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CAPITULO 3

—Você vai amar aquela cidade, prometo Lana. —ele diz com um entusiasmo que me desanima completamente.

Ele já falou isso umas 10 vezes só na viajem de carro até o aeroporto. Porra, será que ele não vai parar?

Demora mais ou menos 50 minutos para chegar ao aeroporto de Nova Jersey, e meu voo para São Francisco sai as 7:00 da manha. Odeio ter que acordar tão cedo, principalmente quando é pra ir viajar pro meio do areal da Califórnia. Minha mala é pequena, não tenho tantas roupas tropicais assim, então receio que vou ter que comprar lá. Merda

Na noite de ontem meu pai quase chorou quando eu decidi ir sem relutância, conversou comigo e tentou me convencer de que lá é um lugar legal, mas eu sei que ele só esta me mandando pra lá porque o máximo de diversão que existe naquele lugar é pegar uma onda de 10 metros. Pra eles isso é como se embebedar e se jogar no meio do zoológico com leões. Já estou sentindo falta da minha querida Empire Roof Top, nunca vou esquecer aquele lugar nostálgico e as bebidas maravilhosas de lá.

Meu pai ficou falando durante todo o trajeto até o aeroporto sobre respeitar minha tia, e que eu deveria tentar me adequar ao lugar. Chorou quando disse que eu iria precisar ser forte quando visse algo que me fizesse lembrar da mamãe (como se eu precisasse ver alguma coisa pra chorar).

Odeio praia, nunca me senti confortável de verdade lá. As poucas vezes que fui normalmente eram nas férias de verão, eu ia junto com meus pais, mas nunca ficávamos até o final porque meu pai sempre tinha que voltar por causa de algum problema que aparecia no trabalho.

Era triste ficar lá e ver meus pais discutindo e sempre ser obrigada a ficar no quarto tapando os ouvidos. Minha mãe ia pra lá com a intensão de relembrar os bons momentos, já que ela e meu pai se conheceram naquela praia á 26 anos atrás, mas ela acabava frustrada e magoada, criando assim memórias ruins que substituíam as boas.

Agora eu estou voltando pra lá, sozinha, e sei que vai ser difícil relembrar tudo aquilo.

A minha maior intensão é me aproximar do passado de minha mãe, saber como ela era antes de se casar e de ter que se mudar pra cidade grande e ter uma vida ao lado de um homem milionário. Me pergunto se ela era feliz ou se era isso que ela queria...

Acredito que tudo vai dar certo e vou poder finalmente superar a perda e recomeçar ou tentar continuar. Vai ser difícil gostar daquele lugar e mais difícil ainda fazer amizade com alguém, duvido que eles queiram se aproximar de alguém como eu, que veio da cidade grande. Provavelmente vou ser vista como a mimada, filinha de papai, nojenta e insuportável. Já consigo imaginar o desastre que vai ser.

Ao chegar no aeroporto, faço meu check—in. Meu pai vai até a cafeteria comprar algo para eu comer e eu decido ir ao banheiro. Lavo meu rosto e fico por um tempo me olhando ao espelho.

Não queria que as coisas chegassem nesse ponto. Eu tinha um futuro preparado e feito somente para mim, tudo pronto. Nunca quis me tornar essa pessoa, jamais quis fazer meu pai sofrer tanto. A última coisa que eu pensei foi em largar tudo de mão e viver uma vida sem controle, aonde o álcool se tornou minha fuga da realidade que é difícil demais para ser aceita. Esses 5 meses voaram, mal me lembro das coisas que aconteceram e dos dias que passaram, só lembro de largar a escola e meus amigos, começar a sair e parar de pensar demais nas coisas, só fazer e deixar ir, foda—se o resto. Agora me encontro em um estado psicológico totalmente desequilibrado, sem ninguém, somente com minha própria consciência que —pra ser honesta— nem eu mesma confio muito.

Sinto meu celular vibrando em meu bolso, pego e vejo que é meu pai me ligando.

—Alô?— digo com a voz um pouco embargada

—Lana, aonde você está? Seu voo sai em 5 minutos!—ele fala com um tom de desespero. Acho que ele pensou que eu tivesse fugido

—Já estou indo! Estava no banheiro. —desligo e vou correndo até a sala de embarque.

Meu pai está parado lá me esperando com uma sacola com o que parece ser salgadinhos e latas de refrigerante.

—Desculpa, eu acabei perdendo a noção do tempo no banheiro. —digo com vergonha e torcendo para ele não prolongar esse assunto.

—Tudo bem querida. Achei que você tivesse fugido —jura?

—Ah claro! Com certeza! —digo com tom de deboche

Nós nos despedimos com um abraço caloroso e algumas lágrimas, mas só da parte dele. Entro no avião e começo a caçar meu lugar. Demoro um pouco, mas finalmente o encontro. Então eu guardo minha mochila e me sento.

A viajem até o aeroporto de São Francisco dura quase 6 horas, e mais 1 hora de carro até Stinson Beach, ou seja, vai ser uma longa viagem.

Antes mesmo de o avião decolar eu já estou com minha máscara para dormir, meus fones e meu travesseiro de viajem, pronta para passar as 5 horas de voo em um sono profundo. Fecho os olhos e ligo a musica, mas quando estou quase pegando no sono sinto um empurrão de alguém que se sentou ao meu lado, tiro a máscara e vejo o menino incrivelmente bonito e todo desengonçado que está ao meu lado.

—Desculpa, eu te acordei né. Foi mal, eu sou muito desastrado. —ele diz tentando se arrumar na poltrona.

Fico paralisada, sem conseguir dizer ou pensar em uma resposta, porque o menino que está ao meu lado é idêntico ao menino dos meus sonhos.

Maré De EmoçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora