Capítulo 11, A trilha

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Estavam em marcha novamente. Vazs já havia retornado da caça com alguns coelhos mirrados que se tornaram um ensopado e depois de saciarem sua fome puseram-se a caminhar. A mais de uma semana não chovia, e agora eles sabiam em qual direção iam: sul. Por muitos dias as nuvens impediram de saber por onde estavam indo, sem o sol era difícil de se localizar. E a orientação pelas luas era particularmente difícil na primavera – era uma estação de mudanças e todas as nove luas estavam em rotação, no verão as luas maiores apontavam para o norte, no inverno para o sul. No entanto, durante a primavera e outono elas estavam sempre girando, e qualquer um que tentasse se localizar por meio delas estaria mais perdido do que se caminhasse vendado. Mas mesmo nos dias nublados eles continuavam a caminhar. Como experiências anteriores haviam mostrado, não era bom nem interessante manter-se parado por muito tempo. E a não ser que houvesse alguma tempestade a caminho que exigisse abrigo, eles preferiam ficar entre as árvores e mantendo-se em movimento.

A prioridade do dia era água. Precisavam achar uma fonte, um regato ou um rio para terem o que beber. Seus odres estavam quase vazios. E embora fosse fácil arrumar água cavando o solo, eles preferiam as águas claras e correntes do que àquela marrom e barrenta que saia da terra. Willem sabia que muitos canais d’água cortavam o Coração Verde, ele mesmo já havia visto muitos nas últimas semanas. Mas agora eles pareciam estar se escondendo, negando-os o privilégio de suas águas vívidas e refrescantes.

Um relincho baixo fez-se notar em meio a algazarra de pássaros e insetos da mata dominada por salgueiros e teixos. Willem e seus companheiros notaram, e começaram a procurar por algum tipo de sinal: desde inimigos, até animais perigosos que poderiam estar nas redondezas. Mas nada se fez presente. Depois de alguns minutos o cavalo de Gunther relinchou novamente e Mazzo – seu condutor – tentou acalmar o animal. Mais adiante um cheiro úmido tomou suas narinas e Willem pensou estarem perto da água.

Sem demora começaram a explorar as redondezas, até que Willem ouviu o maravilhoso som de água corrente deslizando sobre as pedras e sobre si mesma. Correu animado em direção ao rio e o som ia ficando cada vez mais forte até que por fim o canal se materializou. Uma clareira abria-se a uma distância de dez metros das árvores, e lá estava: um grande rio caudaloso com mais de vinte metros de largura que refletia os raios cintilantes do sol no rosto de Willem e nas árvores ao seu redor.

“Achei!” Ele gritava. “Achei um rio, venham.”

Então ele tirou suas botas e seu cinto de facas, correu em direção a água e se jogou. Sabia que aquilo era infantil, mas havia tanto tempo que não tomava um banho que o seu cheiro já estava incomodando-o. Pulou de roupa e tudo na água, sem se preocupar no tempo que teria de esperar até as roupas secarem – elas também precisavam ser lavadas. A princípio as águas geladas fizeram-no se arrepender de ter pulado, mas logo se acostumou e a temperatura não o incomodava. Com sede, sorveu uma grande quantidade da água fresca do rio. Sentiu-se novo, todo o cansaço e preocupação que havia nele estavam sendo levados pela correnteza.

Willem nadou e mergulhou como uma criança que entrava na água pela primeira vez na vida. O dia estava quente, e água era o refresco perfeito para seu corpo e sua mente. Depois de um tempo de desvaneios e brincadeiras sobre a água, seus amigos chegaram.

“Entrem, a água está ótima.”

Mas eles não entraram, tampouco responderam. Estavam todos olhando com cara de idiota pra o outro lado do rio.

“O que foi? Por que vocês não entram?”

“Você não viu?” Perguntou Vazs.

“Viu o quê?”

“Então olhe, seu imbecil.” Vazs apontava o dedo para a outra margem.

A princípio Willem não viu nada além dos salgueiros, mas quando reparou melhor notou um caminho estranho entre as árvores. Do outro lado do rio havia uma trilha pavimentada com pedras.

Na Escuridão da FlorestaOnde histórias criam vida. Descubra agora