Capítulo 7, A imensidão verde

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Willem riscou as partes de sua pederneira e as faíscas saltaram em direção dos raminhos secos que ele tinha cuidadosamente colhido das árvores. Os primeiros riscos incandescentes entraram em contato com a mecha, que rapidamente se incendiou, espalhando as chamas pela armação de gravetos que ele havia montado para fazer a fogueira.

Havia cerca de uma hora desde que Gunther fora caçar. Parecia ter encontrado alguns rastros de coelhos e iria tentar a sorte. Para Willem uma refeição cairia muito bem naquele momento, visto que seu estomago doía e protestava em alto e bom som. Ele ocupou-se com catar lenhas e fazer o fogo, enquanto Vazs e Mazzo tiravam as selas dos cavalos e preparavam as tendas.

Era fim de tarde, mas já estava frio. Fazia dois dias que as nuvens começaram a desfilar pelo céu. No começo eram alvas e pequenas, agora eram negras e carregadas que suprimiam qualquer vestígio de azul. Willem fez uma prece aos Deuses para que aquela não fosse uma tempestade de primavera, tão comuns naqueles dias que seguiam o inverno. Tempestades muitas vezes duravam por dias, chuvas torrenciais com ventos cortantes e ininterruptos que castigavam a qualquer um.

Montaram acampamento em uma pequena clareira de cerca de vinte metros de extensão, entre as flores amarelas e brancas dos ipês que tomavam conta de um pequeno trecho da floresta. O chão estava repleto de pétalas e folhas caídas das árvores, e produzia um cheiro enjoativo do perfume das flores contrastando com o das outras a secar e apodrecer sobre a terra.

Como o fogo já estava queimando sem precisar de mais cuidados, com a lenha crepitando e estalando em meio a rápidas labaredas, Willem decidiu ir conversar com seus companheiros. Foi indo em direção às tendas e viu que os amigos já haviam terminado seu trabalho, estavam descansando.

Willem estava bastante preocupado com a chuva que estava por vir, mas um outro assunto de maior importância vinha ganhando espaço em seus pensamentos.

“Vocês acham que eles ainda estão por ai?” Perguntou aos amigos.

Fazia quatro dias desde o confronto com os batedores, depois disso eles tinham somente cavalgado. Durante aqueles dias eles tinham parado somente quando os cavalos não conseguiam mais avançar. Somente o tempo necessário para que eles se recuperassem para prosseguir viagem. Porém o esforço havia cobrado o seu preço, os animais – agora exaustos – já não eram capazes de leva-los a lugar algum. Willem temia que algum dos cavalos viesse a morrer devido ao esgotamento. Não seria a primeira vez que ele o veria acontecer.

“É possível” Ponderou Vazs. “Mas bem improvável. Acho muito difícil acreditar que estejam nos seguindo. Talvez ainda haja um ou outro grupo por aí, mas o Duque jamais desperdiçaria tantos homens por todo esse tempo. As fronteiras devem estar mais agitadas do que nunca.”

“Sem contar” Emendou Mazzo. “Que o quê fizemos foi loucura. Ninguém ousaria cavalgar como o vento para o oeste em pleno Coração Verde. Nem o mais estúpido dos soldados faria tal coisa.”

“E o quê você faria, sabichão?” Questionou Vazs, visivelmente ofendido, com um tom de voz repentinamente sério. “Ir para norte? Para a capital? Quem sabe nós não vamos para o leste, que tal isso? Ir direto para o castelo Dortmond, eevitar toda a perda de tempo?” Willem sentiu um calafrio ao ouvir o amigo repetir as palavras do batedor que haviam interrogado na noite do confronto. “Pelo menos estamos vivos. Nenhum de nós está ferido e …” O que quer que Vazs fosse acrescentar, não pode fazê-lo, pois Mazzo o cortou.

“E estamos perdidos no meio do nada.” Disse com uma voz seca. Dito isso saiu de perto das tendas, acabando com qualquer resquício de conversa, e foi ter com sua montaria.

Embora Vazs não o admitisse, Willem sabia que Mazzo tinha razão, eles estavam perdidos. Quando alguém se perdia no coração verde, as buscas duravam sempre dois dias – três caso fosse algum nobre – mas nunca mais do que isso. Nem caçadores gostavam de passar muito tempo na floresta, pois esta era demasiado grande e demasiado perigosa para trocar pela tranquilidade que era caçar nos Bosques de Asvalad. Seu tio fora um dos únicos que se arriscou na caçada a ursos e gatos-do-mato na floresta, e provavelmente o único que conseguiu se manter lá por mais de dez dias e voltar com ambas: sua vida, e sua sanidade.

Na Escuridão da FlorestaOnde histórias criam vida. Descubra agora