Capítulo 30

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''Te amar foi juvenil, selvagem e livre. Te amar foi legal, e quente, e doce. Te amar foi luz do sol, foi estar sã e salva, um lugar seguro para baixar minha guarda, mas te amar teve consequências.'' – Consequences (Camila Cabello)

Arabella

Naquela manhã quando sai para o trabalho não imaginava o que seria exatamente do resto do dia como sempre, me incomodava não saber o que aconteceria em cada dia que se passava da minha vida. Era como se eu dependesse das horas, dos minutos, dos segundos e da própria sorte a todo momento.

Sai algumas horas mais cedo porque tinha me comprometido a alguns meses com uma biblioteca pública infantil da cidade a ir pelo menos uma vez por mês fazer a leitura de algum livro para as crianças carentes que frequentavam o local. Meredith minha chefe não se importava, na verdade ela até havia se interessado em fazer doações para instituição o que tinha me deixado extremamente feliz.

Eu até mesmo tinha algumas ideias para apresentar a ela sobre um evento de natal para as crianças.

Aaron me mandou mensagens assim que eu tinha saído da biblioteca perguntando onde eu estava e se podíamos ir ao mercado fazer as compras do mês e para a minha festa de aniversário. Eu geralmente gostava de fazer algo no mesmo dia em que se comemorava os meus anos de vida, mas, naquele ano não tinha tido tempo de me programar de verdade e ainda assim Aaron insistia que devíamos fazer algo mesmo que atrasado e acabou se encarregando de tudo.

A primeira ideia era me levar para uma balada, o que recusei porque não era muito de festas e a última que ele tinha me levado tirando seu aniversário havia sido um completo desastre, embora ele conhecesse maravilhosas casas noturnas gays das quais eu poderia me divertir um pouco eu preferia o conforto do nosso apartamento pizza, bolo e alguns velhos amigos.

Era o bastante.

Encontrei com ele no mercado e acabamos comprando mais comida do que realmente precisávamos como de costume e quando voltamos para o nosso apartamento havia um pacote de plástico em frente a nossa porta sobre o tapete de boas-vindas.

- Achei que tivesse cancelado essa porcaria de revista – Aaron pegou o pacote em meio a sacolas do supermercado enquanto entravamos para dentro do nosso apartamento e jogo sobre o balcão junto as sacolas.

- Eles ainda estão cobrando de você? – perguntei enquanto tirava as compras das sacolas para guardar nos armários.

- Provavelmente – ele deu de ombros despreocupado – Eu não andei checando no último mês.

- Você deveria dar uma olhada.

- Sim, mas, primeiro preciso ir no banheiro – ele saiu correndo como uma criança que precisava desesperadamente fazer xixi o que me fez rir.

Enquanto ia tirando as coisas das sacolas acabei pegando a revista ainda embalada no pacote transparente e um adesivo com o remetente em nome de Aaron. Era uma revista de fofocas sobre o mundo dos famosos e algumas futilidades a mais, não entendia por que Aaron tinha assinado aquele tipo de conteúdo anos atrás.

Ele nem ao menos lia revistas direito e naquele momento eu gostaria não ter lido o que havia sobre a capa como um dos destaques.

Celebridades e seus relacionamentos abertos: Scott Miller a nova sensação do mundo do rock é visto com a namorada do DJ Miles Dowson em clima de intimidade.

Aquela era uma chamada bastante sensacionalista típica de revistas daquele gênero e não teria me surpreendido tanto se não envolvesse alguém que a poucos dias atrás estava na frente da porta do meu apartamento dizendo que sentia a minha falta e eu acreditei.

Meu coração parecia ter parado por milésimos de segundos e quando me dei conta eu já estava rasgando o plástico transparente e abrindo a revista em meio a matéria.

Dentro me deparei com fotos de Scott com Emma e eu simplesmente não sabia ao certo como reagir. Quando conversamos sobre os seus dias em Nova Iorque ele conseguiu se esquivar e em momento algum deu indícios que havia estado com ela ou com qualquer outra pessoa além de seu amigo Jesse.

