CAPÍTULO QUATORZE

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Dian não falou quando arrumava os restantes dos meus pertences. O macho estava calado, com uma expressão triste e mantinha os pensamentos distantes. E mesmo com nossa ligação, eu não conseguia ouvir as melodias dos seus pensamentos. Ele conseguiu criar uma barreira, uma imensa muralha que está nos separando. Ele foi até o Castelo se despedir da Rainha Yasmine, a Curandeira que irradiava luz e beleza. E quando voltou não estava amistoso e sorridente como nas nossas últimas noites. O príncipe permanecia calado, observando cada movimento do meu corpo.
Alguns preferem ficar sozinhos, mas para os Imortais o silêncio e a solidão podem causar danos irremediáveis na mente, no corpo e também na alma. Os laços com nossos parceiros nos possibilita manter a serenidade, promovendo a abertura de novos sentimentos e construindo uma vida mais saudável e feliz. Os imortais tem instintos primitivos, com comportamentos violentos. Com uma tendência bem selvagens e distintas.
As fêmeas acalmam os machos.
Os machos tranquilizam as fêmeas.
A imortalidade tem um preço, e às vezes pode causar transtornos extremamente agressivos. Nosso laço com um companheiro é um genuíno bálsamo, acalmando nossa verdadeira essência:  A vocação para matar.
— Como ela é? — Perguntei, tentando amenizar o clima melancólico.

— Ela quem?

— A sua filha!

— O nome de é Emmaline, é um doce. Tem os olhos da mãe, azuis-escuros…

Eu assenti, Dian melhorou a fisionomia quando falava da filha. A criança ama gatos, é apaixonada por animais de estimação. E tem uma mania estranha de falar com eles, ela pode ter dons naturais. É uma mestiça e com certeza herdou os poderes do pai, Dian tem um grande acúmulo de magia. Tenho dois milênios de vida, treinei muito para conseguir manter o meu autocontrole. E mesmo com todo meu conhecimento, treino e prática, sinto a minha magia balançar como um rede presa no galho de uma árvore quando Dian perde os controle das suas emoções.

— Podemos atravessar para O Mundo dos Mortos a qualquer momento?

— Sim, vamos usar um espelho como portal. É mais rápido e prático. — Digo, pegando minha bolsa. — Está Preparado?

O macho sorriu, fazia horas que Dian não esbanjava o belo sorriso que aprendi a amar com o passar dos anos.

— Sempre!

O macho nos teletransportou até uma imensa fazenda com várias árvores frutíferas, o local era bastante iluminado por lanternas e lamparinas presas nos caramanchão de flores que se estendia por uma longa ponte.

— Que lindo! — Os vagalumes misturavam-se com as luzes das pequenas velas. — Que cenário romântico!

Dian bufou, balançando a cabeça.

— É só uma ponte repleta de flores. — Diz, seguindo adiante.

— Por que está de mal-humor?

Ele não respondeu.

— Eu falei alguma coisa que não gostou, eu falei…

— Eu quebrei minha ligação com a Mayo! — Meu corpo congelou, como ele... — Eu não sei como consegui, apenas falei o tantra e aconteceu; — O macho passa a mão no cabelo por várias vezes, olhando para todos os lados. — Eu senti tudo, senti minha magia cortando aquele fio que nos unia. Estilhaçando nosso laço, os espíritos ficaram satisfeitos, mas eu… Não sei!

— Ficou arrependido? — É comum, Mayo era a sua Escolhida de Sangue. Dian amava a fêmea, mesmo ela agindo com indiferença.

— Eu só estou pensando na reação da fêmea quando ela acordar e sentir aquele vazio.

Ele ainda pensa no bem-estar da Curandeira, eu não consegui controlar meu riso de desdém.

— Eu quero voltar para casa, vamos buscar a menina. — Dian me seguiu sem dizer nenhuma palavra. Eu não mereço um macho apaixonado por outra fêmea. Eu não mereço presenciar esse arrependimento com uma mistura enjoativa de sofrimento.

— Mayo faz parte da minha vida, ela sempre esteve presente. — Meu Escolhido rebateu com uma voz ríspida. É claro, meus pensamentos foram enviados para ele.

— Então… — viro-me para encará-lo. — Volte buscá-la. Se ela é importante para você!

Ele só está me acompanhando, seguindo do meu lado porque sou a Senhora da Penitência. Tenho uma Corte no Outro Mundo, um exercício e tenho devotos. Dian está planejando derrubar meu pai, um Demônio de sangue puro, um Rei soberano. É quase impossível vencê-lo!

— Não é impossível vencê-lo; — O macho rosnou, mostrando suas presas pontiagudas. — Você é filha dele, conhece uma das suas fraquezas.

— Ele é um dos Três Reis Soberanos do Mundo dos Mortos; — aproximamos de uma varanda de uma imensa mansão de madeira. Com uma arquitetura magnífica, uma família de fazendeiros milionários vivem nesta propriedade. Simples agricultores não conseguem manter um lugar tão luxuoso. A Mansão era cercada por uma densa floresta e belíssimos jardins com as mais belas flores. As janelas medievais, com detalhes em gesso destacavam-se. Um ótimo ambiente para uma princesinha. — Você não vai conseguir, nunca, ninguém, absolutamente nenhum guerreiro ousou desafiá-lo, nem mesmo…
Prendo os lábios quando nome quase fugiu da minha boca. Nem mesmo Alam pensou em desafiar meu pai. Ele decidiu fugir com nosso filho e protegê-lo das garras do Rei.

— Nem mesmo? — Macho olhava-me com um semblante fechado. As íris verde-esmeraldas cintilavam com certa dúvida.

— Esquece, vamos acabar…

A porta principal abriu.
Uma Senhora usando um vestido longo, com cores neutras, passou pela porta. Ela mantinha o cabelo grisalho presos em uma trança lateral, um sorriso iluminou seu rosto castigado pelo tempo.

— Príncipe Dian, que bom revê-lo! — Disse a Senhora com o olhar fixo no meu perfil. — Trouxe uma convidada?

— Senhora Isolda, quero que conheça minha Escolhida. O nome dela é Morgana.

A Senhora aproximou-se, estendendo a mão para um cumprimento simples. Nada de reverências ou mesuras formais, apenas um aperto de mão. Gostei dela!

— É um prazer conhecê-la.

— Ela tem a beleza da Lua e os olhos têm os brilhos das Estrelas. Dian, que preciosidade. Uma companheira muito especial; — ela vira-se na minha direção. — Você tem descendência feéricas?

Sorri, impressionada com o conhecimento da Senhora, uma humana com 50 ou 60 anos.

— Minha mãe era uma Fada, uma Sídhe Insetívora.

— Que maravilha, vamos entrar!

A Senhora nos guiou com muita educação para dentro da Mansão. Os cômodos eram belíssimos, o hall da entrada era revestido por ladrilhos clássicos. As paredes em madeira maciça e envernizadas, os detalhes feitos por um ótimo carpinteiro. A sala principal encontra-se uma transição com todo revestido de madeira. As paredes agora ganham uma cor natural e uma gigantesca lustre de cristal brilhavam com a iluminação dos candelabros.
Os móveis modernos, belos e espaços. Sofás com couro vermelho, várias tapeçarias presas nas paredes. E um imenso espelho próximo da lareira. Perfeito, um ótimo portal para unir com a minha Corte.
Uma garotinha brincava com algumas bonecas, sentada no tapete aconchegante da sala. Ela usava um pijama simples, uma criança pequenininha e delicada. Tinha cabelos acobreados como do pai, mas quando um par de olhos azuis-escuros nos encarou com curiosidade, eu fiquei completamente fascinada. Eram duas esferas, lembrando as próprias pedras da morte que encontramos no meu Mundo. As pedras são raras, possuindo uma tonalidade linda e iridescente. O brilho azulado muda de acordo com o ângulo da luz, tornando um verdadeiro tesouro no Mundo dos Mortos. Os olhos da garotinha não era comuns, eu soube no exato momento que ela era incrivelmente especial.


Dian - O Príncipe Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora