Balançando com um ranger de agonia, a corda de cânhamo prendia Vazs pelo peito a cerca de quinze metros no chão. Quando o Filho-da-Lua o acertou ambas as cordas estavam soltas da árvore, ele despencou, mas enquanto seu corpo descia, ganhando velocidade e quebrando galhos, a fibra trançada prendeu-se na última linha de hastes que havia entre o tronco e o chão; salvando-o da vertiginosa e mortal queda de 40 metros.
Willem, no entanto, estava tão embasbacado com a figura mística à sua frente, que por mais que tentasse não conseguia dar atenção ao companheiro ferido.
E quando voltou seus olhos para o arqueiro, era tarde demais. Um novo projétil cortou o ar com velocidade e brilho. Mas dessa vez não acertou Vazs, e sim a corda, que partiu com o mesmo som de uma corda musical esticada ao romper-se, um estalido agudo e afinado. E, dessa vez, não havia nada para impedir sua queda.
Então um grito e o baque.
Foi um som seco, tão terrível que Willem sentiu uma onda de repulsa percorrer-lhe o corpo inteiro e atar um nó em seu estômago. Um som que ele demoraria a esquecer. Uma pancada seguido de centenas de pequenos estalidos, como se cada osso da cintura pra baixo de Vazs estivesse fraturado e em cacos. Mas surpreendentemente, ele estava vivo. Uma haste cinzenta quebrada de flecha saltava quinze centímetros pra fora de seu abdômen húmido e avermelhado exalando um perfume ferruginoso, e as pernas estavam torcidas num ângulo impossível. Willem estremeceu. O arqueiro estava com a espinha fendida, e não haveria nenhuma ajuda em meio à floresta e longe de qualquer civilização humana.
O amargo da bile tomou conta de sua garganta.
Vazs iria morrer.
Willem correu para onde o arqueiro estava estatelado, poucos metros do tronco, enquanto Gunther rugiu uma maldição e buscou uma flecha. Vazs grunhia penosamente de dor e tossia sangue, e com ajuda de Mazzo puderam ergue-lo com cuidado e apoia-lo na árvore.
Uma batida seca chamou a atenção de Willem. Gunther disparou uma flecha, e errou. E Willem constatou que, mesmo em momentos de raiva, Gunther jamais deixava de ser prático; tentava acertar o Filho-da-Lua com as flechas novas que havia feito depois do ataque da torre, que eram apenas hastes de madeira verde com penas de pato selvagem e com a ponta endurecida no fogo – a maior parte das flechas com ponta de aço dos arqueiros haviam sido usadas contra as criaturas, e as poucas que sobraram eram preciosas demais para serem desperdiçadas num tiro cego.
O lunar, vestindo um manto cinzento com detalhes em azul, estava a cerca de cem metros de onde o bando estava, e 30 metros acima do chão, na primeira linha de galhos da penumbra e de arco em mãos. Mas não fez mais menção de atirar e pousou a arma com delicadeza em uma bifurcação do tronco, então, com um movimento leve e rápido, puxou duas facas curvas da cintura e jogou-se contra o tronco. Aquilo espantou Willem, pois as lâminas eram tão afiadas que penetraram na madeira sem nenhuma resistência aparente, e sobre o peso do lunar desceram cortando e produzindo um som de madeira ao rachar.
O Filho-da-Lua estava no solo. Embainhou as facas, tirou o crescente das costas, e veio andando com leveza e arrogância até Willem e seus amigos.
Um turbilhão de emoções passava por sua cabeça e pareciam deixá-lo desnorteado. Vazs estava em sua frente, arfando e tremendo, mas consciente, e com a tez cada vez mais esbranquiçada. E aquele ser antigo e perigoso vinha até eles, de arma em mãos. Medo e excitação cresciam no âmago de Willem, e por uma vez ou duas seu coração esqueceu de bater.
Willem balançou a cabeça, forçosamente, tentando botar os pensamentos no lugar; o quê vem primeiro, primeiro. Então dedicou sua atenção a Vazs.
Gunther atirou mais algumas flechas, mas o lunar desviou-se com facilidade, e ele aguardou. Willem fez menção de falar alguma coisa para Vazs. Mas olhava para o companheiro sangrando e as palavras não vinham para a sua boca. Não havia o que falar. Nada além do que pareceriam mentiras confortáveis para um amigo moribundo que não acreditava nos Deuses. Para o alívio de Willem foi ele quem falou, com dor e dificuldade, torcendo a cara numa expressão de dar pena.
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Na Escuridão da Floresta
FantasyA vida de um grupo de ladrões sofre uma reviravolta quando uma emboscada da errado e eles são forçados a se embrenhar no misterioso Coração Verde, a maior floresta do mundo conhecido, onde segredos antigos aguardam para ser descobertos.