Alarde

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Cassian

- O que nas 7 cortes esta bruxa faz aqui? – Gritei. 

Eu não podia ver minha própria feição, mas deveria estar expressando toda minha raiva, porque Azriel não teve nenhuma reação além de arregalar um pouco os olhos.

- Senti sua falta também, guerreiro. – A bruxa, sempre com o tom debochado, me respondeu. – Ainda bem que me certifiquei de isolar essa casa do resto do Acampamento, caso contrário, depois desse escândalo, as 7 cortes já saberiam da minha presença.

Então, os olhos arregalados de Az não eram pela minha fúria estampada no rosto, mas pelo grito que ecoaria pelo acampamento todo se não houvesse um feitiço o impedindo.

-Não vou te julgar por não pensar claramente. Todos erramos. – Ela se levantou e foi na direção da cama. 

Num movimento muito rápido, tanto que nem ela percebeu, eu estava na sua frente exibindo meus dentes e presas afiadas, a impedindo de tocar em Nestha. 

- Uh, parece que temos alguém muito importante dormindo por aqui. Nestha, não é?

Nenhum espanto em seus olhos, a calma ainda era sua maior defesa.

– Não vou feri-la – Ela continuou - pode guardar seus dentes para algo mais recreativo com a sua donzela.

- Não vai nem sequer encostar nela. – Eu disse.

Ela inspirou profundamente e parou um pouco escutando o silêncio

- Está a torturando, não percebe?- A Bruxa fechou os olhos e pareceu deixar os ouvidos mais aguçados - Ela tem pesadelos, seus batimentos estão acelerados. A prender num sono é praticamente tortura. Se realmente sente algo por essa fêmea, deveria acordá-la.

Abandonei a postura raivosa e tomei certo momento para pensar em alternativas e na observação feita pela bruxa. Todas as cenas com Nestha passaram na minha cabeça como breves memórias, dolorosas e breves.

- Posso acordá-la, se quiser... – Ela voltou a tagarelar e eu voltei para aquela sala.

- Eu posso fazer isso sozinho.

Fui até o pequeno armário da cozinha, abri a porta e encontrei o frasco azul claro que precisava. Era uma poção feita pela curandeira para acordá-la quando tudo se estabilizasse. O momento ideal não seria agora, mas pude imaginar todos os pesadelos terríveis que Nestha estava tendo e um nó nasceu na minha garganta. Precisava terminar esse sofrimento, mesmo que quando acordada os pesadelos continuassem, ela teria controle deles. Aquilo era realmente tortura.

Voltei para a sala onde ficava a cama, me abaixei perto de seu corpo, tão próximo que podia sentir seu cheiro, sua respiração e se prestasse atenção poderia ouvir seus batimentos acelerados. Abri o pequeno frasco e passei levemente debaixo de seu nariz, a cabeça mexeu levemente e os olhos foram abrindo. Quando estavam completamente abertos, ela olhou no fundo dos meus olhos e por alguns instantes pareceu aliviada, a sensação foi embora do mesmo jeito que veio, os olhos voltaram a refletir o vazio e ódio.

Ela me atacou. 

Se levantou rapidamente e se impulsionou em minha direção e me atacou com um golpe preparado com as mãos. Mas foi paralisada ainda no ar.

Em pouquíssimo tempo, sombras envolveram seu corpo, logo em seguida fui abraçado pela brisa quente e escura das sombras também. Era confortável, mas impossibilitava movimentos.

- Vejo bem como esse relacionamento é extremamente adorável – A bruxa disse com ironia. – Não estou os machucando, pode ficar tranquilo Mestre Espião. – Finalizou a frase olhando para Azriel que já se preparava com a adaga nas mãos.

Corte de Escuridão e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora