Horror

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Niume

Fazia seis dias desde que Abayomi retornou com a notícia de que poderíamos permanecer nessas terras, e que seríamos bem-vindas não só para continuar ali, mas também fazer parte da Corte da Grã-Senhora que apareceu para conversar com ela.

Essa criatura foi descrita despertando muita curiosidade entre todas nós, ela parecia ser uma boa pessoa, apesar de Honorra nos ter lembrado de que não poderíamos nos entregar tão fácil assim, com certeza eles teriam diversos termos e restrições que deveríamos seguir a partir do dia que entrássemos em sua Corte.

- Tudo bem, já verificaram se não estão esquecendo nada? – Abayomi disse, preocupada. 

Estávamos prontas, pegamos a maioria das coisas e colocamos em nossas malas, a Runa as chamava de "Malas sem fundo", o conceito era esse mesmo, poderíamos colocar qualquer coisa dentro delas e seu tamanho era imensurável, caberia um zoológico todo ali dentro e seu formato permaneceria o de uma simples mala de viagem.

- O que foi deixado aqui, é por precaução, caso alguma coisa dê errado, temos um lugar a recorrer. – Honorra dizia enquanto estava olhando todos os cômodos da cabana- É, está tudo certo. Podemos ir.

O frio na minha barriga dizia que apesar de não gostar nada de ficar dentro daquela cabana ela nos fazia sentir seguras, e agora estávamos deixando esse conforto para trás, acreditando em estranhos e tentando mais uma vez reconstruir uma vida. Sabia que cada uma delas estava se sentindo do mesmo jeito, até Honorra que é a pessoa mais durona que conheço parece estar nervosa agora. Sybilla reforçou os feitiços usados para esconder nossa cabana e definiu que estava pronta.

Yomi comentou sobre as vestes bem trabalhadas de cada um dos Féericos que tinha encontrado, em especial o da Grã-Senhora, que apesar da cor simples reluzia e brilhava na noite escura, e Honorra insistiu que usássemos as nossas melhores roupas porque não queria parecer que era inferior a nenhum deles, concordei com ela, apesar de não me sentir tão confortável no meu vestido.

Eu estava usando um vestido apertado e de comprimento médio, com algumas pedras e desenhos bordados tanto na cintura quanto na parte onde havia um decote e as mangas mais grossas. O vestido de Runa era bem parecido com o meu, exceto pelas mangas mais longas e a cor, ela usava azul e eu lilás.

Syb fez questão de prender os cabelos num penteado mais trabalhado, usava um vestido cinza claro, era quase branco, longo e com mangas compridas, sem muitos detalhes, mas o colar que usava era extremamente brilhante.

Yomi, parecia a própria noite estrelada, usava um vestido longo preto cheio de pedras brilhantes perto do decote em V. O penteado era de lado, deixando o cabelo escuro cair do lado esquerdo do ombro. Horra, era idêntica à uma chama viva, os cabelos laranjas avermelhados complementavam o vestido longo vermelho, tão intenso quanto sangue.

Todas usavam capas de frio, apesar da elegância ainda era Inverno e precisávamos nos proteger dos ventos gelados. Quando pisamos para fora da cabana, ainda era o começo da manhã, os animais estavam despertados, e o sol já brilhava no horizonte. O dia anterior não teve nevascas, então o solo estava mais seco e com pouca neve.

- Tem certeza do que viu, Runa? – Honorra pergunta.

- Sim, eles estavam lá. Foi difícil encontrá-los, parece que se escondem – Runa conseguiu dizer apesar do nervosismo- Apesar das caras feias, são pouco protegidos, tirando os guardas não há nada muito especial que os protejam.

- Não tenho tanta certeza sobre esse plano – Eu digo, mais por impulso, porque acreditava que conseguiríamos, mas a ideia de falhar me assustava – Você disse que eles são muitos...

- Niu, podemos fazer isso. – Abayomi se aproxima de mim e põe a mão nos meus ombros – Se estivermos juntas, garanto que nada ruim acontecerá. – Não tive coragem de dizer nada, apenas assenti para ela que continuou dizendo – Syb, pronta?

O papel de Syb, no plano, era nos transportar para o lugar que Runa tinha investigado durante os últimos três dias, ela havia descoberto uma organização escondida, com muitas pessoas e pouca magia protegendo, o lugar perfeito para anunciar nossa decisão, já que nenhum dos lados haviam entregado localização, precisávamos de uma boa aparição para chamar a atenção, tanto do rapaz alado que esteve em nossa cabana, quanto dos outros guerreiros e de seus superiores.

Sybilla é extremamente boa em todos os feitiços que desenvolve e que aprende, o portal a nossa frente se formou em poucos segundos após ela mover os braços e mãos em movimentos específicos. Estava ali, nossa porta de entrada para um pequeno Caos. E todas nós nos direcionamos para ele, de braços abertos para o que viria.

A sensação de passar pelo portal era estranha, fazia cócegas e dava um pouco de enjoo, nada muito intenso. Um brilho nos esperava do outro lado, e eu o segui. Chegando mais perto era possível ver um grande salão com algumas pessoas concentradas lá, todas voltadas para nós, mesmo que não conseguissem nos ver era provável que o brilho do portal estivesse presente naquele salão também.

Saímos uma por uma, do outro lado do portal, seguidas pelo olhar das pessoas de terror e desespero. Os guardas estavam prontos para atacar e proteger seu povo. Notei duas pessoas que exibiam uma postura ereta e serena, não estavam com medo ou pelo menos não deixaram mostrar que estavam.

O resto das pessoas concentrou suas forças em sair correndo pelo salão e se esconder no lugar mais seguro que pudessem. Não gostava da sensação de assustá-los, eles iriam nos enxergar como uma ameaça, e não era a verdade.

- Fiquei curioso em saber que tipo de visita eu poderia receber depois do que Feyre me disse – o homem disse primeiro, estava atrás de alguns guardas, mas continuava sem parecer temer qualquer uma de nós.

- Desculpe pelo transtorno, creio que seu povo não está muito acostumado com esse tipo de magia. – Foi Honorra que se atreveu a pronunciar primeiro. – Espero termos a oportunidade de nos desculparmos com todos eles. – O rapaz não a respondeu apenas disse que sim com a cabeça e direcionou-se para a outra irmã.

- Acho que foi você de quem eu ouvi falar – Ele disse se referindo a Abayomi e ignorando Honorra- está causando vários burburinhos entre o povo Féerico.– Ele continua a olhando com certa admiração.- Fiquei impressionado assim como ela disse que ficaria.

- Fico grata pelos elogios – Abayomi o responde, um pouco ríspida – Infelizmente, meus assuntos não são com o senhor.

- E com quem deseja se retratar? – Agora quem fala é a mulher ao seu lado, ela recebe um olhar de desaprovação do homem, mas o ignora.

- Gostaria que informassem Azriel – Minha irmã a responde, e a mulher torce um pouco o nariz com o pronunciamento desse nome – Diga que Abayomi está aqui.

Alguns guardas desapareceram num piscar de olhos do salão, provavelmente para informar Azriel que estávamos ali a sua espera. Não ousei dizer nada, aquele ambiente não era confortável para mim, estar de baixo da terra me deixava tensa, apesar da arquitetura exuberante, aquele lugar me dava arrepios e de longe era o lugar mais horripilante que estive por essas terras.

Corte de Escuridão e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora