Epílogo

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~ TRÊS MESES DEPOIS. ~

| Lisa |

- A vida não é linear

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- A vida não é linear. O coração não tem seus batimentos lineares. O mesmo é o processo de cura, não é linear e nunca será; e se um dia chegar a ser, significará que você estar morto. Um zumbi ambulante; sem propósito, pois são os altos e baixos que nos fazem seguir na vida. São eles os responsáveis por nos mostrar os valores de cada coisa ou pessoa que nos rodeia. E estou neste processo, mãe e pai. Estou me curando, dias mais rápidos, outros mais lentos. Mas estou mantendo a coisa longe do padrão linear. Agora, mais que nunca, tenho sede pela vida. Quero fazer vocês dois se orgulharem, aonde quer que estejam. Quero me fazer orgulhosa de poder chegar além, de maneira sã e com inúmeros propósitos. - digo, sentada de frente para os túmulos dos meus pais.

Após o juiz expedir o termo de guarda definitiva da Ivy, viemos ao Brasil, precisamente ao Rio de Janeiro, cujo propósito da nossa vinda é encerrar de vez a minha vida passada.

Saí daqui ignorando que meus pais haviam morrido. Ignorando a necessidade de um enfrentamento, no entanto, nada pode ser adiado para sempre, por isso estou aqui. Aceitando que a vida tem um passado e um futuro, porém ambos têm cada um o seu lugar.

- Hoje faz dois anos que vocês morreram e esses dois anos sem vocês foi algo surreal. Passei por cada provação, que até mesmo duvido, em alguns momentos, que realmente consegui passar por elas. Foi doloroso; arriscado; angustiante; massacrante. Entretanto venci. Cheguei ao fim de um pesadelo com uma nova família; que me ama, como vocês me amaram. Que me acolhem, como vocês passaram a vida me acolhendo. - engulo em seco, sentindo algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto, e continuo:

- Nessa jornada que me encontrei, no último ano, fui de prisioneira a juíza de mim mesma; contudo, hoje aprendi que a vida não é uma cruz para se carregar sozinha, mas um caminho para se ser compartilhado. E hoje eu compartilho as minhas dores e superações com um grupo de mulheres que passaram por provações semelhantes as minhas. Não foi fácil, mas necessário.

"A Gabrielle, que era a minha psicóloga, me disse que eu tinha que valorizar o que não foi perdido: A aceitação do contato/aproximação das pessoas. De acordo com ela, isso me ajudaria a passar pelo trauma de forma mais sadia. Sem me enterrar novamente em mim. E após esses três meses no grupo de apoio, vejo que ela tem razão. Ver outras mulheres, aflitas pelas mesmas feridas, me deu dimensão de que quando você ver no outro um apoio, o caminho fica menos íngreme. E eu vi isso com as mulheres que relataram suas vidas! Sei que soará egoísta o que irei dizer, porém, me fez bem ver que não só era eu a existir com um peso. Me fez me sentir menos excluída do mundo e valorizou em mim, a necessidade da vida. Eu vi nelas a urgência de não ser mais uma na estatística humana de violação dos direitos e da vida. Vi a necessidade de me curar. Me reerguer por completo e é exatamente isso que estou fazendo aqui; estou dando adeus a dor e apenas abraçando a saudade que tenho de vocês. Lembrando apenas dos momentos bons." - respiro fundo, tentando controlar a torrente de lágrimas, e prosseguindo:

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