CAPITULO 5
Consegui dormir durante toda a viagem, felizmente. Ouço a voz da aeromoça dizendo que logo vamos pousar. Olha para o lado o vejo dormindo tranquilamente, mas agora esta com baba escorrendo no canto da boca. Sem querer acabo dando uma risada bem baixa — mas não baixa o suficiente —, ele resmunga baixinho, se espreguiça e acorda. Eu rapidamente viro para a janela e finjo que estou apreciando a vista.
—Você sabe me dizer se estamos chegando ?— Puta que pariu
—Como? —finjo que não entendi sendo a covarde que sou
—Estamos chegando?—ele diz com a voz de sono se aproximando de mim
—Hã... Sim! Estamos sim!—porra, qual é o meu problema?
— Ahh, que bom! Obrigado!—
Faço um curto "sim" com a cabeça e volto a olhar pra janela.
Isso não tem como ficar mais esquisito
—Nós já nos conhecemos antes? Tenho a impressão de que te conheço de algum lugar. —ele diz apertando os olhos, como se tentasse me enxergar melhor.
Falei cedo demais. Caralho caralho caralho
—Acho que nunca te vi na vida— tento falar com o tom mais descontraído possível mas acaba saindo com um tom desesperado
Fudeu Fudeu Fudeu
— Hum. Devo estar ficando doido então! Desculpa— ele diz rindo
— Sem problema— minha voz sai igual a de uma pessoa que acabou de se recuperar de um engasgo.
Volto a olhar para a janela, coloco meus fones, e deixo o The Weeknd gritar a vontade no meu ouvido. Seu eu olhar pra ele agora as minhas bochechas vermelhas vão revelar a mentira.
Será que ele também sonha comigo? Meu Deus, que vergonha!
Quase choro de felicidade quando a aeromoça anuncia que pousamos. Demorou em! Todos os passageiros começam a levantar, mas eu decido esperar um pouco para não ter que esbarrar com ele, de novo . Quando vejo que ele já foi, me levanto, pego minhas coisas e saio.
Vou até a área de desembarque para pegar minhas malas. Fico esperando o que parecem ser horas até minhas malas aparecerem. Pego todas, coloco no carrinho e saio.
Ao sair, tomo um susto ao perceber que o garoto que sentou ao meu lado está parado perto a porta me encarando com olhos arregalados.
Ele me reconheceu!
Apresso meus passos e vou quase correndo para a área aonde tem os acentos de espera. Me sento e tento recuperar o folego. Será que ele realmente sonha comigo também? As possibilidades de esse garoto ser real eram quase inexistentes, mas como eu tenho muita sorte, ele aparece no mesmo voo que o meu e no acento ao meu lado. Agora só falta ele ir pra mesma cidade que a minha.
Cala boca! Não pensa senão acontece! INFERNO!
Olho em volta procurando por ele, mas não o vejo em lugar nenhum. Tomara que já tenha ido embora. Pego meu celular na minha bolsa e ligo para minha tia. Ela atende no 2 toque:
— ALO! ALO!— tenho que afastar o telefone do ouvido por causa dos berros
— Oi Tia Jane. Eu já cheguei no aeroporto— tento esconder o desconforto na voz mas é impossível
— Eu estou aqui fora te esperando. Um carro azul— ela diz gritando de novo
Será que ela fala assim o tempo inteiro?
— Ok, já estou indo. — desligo e vou andando até a saída
Essa caminhada até o carro, por mais curta que seja, para mim é a mais longa de toda a minha vida. Agora não tem mais como fugir. Eis aqui minha ultima chance. Minha ultima chance de recomeçar, de arrumar tudo que desarrumei na minha vida. Vai ser difícil, disso eu tenho certeza. Não sei se vou conseguir evitar ser grossa ou de falar algo que não devia. Vai ser cansativo.
Olho para o céu por um instante, de um azul claro perfeito, com poucas nuvens. Procuro o carro no estacionamento, e logo avisto ele com minha tia buzinando e gritando pela janela. Que merda...
Vou andando de cabeça baixa, rezando para ela parar. Ela sai do carro e vem correndo de encontro a mim.
—ALLANAAAAAA! Que saudade de você! Minha sobrinha favorita vai morar comigo!—ela diz literalmente aos berros
É, ela só fala desse jeito.
— Oi tia Jane. Também senti saudades. — digo me afastando do abraço sufocante dela.
—Você está linda! Olha como cresceu!— ela aperta meu rosto e passa as mãos em meus cabelos. Ela se afasta e vai até o porta-malas.
—Vem. Vamos guardar suas malas— ela diz dando pulinhos de alegria.
Alegria nada contagiante
Permaneço em silêncio ate entrarmos no carro. Me sento e abro a janela ate o fim.
— Seu primo Nate não pode vir, teve que ir pra escola. Ele esta morrendo de saudade! Lembra quando vocês brincavam o dia todo na praia? Faz tantos anos que... —deixo de escutar a partir dai.
Mal pisei na Califórnia e ela já vem com picuinha sobre o passado.
Será que ela não se toca?
—Lanna? Está me ouvindo—volto à realidade e percebo que estamos passando por uma beira de praia.
—Oi. Acho que cochilei—minto descaradamente
—Estamos quase chegando. Olha essa vista linda!— ela diz apontando para o oceano
Ela começa a falar sobre o clima ate chegarmos a casa.
Será que em algum momento ela vai parar de falar? Mas que merda.
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Maré De Emoções
RomanceApós a morte de sua mãe, Lana (Allana) desiste de seu futuro e começa a viver em um mundo mágico e agitado, aonde suas noites são feitas por luzes piscantes, bebidas caras e meninos ricos na famosa cidade de Nova York. Seu pai, um homem já de idade...