Estavam em marcha novamente. Vazs já havia retornado da caça com alguns coelhos mirrados que se tornaram um ensopado e depois de saciarem sua fome puseram-se a caminhar. A mais de uma semana não chovia, e agora eles sabiam em qual direção iam: sul. Por muitos dias as nuvens impediram de saber por onde estavam indo, sem o sol era difícil de se localizar. E a orientação pelas luas era particularmente difícil na primavera – era uma estação de mudanças e todas as nove luas estavam em rotação, no verão as luas maiores apontavam para o norte, no inverno para o sul. No entanto, durante a primavera e outono elas estavam sempre girando, e qualquer um que tentasse se localizar por meio delas estaria mais perdido do que se caminhasse vendado. Mas mesmo nos dias nublados eles continuavam a caminhar. Como experiências anteriores haviam mostrado, não era bom nem interessante manter-se parado por muito tempo. E a não ser que houvesse alguma tempestade a caminho que exigisse abrigo, eles preferiam ficar entre as árvores e mantendo-se em movimento.
A prioridade do dia era água. Precisavam achar uma fonte, um regato ou um rio para terem o que beber. Seus odres estavam quase vazios. E embora fosse fácil arrumar água cavando o solo, eles preferiam as águas claras e correntes do que àquela marrom e barrenta que saia da terra. Willem sabia que muitos canais d’água cortavam o Coração Verde, ele mesmo já havia visto muitos nas últimas semanas. Mas agora eles pareciam estar se escondendo, negando-os o privilégio de suas águas vívidas e refrescantes.
Um relincho baixo fez-se notar em meio a algazarra de pássaros e insetos da mata dominada por salgueiros e teixos. Willem e seus companheiros notaram, e começaram a procurar por algum tipo de sinal: desde inimigos, até animais perigosos que poderiam estar nas redondezas. Mas nada se fez presente. Depois de alguns minutos o cavalo de Gunther relinchou novamente e Mazzo – seu condutor – tentou acalmar o animal. Mais adiante um cheiro úmido tomou suas narinas e Willem pensou estarem perto da água.
Sem demora começaram a explorar as redondezas, até que Willem ouviu o maravilhoso som de água corrente deslizando sobre as pedras e sobre si mesma. Correu animado em direção ao rio e o som ia ficando cada vez mais forte até que por fim o canal se materializou. Uma clareira abria-se a uma distância de dez metros das árvores, e lá estava: um grande rio caudaloso com mais de vinte metros de largura que refletia os raios cintilantes do sol no rosto de Willem e nas árvores ao seu redor.
“Achei!” Ele gritava. “Achei um rio, venham.”
Então ele tirou suas botas e seu cinto de facas, correu em direção a água e se jogou. Sabia que aquilo era infantil, mas havia tanto tempo que não tomava um banho que o seu cheiro já estava incomodando-o. Pulou de roupa e tudo na água, sem se preocupar no tempo que teria de esperar até as roupas secarem – elas também precisavam ser lavadas. A princípio as águas geladas fizeram-no se arrepender de ter pulado, mas logo se acostumou e a temperatura não o incomodava. Com sede, sorveu uma grande quantidade da água fresca do rio. Sentiu-se novo, todo o cansaço e preocupação que havia nele estavam sendo levados pela correnteza.
Willem nadou e mergulhou como uma criança que entrava na água pela primeira vez na vida. O dia estava quente, e água era o refresco perfeito para seu corpo e sua mente. Depois de um tempo de desvaneios e brincadeiras sobre a água, seus amigos chegaram.
“Entrem, a água está ótima.”
Mas eles não entraram, tampouco responderam. Estavam todos olhando com cara de idiota pra o outro lado do rio.
“O que foi? Por que vocês não entram?”
“Você não viu?” Perguntou Vazs.
“Viu o quê?”
“Então olhe, seu imbecil.” Vazs apontava o dedo para a outra margem.
A princípio Willem não viu nada além dos salgueiros, mas quando reparou melhor notou um caminho estranho entre as árvores. Do outro lado do rio havia uma trilha pavimentada com pedras.
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Na Escuridão da Floresta
خيال (فانتازيا)A vida de um grupo de ladrões sofre uma reviravolta quando uma emboscada da errado e eles são forçados a se embrenhar no misterioso Coração Verde, a maior floresta do mundo conhecido, onde segredos antigos aguardam para ser descobertos.