Chapter 16- alive. Not fine, but alive.

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Aconteceu na madrugada. Acho que eram umas três e quarenta da manhã quando o telefone tocou.

Como meio que comecei a morar com Pete nas últimas semanas, preferi dar também o número de sua casa, para que ligassem pra cá caso acontecesse alguma coisa.

Felizmente, meu namorado e eu tínhamos fases do sono diferentes. Enquanto eu tinha o sono extremamente leve, ele dormia como uma pedra. É impressionante, acho que se a casa pegasse fogo, não perceberia. Continuaria apenas dormindo feito um bebê.

Então, obviamente, acordo apenas com o suave som do telefone tocando na sala e nem me viro para ver se ele ainda estava dormindo. Tento não trombar com os móveis à medida que faço meu caminho até o telefone fixo e atendo.

"Alô?"

"Mikey?!"

Uma voz desesperadamente embargada me recebe da outra linha. Demoro dois segundos pra perceber a quem aquela voz pertencia.

"Frank?! Sim, sim, sou eu, Mikey... o que aconteceu?"

Falo, me sentando no sofá e batendo o pé no chão com ansiedade. O garoto soluça no outro lado.

"Mikey, é... é sobre Gerard, ele..."

Frank faz uma pausa, mas acho que era porque alguém lá havia falado com ele.

"O que aconteceu?!"

Exclamo, passando a mão agressivamente por meu próprio cabelo.

"Miikey, ele... ele teve uma parada respiratória."

Solto um arquejo, então fico em silêncio. Não... não, não, não.

"Mas... eles conseguiram estabilizá-lo, ele está... vivo."

Vivo. Não bem, mas vivo.

Cubro meus olhos.

"Eu... estou indo aí. Estou indo aí agora mesmo, eles vão ter que me deixar entrar."

Falo, já me levantando, mas aparentemente, Frank ouviu o som da minha bunda deixando o estofado, porque logo em seguida respondeu:

"NÃO! Não se atreva a sair daí, Mikey, você sabe que eles não vão deixar... mal estão me deixando ficar aqui com ele... por favor, vem amanhã de manhã."

Suspiro, fechando os olhos.

"Okay... okay. Tudo bem."

À essa altura, ele já tinha se acalmado o suficiente para que pudesse entender suas palavras propriamente, o que me ajuda muito mais a me sentir calmo. Gerard estava bem, e Frank só me ligou para avisar isso. A parada respiratória foi devidamente controlada, e agora ele já tinha voltado a dormir tranquilamente.

Entretanto, não consigo nem ao menos fechar os olhos quando volto pro quarto. Fico me revirando na cama até às cinco, e então me levanto para fazer algo. Perambulo até a cozinha e ligo a cafeteira, tentando me entreter com o som do café sendo feito. Pego alguns ovos na geladeira e me aventuro a fazer uma omelete com pedaços de presunto, daí coloco pão de forma dentro da torradeira.

Quando Pete chega, já tinha comida o suficiente pra encher o bucho de um batalhão inteiro. Ele sorri.

"Tá inspirado hoje?"

Dou de ombros, tentando sorrir. Ele repara que algo estava errado e caminha até mim, segurando meus cotovelos com delicadeza.

"Eiiiii... o que aconteceu?"

Balanço a cabeça e levanto o queixo, fitando o teto.

"Nada... nada, eu estou bem, só não consegui dormir direito... só isso."

Respondo, tentando ao máximo controlar minha voz. Seus lábios se juntam em uma linha fina quando entende que não queria conversar sobre aquilo e se afasta, pegando a caneca de café que tinha separado para ele e se sentando à mesa.

"Tem como me deixar no hospital quando for trabalhar?"

É o que digo. Pete concorda.

Gerard estava... de fato, estava vivo, mas acho que bem é uma palavra exagerada demais para descrever a situação. Era verdade, já ia fazer um ano que estava no hospital, e desde lá, tudo o que fez foi piorar. Ficou mais magro, mais branco... estava parecendo um fantasma. Realmente um fantasma.

