Cavalgaram por duas horas, sempre sobre a cobertura da mata, sempre em silêncio. Só pararam uma vez para mudar a arca roubada de um cavalo para o outro, e então prosseguiram. Pouco antes do pôr-do-sol avistaram a cabana do tio de Willem. Era uma cabana rústica de madeira com telhado de palha, que ficava em meio algumas árvores na extensa clareira que havia entre os bosques e a floresta.
Willem e seu tio costumavam usa-la antes e depois de ir à caça no Coração Verde ou nos bosques. Mas naquele momento a cabana estava praticamente abandonada. Willem ia muito pouco lá, principalmente depois que seu tio sumira quatro anos antes em meio a floresta, provavelmente pego por um urso ou gato do mato. Agora na cabana dominavam as teias de aranha. Mas ainda havia paredes, um teto, lenha seca, e um pouco das provisões que seus companheiros juntaram para o caso de necessidade.
Ao chegarem na cabana Mazzo foi em direção a única cama do lugar e deitou-se. Gunther e Willem sabiam que ele não iria simplesmente deitar e dormir, ele ia se retirar no silêncio de sua dor, e eles entendiam isso.
Gunther resolveu ocupar-se com o jantar e foi atrás de carne e ervas para fazer um ensopado. Willem acendeu a lareira e sentou-se no chão da cabana, esperando enquanto a lenha queimava, vendo as chamas dançarem a sua frente. Mal notara os ires e vires de seu amigo junto ao caldeirão da lareira.
“Coma” Disse Gunther um tempo depois, oferecendo uma tijela de madeira com ensopado, uma colher e um pedaço de pão seco. Willem agradeceu e comeu quietamente, encarando as chamas. O ensopado estava com um cheiro ótimo. Ele, no entanto, não sentia a menor fome. Porém a muito aprendera a nunca recusar refeições – no outro dia poderia não haver uma.
Ali, em silêncio, deve ter ficado por horas, pois quando notou já havia ficado bem escuro lá fora e Vazs estava de volta, com uma cara preocupada.
Ele sentou-se junto ao balcão da cabana e comeu, e não falou nada além de pedir para Willem preparar os cachimbos enquanto comia. Willem obedeceu, e em alguns minutos ele tinha quatro cachimbos com erva de fumo, que entregou a cada um de seus companheiros, depois acendeu o seu e sentou-se perto dos outros. Vazs terminou sua refeição e comeu a fumar em silêncio, provavelmente pensando em como ia dizer o que quer que fosse que ele estivesse querendo dizer. A espera estava matando Willem, e ele resolveu concentrar-se em seu cachimbo.
Depois de uns momentos o efeito relaxante da erva começou a fazer efeito, e ele já não se sentia tão tenso assim, seus pensamentos mais anuviados. Até um esboço de sorriso formou-se em seu rosto, e ele não sabia se ficava contente por ser capaz de sorrir num dia daqueles. Mal reparou que Vazs estava falando, até que Willem pensou ter ouvido algo. Algo que realmente não esperava, que ele considerava absurdo, e começou a rir a plenos pulmões. Quando se conteve ele percebeu que todos o olhavam, intrigados.
Willem sorriu e disse “Desculpem-me, mas devo ter fumado demais.” Ele largou o cachimbo sobre a mesa e viu que os outros ainda o olhavam. “Pensei ter ouvido Vazs dizer que nós teríamos que sair da cabana. Mas como eu disse, devo ter fumado demais.”
“Ouviu perfeitamente” Retrucou Vazs, sério “Devemos partir em poucos dias”
“Mas por quê? Ninguém sabe que estamos neste local além de nós, e.. Garrow” Mas não podia ser, Garrow nunca tinha entregado ninguém. Willem olhou para Vazs, que assentiu.
“Sim, Garrow. Mas eu vou chegar nele.” Ele ficou quieto um instante, respirou profundamente, e continuou. “Vocês sabem que fiquei para vigiar os guardas. Eu estava numa árvore, a uns noventa metros da carruagem, quando eles chegaram. Parecia ser toda uma unidade de soldados de algum lorde, contei mais de vinte cavaleiros, todos de armadura e armados até os dentes. Vocês deveriam ter visto o alivio no rosto da garota quando pensou que estava salva..” Vazs agora mudara totalmente de sua expressão normalmente calma para uma mais escura. Em sua face havia uma raiva amarga, que Willem poucas vezes tinha visto no amigo.
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Na Escuridão da Floresta
FantasyA vida de um grupo de ladrões sofre uma reviravolta quando uma emboscada da errado e eles são forçados a se embrenhar no misterioso Coração Verde, a maior floresta do mundo conhecido, onde segredos antigos aguardam para ser descobertos.