Capítulo 1, A emboscada

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"Maldição," reclamou Mazzo. "Terceiro buraco que me encontra nessa maldita floresta hoje."

Quarto pensou Willem, em silêncio, já era o quarto buraco camuflado entre as folhas em que Mazzo metia seu pé. O último ainda começou a soltar um cheiro de podre que estava se espalhando pelo ar.

Mazzo praguejou enquanto tirava o pé do buraco, com lama escorrendo de sua bota.

"Devíamos parar por um pouco e fazer uma fogueira, se ao menos nisso tivermos sorte neste dia amaldiçoado."

"Não," disse Gunther. "Ainda temos umas cinco horas de luz, vamos seguir em frente, quero ver-me longe daquele lugar."

Willem sentiu um frio no estômago lembrando do lugar ao qual Gunther se referia, onde um segundo companheiro de seu grupo morreu. Ele ainda se lembrava do som, um som seco, seguido de um estalo quando a corda se rompeu, os galhos quebrando, e por fim ele viu o sangue.

Gunther andou mais um pouco e parou, virando-se para os companheiros.

"Pretendo sair desta floresta um dia, e se continuarmos desperdiçando tempo assim não o faremos nunca." Ninguém comentou que eles já não tinham quase nenhuma esperança de sair do Coração Verde, já estavam perdidos a semanas, quiçá meses. "Além do mais, tudo indica que hoje não choverá. Você diz que este é um dia amaldiçoado Mazzo, mas saímos daquele lugar assombrado há uma semana, já não chove há três dias. Não reclame de tua sorte, os deuses podem muito bem piorá-la, e tu sabes o quão ruim já está."

Os três encararam-se de maneira silenciosa, ruminando sobre o significado daquelas palavras, por fim Gunther prosseguiu.

"Vamos adiante, depois paramos para catar lenha e fazer acampamento. Quanto maior a distancia entre nós e este lugar, melhor."

Willem só concordou, e eles seguiram andando. Inclusive Mazzo seguiu sem levantar objeção, o que surpreendeu Willem, visto que ultimamente o colega não passava de uma fonte de reclamações ambulante.

A caminhada prosseguiu em meio a árvores de tronco marrom ou cinzento que marcavam presença dominante na paisagem. Willem reparou que estas árvores já eram mais espaçadas, e que havia luz suficiente para arbustos crescerem nessa região da floresta, ao contrário do lugar que tinham passado suas últimas e horríveis semanas, onde as árvores eram extremamente altas – e as mesmas tornavam o lugar extremamente escuro, além de assustador. Willem estremeceu ao lembrar daquele lugar escuro, das vozes que ressoavam pelo mesmo durante a noite, e tentou pensar em outra coisa.

Continuou caminhando em meio as folhas secas e galhos no chão, suas botas produzindo som de estalos durante seus passos, o único som a quebrar a sinfonia de pássaros e insetos no meio da mata. Willem pegou-se pensando na estrada, naqueles dias – dois ou três meses atrás, ele não tinha certeza – que selaram sua sorte no rumo daquela floresta interminável.

                                                                  *  *  *

No dia eles eram cinco, e não três. Todos descansados, de barriga cheia, e ânimos a flor da pele com a ideia do roubo que estava por vir. A idéia partira de Vazs, que era um amigo de longa data de Willem e Mazzo, que soubera de carregamento de ouro de um comerciante rico indo para cidade de Elkor, em Asvalad. O plano era simples, o alvo era pra ser fácil. Viria uma carruagem pequena com o ouro e alguém de confiança do comerciante e uma pequena guarda junto deles, três ou quatro homens – nada mais do que isso – que viriam separados alguns quilômetros da caravana de principal para não chamar atenção. Eles preparam a emboscada num trecho da estrada junto aos bosques do Reino de Asvalad, poucos quilômetros antes de um lago onde a comitiva deveria parar para dar água e descanso aos cavalos.

Na Escuridão da FlorestaOnde histórias criam vida. Descubra agora