.

- Toco - respondi, sem tirar os dedos da corda. - Em geral, toco para o Pero. Você toca?

- Não, não. Mas essa música que você esta tocando é muito bonita, será que posso tentar?

Estava tocando Perfect, do Simple Plan. Entreguei a guitarra para ela, e ela começou a tocar perfeitamente. A música que demorei meses para aprender, ela aprendeu em segundos.

- Uau, você é muito boa - disse eu.

- Sou só observadora - disse ela num tom de humildade.

Bom, queria eu ser assim.

Depois do jantar, eu e minha mãe estávamos lavando a louça, enquanto Belle e Zouth estavam tocando e cantando na garagem.

- A Belle aprende rápido, não? - perguntou minha mãe, me dando um prato.

- Muito - disse. - Aqueles dedos são mágicos.

- É. Você poderia ser mais como ela, Eli.

- Como assim? - perguntei, franzindo as sobrancelhas.

- Ah, mais prestativa, como fazer o jantar sempre.

Bufei.

- Eu faço o jantar sempre.

- Me ajudar mesmo quando não peço - continuou ela. - Ser uma filha melhor. Aposto que ela faz todas essas coisas em casa.

- Olha mãe - comecei a falar, mais descontrolada do que queria. - Sei o que você pensa de mim, mas me desculpe tá, eu não sou perfeita. Eu não sou como a Belle, a linda, prestativa e perfeita Belle.

- Mas bem que poderia.

- Eu tento.

- Talvez não seja o suficiente - falou ela bem baixinho.

Ela era a segunda pessoa que me falava isso. E eu estava de saco cheio de tentar ser boa com as pessoas e, mesmo assim, não dar certo. Então só peguei meu casaco e saí na noite gelada, para caminhar e ver se assim esfriava minha cabeça.

Depois de algum tempo andando, percebi que estava perto do lago, o que significava muito longe de casa. 

Dei meia volta e estava voltando, afinal já era tarde e estava frio, a cada respiração até saía fumaça gelada. Mas quando me virei, ouvi uma voz, uma voz de criança, gritando por ajuda.

Olhei para os lados e não vi ninguém, mas a voz continuava. Agora comecei a girar procurando, o desespero dentro de mim. Então, olhei pro lado e bati na testa, quando percebi: o lago. A voz só podia vir do lago.

Nunca havia sido boa nadadora, mas mesmo assim entrei no lago, para ajudar quem quer que fosse.

Dentro do lago estava muito escuro e frio, mas então, fechei os olhos e me lembrei do treinamento de Matt. Me concentrei e então uma bola de luz começou a sair de mim, iluminando o lago. E de repente, eu não sentia mais frio.

Fui um pouco mais para trás e encontrei uma garotinha, bem pequenininha, de cabelos loiros, uns 5 anos, lutando para ir à superfície. Nadei o mais rápido que pude, até que a alcancei, e a segurei, levando-a para cima.

Ajudei ela a subir a ponte, e depois que vi que ela estava a salvo, subi também. Vi que ela estava chorando e a abracei, percebendo o quanto ela estava gelada.

Me deu uma vontade muito forte de poder aquece-la e, quando vi, meu calor estava indo para ela. Eu podia sentir. Podia senti-la mais quente, parando de chorar um pouco.

- Ta tudo bem - comecei a dizer. - Vai ficar tudo bem.

Então ouvi uma voz gritando:

- Melanie! Melanie!

Avistei uma moça bonita que aparentava ser jovem, correndo a nosso encontro.

- Melanie - disse ela numa voz de alívio, e então começou a abraçar a garota.

Ainda a abraçando, disse:

- Obrigada, você salvou minha filha.

Balancei a cabeça num sinal positivo e saí.

Cheguei em casa e a primeira coisa que fui fazer foi me deitar. Não me importava o quanto encharcada estivesse, tudo que queria era minha cama. Hoje eu dormiria bem.

Eu salvei alguém. Eu pude ajudar alguém. Talvez tentar não fosse tão inútil assim.

Com esse pensamento, adormeci.

A garota iluminadaOnde histórias criam vida. Descubra agora