"Eu não sei mais."

Frank me disse, quando ele dormiu e decidimos vir nos sentar no corredor para conversar melhor. Meu cunhado balança a cabeça e bebe mais um gole de seu copo de café, com os antebraços apoiados nos joelhos e as costas curvadas.

"Não sabe mais o quê?"

Frank balança a cabeça.

"Se ele vai melhorar. Antes, tinha certeza que sim, mas agora? Sinceramente, estou começando a pensar que não."

Suspiro, me esticando para colocar uma mão em seu ombro.

"Não fala isso, Frankie... é claro que vai. Não fique pensando essas coisas..."

"Mikey, ele quer morrer."

Me interrompe, a voz carregada de raiva e mágoa.

"Ele quer morrer, me disse isso. Disse que teve um sonho em que lhe ofereceram a eutanásia e... e ele aceitou. Apenas aceitou."

Mordo o lábio.

"Foi só um sonho... talvez nem seja verdade. Talvez... talvez ele só disse pra medir sua reação. Ele gosta de fazer esse tipo de coisa. Você o conhece."

O garoto balança a cabeça.

"Eu sinto que não. Sinto que... sinto que ele já está desistindo. Por mais que ninguém consiga ver isso, eu consigo. Já se passou quase um ano e o tumor só aumenta."

Assinto e fecho os olhos. Até ele havia desistido.

Quando Frank virou o braço mais cedo, percebi que haviam curativos em seus pulsos. De início, não realmente raciocinei o que aquilo era, mas depois reparei que provavelmente eram cortes. Reparo também que não percebi de início porque tive o privilégio de nunca conhecer alguém que se cortava antes... apenas soube porque às vezes Pete me contava histórias de pessoas que faziam isso, quando nós éramos pequenos. Me disse que as pessoas faziam isso para afastar a dor... mas só conseguiam trazer mais dela para si mesmas.

Eu não sabia muito sobre o assunto, mas sabia que não eram de agora. Digo, os cortes. Isso já vinha acontecendo por um tempo. E isso significava que Gerard também já sabia. Me sinto traído por um segundo por nunca ter me contado, mas então entendi que não era um assunto no qual deveria me meter, portanto apenas mantive minha boca fechada.

O Natal não foi tão ruim assim. Digo, foi tão bom quanto poderia ser, mas pelo menos estávamos todos juntos. Pete estava lá, assim como meus pais, Frank (é claro) e Jamia. Naquele dia 25, eu meio que baixei a guarda com relação ao meu melhor amigo/namorado. Não me preocupei em esconder o que tínhamos, mas também evitava as perguntas. Apenas... baixei a guarda. Pela primeira vez na vida, não realmente me importei sobre o que pensavam de mim e ele.

E quer saber? Foi bom. 

Foi ótimo ficar junto a ele, sem me preocupar com zoações ou perguntas. Foi legal pegar sua mão e sorrir com afeto para Pete. Foi... foi uma sensação de liberdade que nunca senti antes, e por isso entendo porque Gerard ficou tão radiante quando apresentou Bert para nossos pais. Aquilo era apenas... dava orgulho, sabe? Não sabia exatamente do quê, mas dava orgulho.

"O que quer fazer quando a gente chegar em casa?"

Me pergunta, no fim do dia, quando estávamos voltando para a casa. Ele teria o dia seguinte livre por conta do feriado, o que era maravilhosamente animador, mas de um jeito gloriosamente preguiçoso. Significava que não tínhamos hora para levantar da cama... significava que nem precisávamos, se lembrarmos de levar comida para a cômoda ao lado da cama antes de dormirmos.

"Banho e cama?"

Pergunto, ele sorri.

"Banho e cama."

I Slept With Someone In Fall Out Boy And Was Cheated On | PetekeyOnde histórias criam vida. Descubra agora