Capítulo 20.

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Aurora

Quando li o nome de minha mãe biológica, senti um bolo em minha garganta. Já não chorava a muito tempo desde que eu tinha oito anos. Prometi-me não chorar mais, no momento em que escutei Fernando dizer que eu fui apenas um negocio lucrativo para eles. Daquele dia em diante me recusei a ser uma menina chorona. A solidão sempre fez parte de mim, mas ao contrário de muitos só me fez amadurecer e encarar a vida. Entretanto, o que mais me deixou feliz foi saber que eu tinha um irmão. Paco estava calado sentado ao meu lado segurando a minha mão.

- O que você está pensando, amor?

- Estou pensando que a vida dá muitas voltas. Antes eu era só eu e Lola, mas hoje tenho você e descubro que tenho um irmão. Como será que ele é?

- Se parecer um pouco com você, será uma boa pessoa. Tudo é muito relativo, meu amor. Você pretende conhecê-los?

- No momento não. Como vou chegar até ela e falar: Oi, eu sou a filha que sequestraram de você no passado e fiquei sabendo somente agora sobre isso es uma existência porque o meu querido pai estava morrendo e resolveu me presentear com a verdade. - fui tanto hostil, percebendo a arrogância com a qual falei. - Desculpe, Paco. Você não precisa aturar o meu temperamento hostil e sarcástico.

- Compreendo que esse seu sarcasmo é apenas para acalmar essa situação conflituosa que está vivendo. Estou com você nos bons e maus momentos. - Puxou-me para seus braços e eu o abracei de volta.

Paco era um ser humano incrível, contido, carinhoso, companheiro, leal e de bem com a vida. Qualquer mulher gostaria de telo ao seu lado. Pensar nisso me deu um aperto no peito.

- Preciso resolver essas pendências para tirar umas férias, e com lucidez pensar o que vou fazer. Eu gostaria que você estivesse ao meu lado, mas sei de seus compromissos com o trabalho.

- Eu e minha mãe estamos com umas ideias, mas para colocar em prática tenho que me desligar do hospital e da Universidade. Eu e ela gostamos do mesmo tipo de trabalho. Trabalhar com o pessoal carente é mais o nosso estilo que ficar presos a plantões.

- Eu gosto do que faço. Foi a área que mais me encantou na medicina, porém, não alcança as pessoas de baixa renda, os custos são muito alto. Por isso que estou apoiando o projeto que Oscar está implantando na Universidade.

- Por que não vem trabalhar conosco? Seria uma maneira de você ajudar a essas mulheres através do seu conhecimento e com os equipamentos que você já possui, seria um êxito ao seu trabalho.

- Posso responder quando tudo isso passar?

- Claro! Estamos no início do projeto. - Sorriu. - Mudando de assunto, você soube algo sobre Marcus?

- Com toda essa confusão da morte do meu pai, esqueci de pedir para Jardel me informar.

Levantei-me e fui até a porta chamar por Jardel. Ele apareceu e eu perguntei se ele sabia algo sobre o paradeiro de Marcus.

- Fui informado que o juiz liberou sua fiança com a condição dele ir direto para uma clínica reabilitação para dependentes químicos. Pedro de nos manter informado.

Agradeci.

- Menos um problema por agora. - falei para Paco.

- É verdade. - Acariciou meu rosto. - Hoje vou dormir na minha casa, tenho que conversar com minha mãe sobre o nosso encontro da família Lopez. Está chegando o dia e os primos estão querendo marcar uma última reunião para acertar os últimos detalhes. Tio Oscar vai a Marbella esse final de semana.

- Não precisa se explicar. Eu já tomei muito tempo da sua vida e você precisa dar atenção a sua mãe e cuidar da sua vida.

- Você é minha mulher! Tenho que estar ao seu lado para te dar apoio. Isso faz parte do relacionamento, Aurora - respondeu chateado.

- Não foi isso que eu quis dizer. Por favor, me desculpe. Eu só queria ter dito que você já me ajudou muito e que você tem sua vida - tentei me explicar.

