Capítulo 3

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Capítulo não
revisado.

O fim de semana passou lento, mas foi bom para colocar a cabeça e o apartamento em ordem. Na segunda-feira, logo no começo da aula a minha coordenadora, Lúcia, me chama, com ela estava uma criança linda, morena com lindos cabelos castanhos claro com cachos nas pontas e seus olhos ... eram amendoados. Tão familiar.

- Bom dia Luna! - Me cumprimentou Lúcia, apenas acenei com a cabeça, ainda intrigada com aqueles olhos. Ela continuou falando. - Essa é a Sophia, está começando hoje. O pai dela deve vir conversar com você até amanhã, ele está com um problema com a mudança e quem trouxe a menina foi à babá.

- Tudo bem Lúcia, preciso saber de algo relevante em relação à Sophia. - Perguntei, sempre converso com os pais na semana de adaptação, para saber como agir com cada criança e não sabia nada da Sophia.

Lúcia levou a menina até a mesinha junto com outra aluna e me puxou para fora da sala, deixando a turma com minha auxiliar, Juliana.

- Luna, quando o pai fez a matricula, deixou a entender que era viúvo, mas não entrou em detalhes, disse que conversaria depois com a professora. A babá que trouxe a menina me falou que a mãe da Sophia morreu em um acidente de carro no mês passado, mas também não deu detalhes, só disse que a menina está muita quieta depois do acontecido.

Bom, não é pra menos, ela não deve ter nem quatro anos e já perdeu a mãe.

- Pode deixar Lúcia, vou fazer o meu melhor para ela interagir com o restante da turma. - Era o meu trabalho, não poderia fazer diferente.

Lúcia seguiu para coordenação e eu entrei na sala, e vi aquela menina de olhar familiar, mas que trazia muita tristeza.

A manhã passou tranquila, tentei fazer com que a Sophia participasse em todas as atividades, com muita dificuldade, pois ela não se comunicava com as outras crianças, se retraindo por inúmeras vezes. Quem veio buscar a Sophia foi à babá, dizendo que o pai viria até sexta-feira conversar comigo, pois o mesmo estava muito ocupado com a mudança da casa e do trabalho.

Pensei comigo ... - Que pai desnaturado, tem que pensar primeiro na filha. Mas cada um sabe onde seu calo aperta. O jeito é esperar e tentar fazer a tristeza sair daqueles olhos.

A semana foi tranquila, mas não fiz nenhum progresso com Sophia, sua apatia me preocupava, me deixando apreensiva para conversar com o pai desnaturado. Minha preocupação era saber o porquê dessa tristeza. A babá não falava muito, apenas que ela ficou assim depois da morte da mãe. Não posso perguntar, conversar com a Sophia sobre esse assunto antes de conversar com o seu pai desnaturado.

Nossa ... tenho que parar de pensar nele dessa maneira, senão vou acabar o chamando assim.

Quando chegou a sexta-feira a babá trouxe Sophia e disse que quem buscaria seria o pai e que conversaria comigo, marcando um horário para depois da saída das crianças, para não atrapalhar a aula. Minha ansiedade só aumentava ao decorrer das horas, faltando pouco para as 11:30 h, só estava eu e a Sophia, esperando o pai dela chegar.

Estava "tentando" conversar com Sophia quando a porta da sala abriu e um homem moreno, com cabelos castanhos, um pouco despenteado, como se tivesse passadas os dedos por inúmeras vezes e óculos escuros. Logo assim que entrou Sophia correu para os seus braços, que foi recebida com um abraço forte e beijos em sua bochecha e pela primeira vez vi um sorriso naquele rosto de olhos tão tristes.

Me aproximei para cumprimentar o responsável.

- Bom dia!

Foi quando ele tirou os óculos e me olhou ...

Quando olhei aquele rosto, aquele olhar, não tive dúvida de que era ele, o meu amigo, o meu primeiro amor.

- Bom dia! - Ele me respondeu, com a cabeça um pouco inclinada para o lado e um pequeno sorriso. - Luna?

- Oi Davi, que surpresa ... eu ... você é o pai da Sophia? - perguntei ainda assustada com aquele homem a minha frente.

