Capítulo 5

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         " Liriane"

O3:00 da manhã.

Não conseguia nem fechar os olhos, passei o tempo todo a vaguear pela casa da Nina até me acomodar na sala. Há 3 dias ela comprou um apartamento, acho que ela estava a pensar em fixar-se aqui.

Tinha 2 quartos, uma sala e uma cozinha americana. Eu ajudei um pouco na decoração, embora não tenha sido necessário muito esforço, visto que ela adquiriu o imóvel já mobiliado.

A quietude do apartamento àquela hora da madrugada destacava-se, assim como os pensamentos inquietos que não permitiam o repouso.

Eu estava junto à janela, contemplando o céu com seu infinito repleto de estrelas, completamente perdida nos meus pensamentos.

Devia ter ficado no meu apartamento, pelo menos saberia se ele dormiu lá ou se dormiu com aquela oxigenada. O peso da incerteza envolvia-me como uma névoa densa, obscurecendo a claridade das estrelas, enquanto eu lutava para decifrar o que aconteceu e as escolhas que fiz. A janela, normalmente um portal de serenidade, tornou-se um reflexo sombrio das dúvidas que assombravam a minha mente.

Nem devias te importar com o que ele faz. És mesmo uma tola.

— Não consegues dormir? — quase pulei de susto, ao ouvir a voz da Nina.

— Que susto Nina! — exclamei, com a mão no peito. Riu da minha expressão, e acabei por rir com ela.

— Vou fazer um pouco de brigadeiro —informou, dirigindo-se à cozinha.

— A essa hora? — segui-a.

— Já que não consegues dormir e eu estou sem sono, podemos aproveitar — começou a mexer nos armários de cima, à procura de algo.

— Ok então — sentei-me à mesa.

— Sabe, pensei várias vezes e agora tenho a certeza, sentes algo pelo Sandro — afirmou, com os olhos em mim — não... deixa-me retificar, gostas do Sandro.

A afirmação direta de Nina trouxe uma tensão momentânea. Seus olhos perscrutadores buscavam uma resposta enquanto eu processava suas palavras.

— Eu estou noiva... eu... eu amo o Gael — disse toda atrapalhada. Ela começou a rir — jamais gostaria de uma pessoa como ele, imagina, com um príncipe como o Gael na vida — pegou uma tigela e despejou o cacau nela.

— Hmm... então diz-me o que é que se passa? — perguntou, atenta no que fazia.

— Nada... nada haver, só acho que já que vamos ficar um ano a respirar o mesmo ar, no mesmo sítio, podíamos tentar viver em paz, não gosto dele, só penso que ele podia evitar enfeitar a minha cabeça, nós sabemos que isso tudo é uma farsa, mas os outros não — colocou o conteúdo da tigela numa panela pequena e levou ao lume. Levantei-me e fui até ela.

— Para de pensar nas pessoas o importante é o que tu pensas e sentes. Temos que nos colocar em primeiro lugar, dificilmente alguém fará isso por nós.

— É fácil falar, não és tu que vais ficar na boca das pessoas entre risos como a chifruda — cruzei os braços.

— Vou fingir que é só isso, até por que nesse pouco tempo que te conheço aprendi a ler os teus atos e a tua maneira de agir, como quando estás nervosa e começas a falar mais rápido e bates simultaneamente as pálpebras várias vezes, por essa razão é que eu consigo facilmente perceber quando  mentes ou não, por isso quando eu falo que gostas do Sandro, eu sei o que digo, quando falas dele, sei lá, o teu semblante muda, a tua forma de agir, o teu olhar, tudo muda. Eu sei que ainda vais me dar razão, tu ainda não percebeste, mas eu já.

— Eu gosto... eu amo o Gael e sempre amarei, a única coisa que sinto pelo Sandro é raiva — afirmei, com uma convicção profunda impregnada nas palavras.

Desde a minha infância, meu coração pertencia ao Gael. Era inconcebível me apaixonar por outra pessoa, especialmente alguém como o Sandro.

—Eu sempre estarei aqui para o que precisares, sabes disso. Não dá para fugir dos nossos sentimentos, vais passar muito tempo debaixo do mesmo teto que ele.

— Nós mal conversamos. 

 —Isso não quer dizer nada, e não te esqueças, isso vai durar um ano — abracei-a de lado.

— Não vou me apaixonar pelo Sandro, eu te garanto.

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"Sandro"

— Sinceramente, eu não sei qual é o problema dela, ela não tinha que dar aquele show — estava estendido no cadeirão da sala do Max.

— Quer dizer que preferiste ficar aqui do que curtir com a tal da Larissa? — indagou com tom de incredulidade.

— Yah... 

— Ok, apenas não consigo entender o motivo de tanta reclamação, a Liriane não é um monstro.

— Eu não disse que o problema é esse, ela até que é bonita, até que ... não é uma mulher para se jogar fora.

— Então, qual é o problema de tentar que essa mentira de certo.

— Ela é uma chata do pior, e de mulher chata já me basta a minha mãe.

—E tu és um santo.

— O mais santo que existe, não é mesmo? — rimos juntos — até que enfim alguém reconheceu isso.

— Não tem jeito mesmo — abanou a cabeça com uma expressão de brincadeira, reforçando a inevitabilidade da "santidade".

Rimos.

— Mas a falar sério, não te sentes atraído por ela nem um pouco?

— Sabes o quê? Ontem eu pensei que poderíamos organizar uma festa —mudei de assunto. Soltou uma risada.

— Está bem se não queres falar, não fala. E sim, seria fixe, para conhecer mais pessoas.

— Principalmente mulheres — acrescentei — se for só mulheres também não faz mal nenhum.

— Podemos fazer uma festa amanhã. Sabes que é só dizeres, que toda Los Angeles irá saber.

— Tenho um compromisso amanhã — informei-o.

— Então fica para depois de amanhã, é só fazer uns telefonemas e já está — falou ele.

—Cara, eu amo essa vida.

—  E eu não sei disso?

A força do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora