Capítulo 4

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Capítulo não
revisado.

Eu esperava tudo, mas encontrar Davi, principalmente nessa circunstância. Minha cabeça não está conseguindo processar essa avalanche de informações, ele casou, teve uma filha, ficou viúvo e ainda fala do beijo que queria me roubar?! Tenho tantas perguntas, mas não é o momento.

– Davi, não posso dizer que sei o que está passando, mentiria, mas realmente sinto muito, por você e por Sophia. - Era o mínimo a dizer.

– Como eu disse, vim pedir ajuda, e sendo você a professora, tenho a certeza que a Sophia estará em boas mãos.

– Vou fazer tudo que estiver ao meu alcance, mas vou precisar também da sua cooperação. A participação da família nesse processo é muito importante.

– Vou estar aqui para o que você precisar. - Ele respondeu.

– Você demorou a vir conversar ...... - Não deixou eu terminar.

– Desculpa Luna, fui negligente, mas tinha muitas coisas para resolver, estou sozinho aqui no Rio ..... e, podemos conversar melhor em outro lugar? - Perguntou tão rápido que me assustei.

– Talvez seja melhor conversamos sobre o meu trabalho, como vou proceder com a Sophia. - Falei com medo do que estava sentindo.

– Por favor, Luna, não tenho ninguém aqui, é tudo novo e no momento, você pode não acreditar, estou com medo, me sentindo sozinho. Ter que lidar com a perda da mãe da minha filha, mudança de tudo e, Sophia, está difícil ..... estou precisando da minha amiga. - Falou de um jeito que senti a sua dor, vi na minha frente aquele garoto e não o homem de 27 anos, que continuava lindo, mas o olhar que eu nunca esqueci, só havia tristeza.

– Tudo bem Davi, pela nossa amizade, não posso negar. - Espero que eu consiga me controlar.

Vi o seu semblante relaxar, ele se levantou e me ofereceu a sua mão para que eu o seguisse. Fomos ao pátio onde a Sophia brincava com Juliana, assim que ela viu o pai, veio correndo para os seus braços. Era bonito ver o amor dos dois, agradecei a minha auxiliar e nesse momento Davi me fez lembrar que temos um encontro para conversarmos.

– Luna, podemos nos encontrar hoje à noite?

– Se é tão importante para você? - Questionei, mas sabendo que ele não desistiria.

– Mas que importante, é necessário. Além de precisar de sua ajuda como amiga e profissional, tenho que te esclarecer o porquê de ter saindo da fazenda e não ter dado nenhuma satisfação e notícias sobre o que aconteceu em São Paulo. - Ele falava comigo, mas prendia o seu olhar em Sophia.

– E onde vamos conversar?

– Podemos jantar na minha casa, não tenho ninguém para ficar com Sophia à noite, a babá vai embora às 18 h. Posso fazer o jantar. - Dei um sorriso, como se estivesse duvidando dos seus dotes culinários. – Não vai se arrepender. - Falou com um sorriso de lado, que eu tanto amo. AMO?! .... - Balancei minha cabeça, acho que ela está confusa. Ele foi meu amor de infância, mas agora? Não sei o que estou sentindo.

– Tudo bem Davi, me passa o seu endereço por mensagem. - Falei passando o número do meu celular, me despedi da Sophia, que tinha um olhar mais alegre por estar no colo do pai, acenei com a cabeça para Davi e segui em direção à sala para pegar minha bolsa para almoçar.

Quando me vi sozinha na sala, veio às lembranças, de tardes de conversas alegres, sorrisos fáceis de crianças que tinham amor, não havia disputa por espaço, ter que ser melhor que o outro, havia amizade, companheirismo. Sinto falta disso na cidade, mas todos têm que crescer e lidar com que a vida oferece. Estava tão concentrada em meus pensamentos, que não vi quando Helena entrou na sala.

– Tudo bem Luna? - Ela estava com uma cara de quem não estava entendendo nada.

