Capítulo 1

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''Geralmente do tipo humilde, mas ele não pode negar, ele nasceu para te enlouquecer ou algo assim (...) '' – Miracle Aligner (The Last Shadow Puppets)


Arabella

Eu tinha acabado de voltar do almoço e havia um texto enorme na tela do meu computador à minha espera para ser revisado, a matéria daquela semana era sobre sapatos de inverno e tendências e tinha me feito me desdobrar em duas durante todo o final de semana em pesquisas.

Ultimamente eu vinha me questionando como acabei ali escrevendo artigos de moda para uma revista importante do ramo. Não é que eu não gostasse de moda, apenas não me considerava a pessoa mais apta a falar sobre o assunto o que as vezes fazia com que eu acabasse abusando um pouco da minha criatividade e de todo o meu tempo em meio a pesquisas, no final a única recompensa que recebia era me esquecer de todas as minhas preocupações, principalmente as que envolviam meu pai.

Meu pai havia sofrido com a morte da minha mãe quando eu era apenas uma garotinha, ele a amava tanto quanto eu e no início não havia lidado muito bem com o fato de que a partir dali seriam apenas eu e ele no mundo. Ele passou a consumir álcool mais do que deveria e isso desencadeou todas as doenças que ele enfrentava agora. A verdade era que eu jamais conseguiria não me preocupar com ele, embora eu tivesse saído de casa quando ele insistiu que eu deveria fazer uma faculdade e começar a cuidar de mim mesma ainda existia uma necessidade que me dizia para ligar sempre que possível para saber que ele estava bem sem mim.

Saber que meu pai estava bem era o que me mantinha sã.

Horas atrás enquanto tirava minha hora de almoço tínhamos nos falado por uma ligação, como em todos os últimos tempos em que eu vinha ficando cada vez mais ocupada com o que as pessoas chamam de vida adulta. Eu queria ter mais tempo para poder visita-lo e a única coisa me tranquilizava era que ele tinha Beth, a sua enfermeira e amiga da família pelo menos até as oito da noite. Mas ainda assim não conseguia me acostumar com o fato de que não podia cuidar dele pessoalmente, porque meu pai era teimoso e insistia que eu tivesse uma vida além de me preocupar com ele.

Uma mensagem chegou em meu celular, era do meu melhor amigo e segundo homem da minha vida com quem eu dividia um apartamento e milhares de histórias.

Aaron: Quando voltar para casa traga meu sorvete, por favor.

Arabella: Morango com pedaços de frutas vermelhas, certo?

Aaron: Amo você.

Ele provavelmente havia terminado com mais um de seus namorados.

Ouvi uma batida leve no vidro divisor do escritório, era uma das garotas da correspondência arrastando o seu carrinho cheio de envelopes e caixas bagunçadas.

- Arabella certo? – ela sorriu para mim pegando uma caixa de tamanho consideravelmente grande de seu carrinho – Esse é seu.

Ela veio até minha mesa e colocou a caixa sobre.

Aquilo era estranho, eu geralmente não recebia correspondências no escritório e quando recebia não passavam de envelopes pequenos e desinteressantes.

Olhei com suspeita para a caixa, quem havia enviado aquilo? Examinei e não havia remetente algum. Meus olhos percorreram todos os lados do escritório para me certificar de que não havia ninguém ali a fim de fazer algum tipo de pegadinha comigo, mas a verdade era que eu estava completamente sozinha.

Analisei a caixa e tirei o embrulho que a cobria revelando outra embalagem, de uma loja de grife que eu jamais havia colocado os pés. A marca era conhecida por produtos nada baratos e eu ainda não havia atingido o nível profissional que me permitisse me dar ao luxo de comprar nem ao menos uma meia daquele lugar. Comecei a pensar que a garota da correspondência simplesmente havia errado a entrega, mas meu nome estava na etiqueta.

COME AS YOU AREOnde histórias criam vida. Descubra agora