Maré De Emoções

10

– Uma hora nós vamos ter que conversar sobre isso, Lanna. – Jane está parada na porta do quarto me olhando com uma cara de cachorrinho abandonado que não me engana nem um pouco.

Depois que Mateo me contou toda a verdade, nós voltamos para casa. Jane conseguiu arrumar o nariz dele, e logo depois que ele foi embora eu fui para o quarto e fiquei por lá. Não troquei uma palavra com Nate ou Jane, esperando que eles começassem a se explicar e me contassem a verdade. Dois dias já se passaram, e só agora Jane decide falar sobre o assunto.

Paro de arrumar minhas roupas e olho no fundo de seus olhos.

– Vocês cavaram suas próprias covas, você e minha mãe. Uma cavou tão fundo que não conseguiu achar o caminho de volta pra realidade e ficou por lá mesmo, a outra ainda consegue ver a luz quando olha pra cima. Quem é quem nessa historia Jane?— falo em um tom ameno e observo o choque, a surpresa e por fim a dor passarem pelo rosto de Jane.

– Eu me arrependo do que aconteceu mais do que você pode imaginar. Eu tentei falar com sua mãe, convencer ela a te contar o que aconteceu, mas ela não deixou, foi me afastando de você cada vez mais. O que você esperava que eu fizesse?— o que Jane disse me fez repensar sobre a culpa dela nessa história, e acabo percebendo que ela não passa de uma vitima.

A parte difícil vai ser aceitar que minha mãe tem quase cem por cento de culpa.

– Por que ela não queria que eu soubesse?— Jane suspira alto e passa as mãos no rosto repetidas vezes.

– Lanna, quando sua mãe estava no leito de morte, ela me contou sobre seu passado, e me fez prometer que só iria contar a você quando fosse a hora certa, quando você estivesse pronta. – os olhos de Jane estão marejados e sua voz sai embargada.

– Então pode me contar, eu estou pronta. – aguardo Jane falar, mas ela volta a encarar o chão.

Uma parte de mim está curiosa para saber a verdade e insiste em dizer que estou pronta para o que vier, mas a outra parte diz que eu não estou pronta para o que está por vir.

– Allana, você não está pronta. É a sua curiosidade falando, não seu coração. – eu não reajo ao que ela fala, simplesmente por saber que ela está certa.

Jane se aproxima de mim e segura minhas mãos.

– Lanna, sua mãe te amava, muito. Não tenha raiva dela, por favor. Ela fez isso porque te amava. – solto minhas mãos das dela rapidamente e me afasto, encarando-a.

– Não vem com esse papo de que ela fez isso por mim e blá blá blá. Ela fez isso por si mesma, pensou somente nela. Ela não pensou em mim em momento algum, Jane. Agora eu entendo de onde surgiu o câncer, depois de tantos anos guardando esse monte de mentiras para si mesmo, já era de se esperar que fosse fazer algum efeito na saúde dela. Ela mesma se matou, e eu tive que ver tudo isso de perto. Então não vem querer aliviar o lado dela, porque ela sabia o que estava fazendo e sabia que estava errada. – jogo todas as palavras em Jane, na esperança de que ela entenda a gravidade das mentiras de minha mãe e o peso que elas têm em minha vida.

Esses segredos e mentiras tem que acabar de uma vez, só assim eu vou conseguir seguir em frente. São essas mentiras que estão me prendendo neste ciclo vicioso de dor e sofrimento, e eu não vou aguentar isso por muito mais tempo.

– Lanna, eu nunca disse que concordava com o que sua mãe fez, mas ela teve seus motivos, como sua mãe, ela fez o que achava certo para te proteger, e quando você estiver preparada, quando você engolir esse orgulho e parar de ter pena de si mesma, ai eu conto para você toda a verdade. Então amadureça, saia dessa casa e vá atrás da sua felicidade. Você veio para cá para amadurecer, e não para ficar agindo como uma mimada que tem tudo o que quer na hora que bem entende. Cresça Lanna. – Jane sai do quarto, batendo a porta atrás dela, e eu fico parada absorvendo suas palavras.