– Sim, está tudo bem. - Falei pegando a bolsa com intenção de sair para almoçar.

– Epa! Alto lá menina, vai aonde sem me contar quem era aquele homão que estava com a Sophia no colo. É o pai dela? - Helena com sua cara de curiosa e divertida. O que seria de mim sem a minha amiga?! Que sempre esteve do meu lado, tanto na faculdade quanto na vida, estudamos juntas, trabalhamos na mesma escola, a diferença é que ela encontrou o seu amor, Beto, e eu encontrei um amigo, Tadeu. Não estou reclamando, Tadeu foi essencial na minha vida, não posso descartar o que sentíamos, mesmo que tenha sido uma amizade "colorida". Voltando à Helena, o que eu posso dizer é: não sei como ela consegue dar aula para crianças, ela muda da água pro vinho, ou melhor, quem bebe muito vinho. Dentro de sala é uma professora séria, fora é minha divertida e feliz amiga, minha melhor amiga.

– Vou almoçar, me acompanha? - Falei saindo da sala. – Temos menos de uma hora para comer alguma coisa, antes do turno da tarde.

– Tá, eu vou, mas vai ter que me contar tudo. - Saiu da sala me alcançando e passando o seu braço pelo meu.

Entramos na Cantina Italiana, próxima a escola que tem uma massa divina. Escolhemos a mesa e fizemos os pedidos, o garçom trouxe logo o suco enquanto esperávamos nossos pratos.

– Conte-me tudo e não me esconda nada. - Falou Helena, já com os cotovelos sobre a mesa e batendo os dedos nas bochechas. Não tive outra escolha a não ser, desabafar.

– Era ele Helena, não só o pai da Sophia, mas o meu Davi. - Ela me olhou sem entender.

– Calma! Pai da Sophia, aquele homão, o seu Davi, aquele homão.

– Para de ficar chamando o Davi de homão!!!

– Por que, ficou com ciúme?

– Não é nada disso .... podemos ter uma conversa mais tranquila Dona Helena.

– Tudo bem, tudo bem ... me chamou de Dona, sinal que a coisa é séria. Desculpa. - Ela tirou os braços da mesa e me olhou de maneira serena. – Ele, Davi, é o seu amor de infância e também o pai da Sophia, foi isso mesmo que eu entendi?

– Sim. - Falei quase chorando. – Não sei o que fazer Helena, foi tudo tão, tão de repente, que fiquei sem ação. Estava esperando o pai que perdeu a esposa e aparece ele, assim, sem aviso ...... Está tudo confuso. Estou insegura, como vou agir com Sophia, sem deixar transparecer o que sinto por ele, está doendo, veio tudo à tona ... sua partida, ficar sem notícias e agora ele aparece viúvo e com uma filha. - Coloquei pra fora o que estava me sufocando.

– Calma minha amiga, tudo vai se resolver. Vocês tem que conversar, não só, sobre sua aluna, mas sobre tudo o que aconteceu, tem que ter uma explicação.

– Ele me convidou para jantar com ele, na casa dele, pode uma coisa dessa?

– Pode. Ele antes de tudo foi seu amigo e tenho certeza que essa é a melhor maneira de colocar tudo em pratos limpos, mesmo que seja no território dele. - Lá vem ela batendo os dedos no rosto, fantasiando como vai acontecer.

– Volta pra real Helena! Não vai acontecer nada, só vamos conversar. - Enfatizei minha posição. Apesar de não saber se estou tão certa em relação ao que estou sentindo.

Terminamos o nosso almoço sem tocar mais no assunto, tínhamos pouco tempo para voltar ao colégio. A tarde passou tranquila, não dando muito tempo de pensar no meu encontro. Quando terminou a aula, peguei minhas coisas e segui meu caminho, pensando em tudo que aconteceu nesse curto espaço de tempo. Nunca esqueci aquele olhar, nunca esqueci suas palavras e agora ele está aqui, lindo como o garoto do meu passado.

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