Richard acordou naquela manhã um pouco mais tarde do que o normal, ele já havia avisado ao seu chefe que não iria trabalhar antes do almoço em virtude de ter que prestar um novo depoimento para a polícia. O rapaz tomou café tranquilamente pensando em tudo o que havia acontecido recentemente que abalou completamente a sua vida, principalmente a morte prematura de Christine, seu grande amor. Richard e ela pretendiam morar juntos assim que Christine conseguisse o divórcio, mas eles sabiam que isso não seria assim tão fácil. Thomas era ciumento e não daria o divórcio assim tão facilmente, principalmente se descobrisse que estava sendo traído. Eles estavam casados e numa eventual separação ela teria direito a uma boa quantia em dinheiro ou imóveis. No entanto, isso agora já não importava nem um pouco, Christine estava morta e tudo estava acabado.
Agora só restava tentar ajudar a polícia a encontrar o culpado pelo crime. Richard desconfiava que Thomas pudesse ter algum envolvimento com a morte da esposa. No depoimento anterior ele não comentou sobre isso com o detetive Scott, mas agora ia tocar no assunto e fazer uma revelação que poderia colocar o marido de Christine na mira das investigações. Depois que tomou seu café, Richard foi até a garagem e estranhou quando encontrou a porta lateral destrancada, apenas encostada. Na verdade, ele andava muito distraído e com o pensamento distante desde a morte de Christine, talvez tivesse realmente esquecido a porta destrancada. Afinal, não havia nenhum sinal de que alguém havia entrado ali, tudo estava devidamente em seus lugares.
O rapaz acionou a porta da frente que se abriu e em seguida deu a partida no veículo saindo para a rua, faltavam apenas quinze minutos para o horário marcado, mas o caminho que ele percorreria não estava congestionado naquele horário. Richard acelerou e em seguida entrou em uma pequena ladeira, resolveu pisar nos freios porque logo a sua frente, a cerca de trezentos metros havia um cruzamento bastante movimentado. Ao pisar nos freios, Richard percebeu que havia algo de errado, o pedal estava mole e os freios não estavam funcionando como de costume. Richard olhou para o painel e viu a luz se acender indicando que o óleo de freios estava com o nível muito baixo. Aquilo não era possível, ainda na semana anterior ele havia levado o carro para fazer uma revisão geral. Ele pisou mais algumas vezes no pedal acreditando que fosse uma falha momentânea, mas os freios não deram resposta. Não havia carros em sua frente, mas no cruzamento vários carros e caminhões passavam em alta velocidade. Se não conseguisse parar seria seu fim. Numa última tentativa, o rapaz puxou o freio de mão com toda a força. Poderia capotar o carro, mas talvez conseguisse sair ileso do acidente.
Sua surpresa foi grande quando viu que a alavanca estava solta, o cabo possivelmente estava rompido. Não havia mais o que fazer. Richard apenas fechou os olhos milésimos de segundos antes de seu carro se espatifar contra um enorme caminhão que cruzava em sua frente. O barulho foi assustador, seu carro ficou retorcido e achatado. Não sobrou um único vidro intacto. O caminhão ficou atravessado sobre a pista e uma parte da carga espalhada pela mesma. Outros carros também acabaram batendo durante a confusão, mas nada de muito grave.
As sirenes das ambulâncias das equipes de resgate podiam ser ouvidas ao longe. Rapidamente eles chegaram ao local na tentativa de salvar vidas. Ninguém além dele estava gravemente ferido, mas ao se aproximarem do que sobrou do carro de Richard, puderam constatar que não havia mais nada a se fazer. Ele estava morto, seu corpo estava esmagado e todo coberto de sangue, eles teriam muito trabalho para retirar o corpo das ferragens.
— Podem cuidar dos outros feridos, aqui não há mais nada que possa ser feito, o sujeito morreu instantaneamente — falou um dos homens do resgate.
No departamento, Scott já estava impaciente. Afinal o horário marcado com Richard já estava extrapolado. Ele olhou no relógio e viu que já estava perto das nove da manhã, quase uma hora de atraso. O detetive pensou em ligar para Richard e perguntar se havia algum imprevisto e se ele não poderia comparecer. Pegou o telefone e discou o número, o telefone parecia estar desligado. Talvez Richard estivesse a caminho, no trânsito e por isso não poderia atender naquele momento.
Alguns minutos depois Alfred soube através de um dos policiais que estavam em patrulha que havia ocorrido um acidente próximo dali. Jamais ele imaginava que Richard estava naquele veículo, na realidade, ninguém até aquele momento sabia a identidade da vítima.
O tempo passou e Scott foi até a sala de Alfred para avisar que o depoimento de Richard não seria feito naquela manhã, pois ele não havia comparecido até aquele momento.
— Alfred! Richard não apareceu e também não consigo falar com ele. Vou tentar marcar o depoimento para hoje à tarde ou para amanhã.
— Tudo bem, Scott.
Scott deixou a sala e neste exato momento, na TV da sala de recepção, começou a passar uma notícia sobre o acidente que havia acontecido pouco antes. O detetive ouviu atentamente e Alfred veio ao seu encontro.
— Viu só que acidente terrível? — falou ao chefe.
— Sim, um de nossos homens passou a pouco por lá e viu tudo. O sujeito ficou irreconhecível, ainda não sabem quem era o rapaz.
— Estou com um pressentimento ruim, Richard não apareceu para o depoimento e este acidente foi mais ou menos no mesmo horário em que ele deveria estar vindo para cá — conjecturou Scott.
— Acha que o cara que morreu no acidente é ele? Isso seria muito azar por parte dele.
— Verdade, ele perdeu a amante recentemente e agora ele também morrer em um acidente seria algo lamentável. Mas se realmente era Richard, isso pode não ter sido um acidente. Ele pode ter acabado com a própria vida jogando o carro contra aquele caminhão. Ele estava bastante abatido com a morte de Christine, nunca sabemos o que se passa pela cabeça das pessoas.
— Vá até lá e veja se consegue descobrir isso — completou Alfred.
— Sim, vou fazer isso agora mesmo. Não vou esperar até identificarem a vítima. Se for realmente Richard eu saberei no instante em que olhar para ele, mesmo que a situação do corpo não esteja muito favorável.
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Assassinato à beira-mar (Degustação)
Mystery / ThrillerUma mulher é encontrada morta nas areias de Coney Island em New York. Seu marido é o principal suspeito, mas ele tem um álibi que o inocenta. As investigações colocam um novo suspeito na cena do crime. Quem foi o responsável pela morte de Christine...