Capítulo 7

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"Amar é renunciar o que se 'ama', em detrimento da pessoa amada"
Gustavo Mendes Fiúza

01 de julho de 1960

Acordo com um fio luz batendo nos meus olhos. No mesmo segundo me levanto assustada lembrando de tudo que aconteceu ontem. A porta estava aberta então eu subi as escadas daquele maldito porão correndo e quando dou de cara com a primeira porta, vejo que ela também está aberta então assim que eu saio sinto o cheiro do ar livre, que era muito melhor do que o cheiro de mofo do porão.

— HENRY — é a primeira coisa que eu faço assim que atravesso a porta, ando alguns passos a frente e observo as escadas na esperança de que Henry apareça.

— Annie? — escuto a voz da minha mãe vindo da cozinha. Caminho pra lá imaginando que deve ser coisa da minha cabeça mas logo me deparo com ela sentada a mesa com um pão a sua frente — meu Deus Annie o que aconteceu com você? Por que está toda suja assim? — ela pergunta franzendo o cenho.

— Ela não conseguiu dormir a noite então foi lavar roupa, pelo visto ficou cansada e dormiu por lá mesmo — a porta do armário se fecha e Andrew se vira para mim com um olhar de alerta dizendo que não era para desmenti-lo.

— É — respondo enquanto observo ele se sentar a mesa com um sorriso no rosto — cadê o meu irmão? — pergunto deixando a angústia vazar entre a minha pergunta.

— Está tomando banho — mamãe respondeu — Alexandre está virando um homem acredita Ann? Me disse que já tinha idade o suficiente para tomar seu próprio banho.

— Imagino — digo e olho de canto para Andrew, dou as costas para eles e vou em direção a minha escada e logo começo a subi-la dando direto pro meu corredor onde do lado esquerdo era o meu quarto e o de Henry, do direito era o dos meus pais e o banheiro.

Caminho até a porta do banheiro e dou duas batidas enquanto seguro na maçaneta.

— Está tudo sobre controle mãe — ouço a voz de Henry só que diferente das outras vezes, que é alegre e feliz sua voz está baixa e lenta. Abro a porta e encontro ele sentado na banheira cheia de água e espuma. Ele me olha e me da um sorriso fraco. Entro e fecho a porta atrás de mim a trancando em seguida.

Pego um banquinho pequeno e coloco ao lado da banheira.

— Henry...

— Está tudo bem Annie, não foi sua culpa — ele diz e coloca sua mãozinha em cima da minha.

— Foi sim — respondo — é sempre minha culpa, eu não devia ter deixado Jones me trazer até a esquina...

— Annie o papai é louco — Henry me interrompe — eu fiz igualzinho você tinha me falado, entrei no meu quarto e não sai mas Andrew bebeu cinco latinhas de cerveja e acabou quebrando o rádio. Foi quando ele me gritou ai eu fingi que estava dormindo mas ele foi até o meu quarto e me tirou da cama à força.

— Mas mesmo assim Henry, ele queria me mostrar que eu não deveria dar ousadia à Jones — digo enquanto meus olhos queimam com a enorme vontade de chorar.

— Ele nunca teve um motivo para bater na gente Annie, não é porque seu namorado te acompanhou até a esquina que virou o motivo — Henry responde me olhando profundamente com aqueles olhinhos castanhos brilhantes.

— Jones não é meu namorado — respondo e Henry levanta uma sobrancelha e eu reviro os olhos — me deixe ver suas costas — digo mudando de assunto e Henry se inclina pra frente mostrando duas marcas vermelhas da cinta de Andrew em cima de outras cicatrizes.

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