Mal podia acreditar no que eu estava vendo e sentindo naquele exato momento. Meu peito doía, uma dor insuportável como se ele próprio estivesse ali cravando uma faca em direção ao meu coração ou a qualquer órgão vital.

Ele sorria para ela e ela estava tão próxima dele em uma das imagens perto de um bar que me fez sentir náuseas, simplesmente fechei a revista sem saber o que fazer ou o que pensar.

Queria chorar e me segurei para que aquilo não acontecesse porque sabia que Aaron estava voltando, olhei para ele assim que ele pisou os pés na cozinha e não sabia o que dizer.

- O que aconteceu? – ele me olhou desconfiado.

Minhas mãos entregaram a revista para ele.

Aaron voltou seus olhos para capa e então leu atentamente e a abriu com calma como se estivesse em meio de uma pesquisa cuidadosa, mas não demorou muito para que ele largasse a revista com certa raiva sobre a bancada e voltasse seu rosto para mim.

- Porra – ele praticamente gritou, eu queria poder fazer aquilo gritar, mas não conseguia colocar nem ao menos em xingamentos o que estava sentindo por dentro – Sabe são apenas fotos e uma chamada sensacionalista de merda.

Ele tentou argumentar, mas já era tarde demais. Eu não podia simplesmente fingir que não tinha visto aquilo.

- Bella... – Aaron se aproximou de mim.

- Ele é um imbecil – fechei meus olhos que pesavam com a sensação de que lagrimas poderiam cair a qualquer momento – E eu sou tão idiota.

- Bella, não, você não é idiota de maneira alguma – senti as mãos de Aaron pelos meus ombros me puxando para si – Se ele fez o que a porcaria dessa revista sugere que fez. Caralho, sim ele é um imbecil ou melhor um filho da puta imbecil que não merece uma lagrima se quer sua, então por favor não faça isso.

Suas palavras foram um gatilho para que as lagrimas viessem, por mais que não quisesse e tentasse parar. Quando as pessoas dizem pare de chorar ou não chore e não faça isso nunca ajuda, apenas piora a sensação.

Eu não era do tipo que costumava chorar na frente dos meus amigos ou de qualquer outra pessoa, era algo extremamente complicado para mim. Chorar em frente alguém era se permitir ser vulnerável e eu odiava me sentir assim, mas a dor dentro do meu peito era maior do que qualquer vontade de erguer meus muros de defesa.

Aaron me envolveu em meio aos seus braços largos me fazendo sentir como uma garotinha pequena em meio ao irmão mais velho. Respirei fundo tentando me acalmar. Eu nunca esperei que aquilo viesse a acontecer comigo, queria acreditar que Scott poderia ser diferente e realmente gostaria de não ter posto todas as minhas expectativas nele, mas eu já havia feito aquilo.

Na verdade, no fundo eu esperava que a qualquer momento que algo desse errado entre nós porque eu não tinha sorte com o que todos chamam de amor, mas não esperava que doesse tanto quanto doía naquela hora.

A decepção era a causa dos corações partidos no final.

- Se ele aparecer por aqui, por favor, invente uma desculpa – sussurrei em meio a um soluço – Eu não o quero ver.

Aaron assentiu.

Eu já havia me decepcionado com muitas pessoas ao longo da minha vida e aquela não seria a primeira vez, mas, ainda assim não conseguia me sentir menos ruim com toda a situação.

Dentro do bolso da minha calça jeans, meu celular emitiu um alerta de mensagem no visor vi o nome dele.

Ignorei e desliguei o celular antes que ele me ligasse, porque Scott era do tipo que ligava e eu costumava adorar isso, mas agora a únicas coisas que conseguia sentir era indiferença.

Enxuguei meu rosto nas minhas próprias mãos e segui um caminho direto até o meu quarto sabendo que as lágrimas viriam mais tarde mais uma vez e eu teria que lidar com aquilo até o momento em que meu peito parasse de doer.

Queria poder dizer que ainda acreditava em contos de fadas.

Queria escolher o amor, mas, a raiva me consumia.

COME AS YOU AREOnde histórias criam vida. Descubra agora