9

38 2 0
                                    

Sigo Mateo até a parte de trás da casa em silêncio, ele começa a descer as escadas que eu nem havia percebido que tinha bem no fundo do quintal.

A escada de madeira é antiga e range alto em cada degrau que desço. Mateo olha para trás e ri da minha cara de pânico.

— Para de rir. Se essa escada quebrar e eu cair, é morte na certa.— falo finalmente colocando os pés na areia da praia. O alivio é instantâneo.

Fico encarando Mateo, esperando ele começar a falar. Ele suspira alto.

— Vamos andar um pouco. Vem.— ele diz estendendo a mão para mim.

Olho para ele pensando se devo ou não pegar sua mão. Ele parece entender a confusão em meus olhos e abaixa a mão, se vira e começa a andar.

Acelero os passos e alcanço ele, ficando ao seu lado com as mãos atrás das costas. Ficamos assim pelo o que parece ser uma eternidade, em silencio, sem olharmos um para outro e encarando o chão.

A areia aos nossos pés está molhada e com um tom laranja, refletindo o céu. Levanto os olhos para ver o céu e quase caio no chão com a imagem que vejo na minha frente.

O pôr do sol cobre todo o horizonte com tons degrade de laranja. Mais perto domar o laranja é de um tom intenso , e já mas para o céu infinito ele se encontra em um tom quase amarelo. O sol está bem no meio, refletindo sobre a água e em volta do sol nuvens pesadas e laranjas.

Sinto uma onda de emoções subir sobre meu corpo, um arrepio. Primeiro sinto uma tristeza e sinto meus olhos se encherem de água, depois a felicidade inunda minha mente e sem querer solto uma risada, e por último conforto, sinto meu corpo flutuar e fecho os olhos para , afim de deixar essa sensação presente pelo maior tempo possível.

A emoção é tanta que coloco a mão no coração para ter certeza de que ele ainda está batendo. Quando olho para Mateo o vejo me encarando com um sorriso nos lábios.

— Desde pequena você tem sempre a mesma reação.— seus olhos são afetuosos.

Com leveza, ele enxuga a única lagrima que caiu de meu olho, pega minha mão e me puxa em direção à água, me levando para dentro do mar. O toque de sua mão na minha trás uma onda de calor que se espalha por meu braço e sobe para o meu corpo, mas a sensação some quando ele solta minha mão no momento em que a água começa a bater em nossos joelhos.

A falta de contato me faz sentir uma súbita saudade, que de inicio para mim foi uma surpresa, então encaro o mar e evito seus olhos.

Não consigo entender essa conexão imaginaria que existe entre mim e Mateo, mas algo me diz que estou prestes a entender.

— Você se lembra de suas viagens de verão com seus pais aqui?— ele pergunta encarando o horizonte.

— Sim e não. Só o que lembro são flashes. Não me lembro de muita coisa. — a tristeza ainda arde em meu peito, então tento afastar ela, mas sem sucesso.

— Esses flashes. O que você lembra exatamente?— ele agora olha para mim, mas rapidamente desvia o olhar.

— An... Eu correndo na praia, nessa mesma praia para falar a verdade, rindo atoa. Meus pais brigando e gritando, eu chorando no colo de alguém. Nate implicando comigo. Só isso, por enquanto. — as palavras saem quase num sussurro.

—Você se lembra de ter se machucado alguma vez?— paro para pensar em sua pergunta e começo a me lembrar de algumas coisas. Meu pai me carregando no colo, minha roupa suja de sangue, uma mão segurando a minha, uma luz branca forte.

— Acabei de me lembrar de uma vez, sim. Mas não me lembro do que aconteceu exatamente — sussurro, fitando a água, assustada com essa nova lembrança que até então não existia para mim.

Maré De EmoçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora