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— Chegamoooooos!— ela realmente só fala gritando

Desso do carro em silêncio e observo a casa. Pequena, toda pintada de um azul céu forte. De madeira antiga, com um pequeno deque de madeira na entrada.

A maresia é forte aqui, o cheio me trás uma sensação nostálgica. Ando ate a parte de trás da casa, e observo o mar. A casa fica bem na frente da praia, o barulho das ondas é alto. Me pergunto se vou conseguir dormir com esse barulho.

—Lindo né. Morar aqui é um privilégio. É como tirar férias permanentes!— ela diz com a voz baixa.

Então ela sabe falar baixo?

—Lindo mesmo— falo bem baixo.

A vista é perfeita. A casa fica um pouco acima da praia, dando uma vista panorâmica do oceano infinito.

—Vamos entrar. Vou te mostrar seu quarto — ela me puxa pela camisa e me arrasta pra dentro.

A sala é grande, com um sofá também azul de 2 lugares e uma televisão na frente. A cozinha fica do outro lado, equipada com um fogão que provavelmente poderia colocar fogo na casa a qualquer momento, a mesa de jantar redonda de mogno com 6 cadeiras fica ao lado.

—Tinha um quarto sobrando que o Nate usava pra guardar as pranchas dele. —ótimo, agora o Nate surfa.

Subimos as escadas, e ao passar pelo corredor vejo varias fotos nas paredes, e percebo que tem algumas marcas de retratos que parecem ter sido tirados de lá. Provavelmente são os da minha mãe. Não falo nada, e a sigo até o quarto.

O quarto é pequeno, e tem um cheiro forte de maresia. O chão é de madeira escura como toda a casa, com uma escrivaninha antiga de madeira logo na entrada no quarto, encostada na parede. Uma cama de solteiro do outro lado, e um guarda roupa médio ao lado da porta. A janela é grande com vista para a praia. As paredes são brancas, com pichações de ondas e pranchas no teto e um ventilador.

—Isso é coisa do Nate e dos amigos dele. — ela diz rindo

Ótimo, além de surfista é demente...

—Vou deixar você arrumar as suas coisas e vou lá pra baixo preparar alguma coisa pra você comer. — ela diz colocando minhas malas no chão

—Tudo bem—digo me sentando na cama

Ela me olha por um momento antes de sair do quarto, seus olhos são tristes. Imagino a pena que ela deve sentir de mim.

Depois que ela sai, eu me levanto e fecho a porta. Deito na cama para tentar dormir um pouco. Estou exausta, não durmo direito desde a noite de sexta, e já é domingo à tarde. Pego meu celular, e ligo a internet. Varias mensagens chegam na mesma hora, algumas dos meus colegas de balada, uma do burguês nojento de sexta (apago essa na mesma hora), e outras do meu pai. Merda, esqueci de ligar pra ele. Aperto o botão para ligar, e cai direto na caixa de mensagens. Ainda bem, não estava afim de conversar com ele mesmo. Desligo o celular, e me aconchego no travesseiro. Se meu pai quiser falar comigo ele se vira e liga pra Jane.

Tem alguém me chamando:

—Lana! Lana! Acorda!—é a voz dele

Abro o olho e o vejo parado na porta do meu quarto. Tento falar com ele, mas percebo que estou sem voz, então tento me levantar mas não consigo me mexer. Ele vem em minha direção, com os olhos arregalados, falando algo que não consigo entender. Fecho os olhos por um instante, e quando o abro, ele esta bem na minha frente, com seu rosto colado ao meu.

—Lana, você tem que lutar. Tem quem lutar, entendeu? Lana, acorde!—ele diz desesperado, me sacudindo pelos ombros.

Então ele cai no chão e começa a se contorcer, agonizando. Sangue começa a escorrer de sua boca, ouvido, nariz. Então ele começa a se transformar, em alguma coisa, não, em alguém. Ele se transformou nela, na minha mãe.

—Allana, eu te amo—ela diz ainda no chão, mostrando os dentes afiados.

—Allana, meu amor, não tenha medo—ela fala se levantando e dando passos curtos até mim.

—Não. —consigo dizer com a voz fraca, quase inaudível.

—SIM—ela diz avançando em mim e me atacando

—ALLANA!—acordo com Jane balançando meus ombros

— NÃO! NÃO! — grito me debatendo e me afastando ela achando que ainda é minha mãe. Acabo caindo no chão e batendo a cabeça — PORRA! — a dor é insuportável, e sinto minha visão escurecer.

—Lana, você esta bem? Ouvi seus gritos e vim correndo. — ela diz se ajoelhando ao meu lado

Eu não digo nada, não me mexo. Estou apavorada. Esse sonho foi diferente, totalmente diferente. Você tem que lutar... Lutar? Porque ele disse isso? Porque dessa vez o sonho foi nesse quarto? O que tem de errado com esse lugar? Porque ele continua aparecendo...

—Allana!— Jane me chama interrompendo meus pensamentos

— Não conta pro meu pai.— a única coisa que consigo falar é isso. Minha voz esta rouca. É a primeira vez que isso acontece.

Se ela contar ao meu pai que sonhei de novo ele vai ligar e ficar perguntando sobre os sonhos. Não quero ele se preocupando e nem me enchendo o saco.

— Tudo bem. Ele já tinha me avisado sobre isso, mas não sabia que era tão intenso desse jeito. — Jane diz acariciando meu rosto.

— Como assim tão intenso? — digo me levantando

— Você está gritando assim a 2 horas. — o que?

— O que?! Porque você não me acordou? — falo exasperadamente

— Eu tentei, mas você não se mexia. Gritava, mas não se mexia. — Jane diz e se senta na cama

Está ficando pior. Tenho que fazer alguma coisa em relação a isso. Tenho medo de ate aonde isso pode ir.

—Mãe?— ouço Nate gritar no andar de baixo

— Estou indo. — ela grita pra ele — Vem, vamos descer querida. — me levanto e sigo

Estou exausta. Nem parece que eu acabei de dormir por 2 horas, esse pesadelo me deixou mais cansada do que eu estava.

—Primaaaaaa!— Nate grita quando chego ao andar de baixo e vem correndo me abraçar.

— Oi. — é apenas o que consigo dizer antes de ele me amaçar em um abraço apertado.

— Que saudade! Cara, vai ser muito bom ter você aqui. Finalmente vou ter mais alguém pra perturbar além do Matt— ele diz ainda me apertando

— Não consigo respirar— digo em meio ao sufoco tentando me soltar dele. Ele me solta rindo, e vai para a sala.

— Quem é Matt? — pergunto deixando minha curiosidade falar mais alto

— Esse é o Matt. — ele diz apontando para um menino alto parado ao lado da porta da frente, de braços cruzados, me encarando. Tomo um susto ao perceber quem ele é.

O garoto que a menos de 10 minutos estava assombrando meus sonhos, está agora parado na minha frente me observando com olhos arregalados.

E antes de conseguir perceber o que esta acontecendo, já está ficando fraca e desmaiando bem na frente dele. 

Maré De EmoçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora