Corte de Escuridão e Magia

A Família

Runa

Voltei para a casa o mais rápido que pude. Aquele barulho não me era estranho já vi animais, e até eu mesma, emitindo o mesmo som quando estava voando. Quando pouso sob a árvore coberta de neve em frente a nossa cabana escondida, me transformo mais uma vez em mulher e digo as palavras corretas para que se abra uma fresta por onde posso passar e chegar finalmente em minhas irmãs.

Quando adentro a cabana estão todas lá, no mesmo lugar que as deixamos quando saímos para a caminhada. Maldita caminhada! Por que inventei isso hoje? Não sei como vou contá-las sobre o que aconteceu, mas preciso avisar a todas.

-Cadê a Yomi? – Levei um susto quando Niume surgiu do meu lado, confusa e a procura da irmã.

Não consigo mentir para seus olhos castanhos, tão penetrantes e hipnotizantes. Ela usava um vestido simples e lilás que combinava só com ela e mais ninguém.

- A Yomi tá... resolvendo um probleminha... – Os olhos de Niume me encaram, chocados. Não só os dela, mas de todas as outras. Começo a me explicar – Escutei algo se aproximando da gente e ela me pediu para ir embora... E eu fui.

- Deixou nossa irmã sozinha na floresta, em um possível perigo?! – Honorra, surge andando lentamente, falando cada palavra com muita cautela, seu vestido era longo e vermelho o que dizia bastante sobre quem era, Niume diz que ela é a impaciência em pessoa. As velas faziam sua pele parecer mais quente, apesar de ser branca como a minha. Horra, parou quando chegou pertinho de mim e continuou – Está ficando louca, garota?

- Não me chame de garota. – Olho diretamente em seus olhos, as cores deles me encaram de volta- Ela mandou eu voltar, não ia começar uma discussão naquele momento.

- Yomi é precipitada, não sabe direito o que faz... - Ela disse respirando fundo e fechando os olhos, azul e preto cada um deles de uma cor, me faziam tremer de medo a cada encarada de Honorra para mim. – Bom, está feito. Agora devemos pedir aos Deuses que protejam nossa irmã, já que você não pôde fazer isso. – Ela vira de costas para mim, e seus cabelos cor de fogo estão presos, assim como os meus, numa trança. Continua o trajeto afim de se sentar no sofá junto a Sybilla.

- O que acha Syb? – Ela continua falando agora direcionada a nossa outra irmã – Que tal uma cama nova? Não era você que estava reclamando do espaço? – A ironia carregada em sua voz me faz revirar o estomago, mas não sou eu que a responde.

- Calada, Horra – Niume, finalmente diz alguma coisa- Yomi sabe o que faz, tenho certeza que já lidou com momentos piores. – Do outro lado, Honorra bufa em resposta e Syb continua calma, sem expressão alguma, apenas balança a cabeça em negação a situação enquanto mantem seus olhos fixos no livro que segura.

- Até Syb, sabe que isso tudo é só um momento difícil, mas vai passar. – Digo logo em seguida- Nossas melhores chances estão em pedir aos Deuses que nossa irmã volte bem e continuar aqui dentro, seguras.

- Não vamos durar muito se pegarem Yomi – Com uma mistura de medo e ironia ela continua com uma risadinha entre a fala – Foi um prazer conhecê-las.

- Não vamos morrer hoje. – Diz Niume, firme nas palavras, mas a sua insegurança ainda apertava meu braço. – Eu sei que não vamos.

Incapaz de concordar com ela só continuo ali, em pé ao seu lado. Honorra, se levanta vai até uma imitação de cozinha que tínhamos feito, era pequena e organizada.  Ela volta com uma taça nas mãos, ignorando a fala da outra irmã.

- Se vamos morrer- Ela diz entre um gole e outro na taça- Eu espero estar bêbada quando a Guarda vier e nos colocar numa fogueira.

- Não estamos em Nyx, Honorra. – Me pronuncio e vou em direção a minha irmã- Os costumes desse povo não incluem queimar bruxas, eles mal nos conhecem.

- Não importa onde estivermos – Mais um gole na taça, com a voz fria. Eu me ajoelho ao seu lado afim de escutá-la. – Em todas as terras, seja ela onde for, aquilo que eles não conhecem, gera medo, e o medo – Uma pausa e mais um gole, e dessa vez ela olha para mim, seus olhos estão marejados- ele nos destrói.

- Prometo que não vai acontecer nada de ruim conosco, minha irmã. – Meus olhos verdes e os olhos azul e preto dela, se encaram. As lágrimas que se formavam ali, se vão. E ela se levanta.

- Não prometa nada que não possa cumprir, minha irmã. – Ela se vai, assim como apareceu, lentamente e medindo cada palavra pronunciada.

Sento no chão e sou acolhida pelos braços de Niume, sua pele era macia e um dia já foi mais bronzeada, infelizmente o inverno e os tempos dentro da cabana a deixaram mais pálida. Ela me consola mesmo sem dizer nenhuma palavra. No fundo eu sabia que não deveria ter deixado minha irmã sozinha, mas estava com medo e obedeci a suas ordens. Não queria causar nenhum dano a ela, mas foi o que fiz. Não saber como Yomi está, me corrói por dentro. Sei de suas capacidades, e tento me enganar dizendo:

- Ela sabe se cuidar sozinha – Não digo isso a ninguém em especifico, é mais um pensamento alto do que uma fala- Eu sei que pode se cuidar.

De cima, Syb nos observa, vestido cinza e as madeixas compridas e pretas como a noite estão soltas e de lado em um só ombro, os olhos pretos estão brilhando, porém, a boca não diz nenhuma palavra. Niume assente concordando com o que eu disse.

- Acredita que ela vai voltar, Syb? – Dessa vez as palavras são totalmente direcionadas a minha irmã mais quieta. E sem som, a mesma dá um leve sorriso e assente que sim. Sua pele também já foi mais vívida, os nuances dourados combinavam com o tom mais escuro. O tempo na cabana também não tinham sido bons para ela.

O que importava no momento eram os mais simples dos gestos que recebo, um abraço de Niu e o sorriso de Syb, me confortam. Sei que apesar das circunstâncias estou a salvo, em casa, com a minha família.