- Ser um casal é dividir os problemas também. Nenhum casal sobrevive só de beijos e abraços. Aprender a compartilhar faz parte do processo da vida. Se eu quisesse beijo e abraços eu encontraria na rua sem ter que me preocupar com os problemas. Contudo, não é isso que quero. Você é o que eu quero desde que coloquei os olhos em você e com toda bagagem junta - falou olhando nos meus olhos.

- Novamente peço desculpa. Eu não quis te chatear. Sei que não sou boa com palavras como você, mas gostei em ter tido você ao meu lado quando tudo isso estourou na minha vida.

Ele me abraçou e ficamos ali juntinhos, até a hora que ele se despediu.

***

No dia seguinte, já na sala reservada no escritório do advogado Ricardo Bonifácio, ele terminava de ler o testamento de Fernando Gutierrez. Eu fui acompanhada de meu representante legal, o advogado Arthur Perez.

Todos juntos, fomos testemunha das expressões ofensivas de Alda dirigidas ao seu querido marido falecido, deixando os presentes boquiabertos e sem reação. Menos eu, é claro, que já sabia que sua reação seria fora de controle. Gente como Alda Gutierrez, que teve a coragem de sequestrar um bebê por dinheiro, é incapaz de abrir mão com facilidade de um mísero euro.

Ela ficou muito bem para o resto da vida se soubesse administrar seus bens, entretanto, isso era um detalhe muito grave para ela, afinal, ela nunca teve que abrir mão de sua vida extravagante. Cansada de assistir ao espetáculo me dirigi a Arthur.

- Será que já podemos ir? Não suportaria ter que ficar mais um segundo no mesmo lugar que essa mulher - perguntei impaciente.

- Você só precisa assinar alguns papeis e já esta liberada.

Quando já estava saindo, Alda começou a falar que eu deveria devolver tudo que eu estava lhe roubando.

- Não dou a mínima para essa herança. Talvez, se eu não tivesse ficado sabendo de certas coisas que você fez no passado, eu poderia lhe dar tudo isso que recebi - Fui rude e ela arregalou os olhos.

- Você está jogando essa porque quer ficar com tudo que é meu por direito. - falou altiva.

- Será mesmo que você tem direito a alguma coisa depois de tudo o que fez? Não foi o que li na carta que meu pai deixou para mim. Se dê por satisfeita de não estar na prisão que é seu lugar por direito. E saia da minha frente quando me ver, porque eu posso me arrepender e decidi colocar você no local que você merece. - Saí andando.

Esperava de verdade que jamais essa mulher cruzasse meu caminho novamente.

Chegando em casa, Lola estava me esperando aflita para saber se tudo tinha ocorrido bem. Acalmei ela e falei que precisava terminar de conversar com Arthur no escritório.

- Arthur, eu gostaria que você colocasse a venda todos os imóveis. Tenho planos para esse dinheiro - pedi e expliquei que queria fazer um investimento com uma parte desse dinheiro na área de saúde para pessoas carentes.

- Vou preparar uma procuração referente a esses seus novos bens - falou e anotou em agenda.

- Também preciso que você me ajude a encontrar um novo presidente para o banco. Você seria o ideal, porém, sei que você não quer.

- Já estou quase me aposentando, o banco precisa de sangue novo que viaje e visite as filiais. Contudo, para sua surpresa, eu já pensei em três pessoas que seria uma equipe inovadora no campo do investimento. Infelizmente, não posso falar os nomes porque tenho que conversar antes com eles para não criar falsas expectativas a você - falou enigmático.

- Não sei se viveria sem você, Arthur. Se você já está vendo essa parte, quer dizer que posso voltar a minha vida?

- Deixe comigo que farei o que for possível. - Levantou-se para ir embora. - A propósito, tome muito cuidado com Alda, ela é capaz de matar por dinheiro. Você não é casada, não tem herdeiros, se acontece algo com você, ela fica com tudo que é seu.

Ele se foi e, assim que fechou a porta, eu levei a mão institivamente ao meu ventre. Já faziam três semanas que eu esperava minha menstruação descer, porém, não tinha acontecido e isso só poderia ser uma coisa. Eu poderia estar gravida.

Será que vou ser mãe?

Sorri sozinha. Isso não seria ruim. A ideia me soava bem na mente.

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