Capítulo 4, Fuga

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O pulso de Willem acelerou na hora, e qualquer vestígio de sono havia desaparecido. Ficou esperando por mais cavaleiros atrás do primeiro, mas por enquanto só era um. Talvez tenham mandado um batedor pra ver se estamos mesmo aqui. O cavaleiro continuou, mas o cavalo vinha em passo lento, talvez não querendo chamar a atenção. Willem pegou seu arco e tirou uma flecha da aljava. Ele atirava melhor facas do que flechas, mas conseguiria acertar um cavaleiro naquele passo até com a pedra que estava em seu bolso se quisesse, mas de todas as opções Willem decidiu que o arco tinha um alcance maior. A pedra no entanto ele jogou na cabana, na esperança que algum de seus companheiros acordasse.

Willem desceu para um galho mais baixo conforme o cavaleiro foi se aproximando, na busca de um angulo melhor entre as folhas. O cavaleiro então passou pela árvore de Willem, que imediatamente falou “Parado aí! Não faça nenhum movimento se não quiser tomar uma flechada.”

Mas o cavaleiro não obedeceu e foi levando sua mão direita para baixo da capa, possivelmente tirando uma faca. Willem estava prestes a soltar a corda do arco, mas quando percebeu o homem tinha tirado apenas um odre de dentro da capa, para logo depois abri-lo e beber. Mas que porra é essa? Perguntou-se Willem, extremamente confuso. O homem então abaixou o capuz da capa, e ele viu quem era.

“Sou eu, moleque desgraçado.” Disse o velho Garrow. Mas ele estava com o rosto muito pálido e surrado. O velho fez menção de dizer mais alguma coisa, mas suas forças pareceram se esgotar e ele caiu do cavalo.

Willem afrouxou a corda, prendeu o arco nas costas e foi descendo da árvore. Quando chegou ao chão percebeu as portas da cabana se abrindo. Se os amigos não tinham acordado com a pedra, pelo jeito as vozes os acordaram.

Willem chegou junto a Garrow, que estava entre o desmaio e a consciência. O velho estava pálido, e com uma cara abatida. Quando ele olhou para a barriga do velho viu uma mancha enorme de sangue saindo de suas roupas de lã. Willem estava prestes a perguntar o que havia acontecido, mas Garrow interveio e pediu o odre. Ele passou o odre aberto para o velho, que tomou um longo gole de vinho.

Seus companheiros chegaram até eles e então ajudaram a levar o velho pra dentro cabana. A dúvida estampada na face de cada um.

Colocaram o velho Garrow perto da lareira, e ofereceram um pouco do ensopado mas ele não quis. Ele ficou um tempo grunhindo e tomando seu vinho, quando por fim resolveu falar.

“Me desculpem garotos… Eu ferrei com todos nós.” Mazzo fez menção de falar alguma coisa, mas o velho voltou a falar antes. “Umas semanas atrás veio um rapaz rico ao bordel, dizendo ser filho de um comerciante de especiarias e se gabando de como a porra da família dele era rica… Enfim, depois de muito vinho e de umas meninas ele falou sobre a comitiva, cujos detalhes dei a vocês.”

Ele fez uma pausa e continuou. “Essa noite, o mesmo rapaz bateu a porta de minha casa, quando eu estava prestes a ir ao bordel. Ele veio com guardas armados até os dentes, entraram em minha casa a força, quebraram tudo. Começaram a me pedir o nome de vocês e aonde estavam se escondendo. Eu não disse, e eles começaram a me bater, tentei tirar minha faca do cinto, mas fui desarmado.” O velho parecia envergonhado ao dizer a ultima frase. “Mesmo apanhando eu não falei nada, mas daí eles… eles botaram uma faca no pescoço da minha esposa, dizendo que se eu não falasse eles iriam mata-la. Eu não tive escolha. Me desculpem.” O velho então começou a chorar, um choro de um homem parecia ter conhecido a tristeza de forma muito profunda.

“E o que aconteceu depois?” Perguntou Gunther. “Por que você está ferido?”

“Dois guardas ficaram em minha casa. Eles me amarram. E um deles começou a passar a mão na minha esposa. Ela estava tão assustada. Eles levaram ela para minha cama, e eu não aguentei. Com o tempo eu consegui alcançar a faca em minha bota, mas nessa altura aqueles porcos já estavam prestes a estupra-la. Eu consegui cortar as cordas e matei o primeiro dos guardas, o segundo já havia despido minha esposa quando entrei no quarto. Consegui matá-lo. Mas ele também me acertou.” Disse ele, olhando para o ferimento em seu abdômen.

Na Escuridão da FlorestaOnde histórias criam vida. Descubra agora