Não quero ouvir a resposta, tudo o que sonhei, tudo que imaginei se um dia o reencontrasse, vai por água abaixo ... ele tem uma filha ... ele tem uma história.

- Sim, você é a professora, a minha menininha bonita é a professora da minha filha. - Falou com tanta convicção, como senão tivesse passados 14 anos.

- Não sou mais uma menininha Davi, já sou uma mulher. - Falei aborrecida.

- Desculpa não queria ser indelicado, mas te reencontrar me fez voltar em um tempo da minha vida, em que eu era feliz.

- Eu que peço desculpa, afinal você veio aqui para conversar sobre a Sophia. - Olhei para a criança, que nada entendia.

- Certo, onde podemos conversar, não queria que fosse ... bom, com minha filha ouvindo.

- É ...vou pedir para a minha auxiliar brincar com ela na área de recreação. - Sai na porta e vi Juliana, ela me perguntou se eu precisava de alguma coisa e pedi que levasse Sophia para brincar enquanto conversava com o pai.

Quando voltei para sala, ele estava encostado na minha mesa, e o que vi me fez senti algo que não sabia identificar, um calor, um arrepio na nuca .... Luna! Foco. Fechei os meus olhos, respirei fundo e fui sentar na minha cadeira, não antes de puxar uma para ele.

- Pai, preciso fazer algumas perguntas para melhor convívio da Sophia.

- Pai? Você sabe meu nome, por que agora está me chamando assim?

- No momento quem está aqui é a professora da sua filha.

- Mas que continua sendo a minha amiga, que eu nunca esqueci.

- Não esqueceu? Davi, você nunca mais apareceu, nem para falar com Otávio, que era seu amigo. Ficamos preocupados, querendo saber como estava seu pai e se não fosse Dona Glória meses depois falar para minha mãe que seu pai tinha falecido, teríamos ficado no escuro, sem saber o que aconteceu com vocês. - Já com lágrimas nos olhos, falei tão rápido, me esquecendo do propósito da nossa conversa.

- Ah... desculpa, estamos aqui para falar da Sophia. - Falei me recompondo para encerrar aquele assunto.

Ele ficou me olhando em silêncio, não pude deixar de me encantar, como aquela menina de anos atrás. Abaixei minha cabeça e esperei o seu tempo.

- Luna, agora vamos falar sobre a Sophia, mas a nossa conversa, vai continuar hoje à noite.

- Oi?

- Professora da Sophia, - Ele agora está querendo curtir com minha cara, só pode. - Como eu disse quando fiz a matrícula da minha filha, eu perdi a minha esposa .... em um acidente de carro, onde estava eu, que sofri apenas algumas escoriações, Sophia que teve arranhões nas pernas e a minha esposa, Marcela, que faleceu no local. O carro que avançou o sinal bateu no lado do carona, no lado da Marcela. A Sophia presenciou tudo, depois disso ela se fechou com todos, eu sou o único que ainda tira algum sorriso dela, poucos, mas consigo.

- Eu sinto muito Davi. - Falei com sinceridade.

- Eu recebi uma proposta de emprego aqui no Rio e quando estávamos a caminho, aconteceu o acidente. Todos os planos, sonhos que ela tinha, uma vida melhor para nossa filha, acabou naquele dia, mas eu não podia me abater, Sophia só tem a mim, tive que me manter firme, assim como fiz quando o meu pai também se foi.

Ele parou por um instante, respirou fundo e continuou.

- Eu vim pedir ajuda a professora que me indicaram, o filho da reitora da faculdade que eu vou lecionar, estuda aqui e me disse que tinha uma profissional que poderia me auxiliar.
Só não sabia que era a minha amiga de infância, a menina que eu dizia que roubaria um beijo.

Enfim o Davi chegou, com lembranças e um grande problema "a morte da sua esposa".

Como a Luna vai poder ajudar?

Sophia, tão linda, mas com uma perda tão grande!

Espero que estejam gostando, comentem e não esqueçam as estrelinhas.
Bjs.

Em Seu Olhar (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora