Infiltrada

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Runa

Os dias já estavam ficando mais quentes no sul, a neve já estava derretendo e as ruas voltaram a ganhar movimento nos últimos dias. A vida começava a surgir.

No primeiro dia nas terras mortais, mantive a águia branca como minha pele para observar, principalmente as pessoas. Parte do trabalho de espiã é ser normal, agir, pensar, falar, vestir e ser normal. Cada tribo e espécie define o que é normal para si. Essa civilização aparentava ter sofrido com a guerra e tudo que se deriva dela. As roupas eram simples, não cultuam nenhum deus, vendiam a maioria de seus produtos em feiras ao ar livre e a aparência era um pouco mista. Alguns possuem a pele mais clara como a minha, já outros têm a pele oliva e ainda há aqueles que possuem a pele mais escura e brilhosa, quase como se olhasse para um diamante negro.

Os cabelos iam do mais liso ao mais encaracolado e em geral, possuíam os cabelos escuros, o mais claro que observei, foi um marrom-claro, quase chegando ao loiro acinzentado. Mas nenhum cabelo branco. Meus cabelos já não são normais aqui.

No segundo dia, observei o movimento e produtos da feira, ainda na pele da águia. Havia caçado um rato naquela noite e estava satisfeita durante um bom tempo. O dia todo foi observando sua língua, costumes, jeitos, negociação e tudo mais.

No terceiro dia, sobrevoei a cidade central e achei alguns pontos que seriam interessante ser observados mais de perto: O palacete e uma grande mansão. Se há um lugar ao qual podem estar escondendo um Grão-Senhor teria que ser ali.

No quarto dia, me envolvi na chegada de uma carruagem com vários desconhecidos e desembarquei junto a eles. A pele que vestia era a minha, sem muito brilho nos olhos e face, vestidos e casacos simples e os cabelos castanho-escuro. Agora me parecia com o povo e poderia me disfarçar com facilidade pelos humanos.

Andei pela feira, fiz algumas compras de alimentos e conheci alguns mercadores, esses mesmos me recomendaram uma hospedaria e seria lá que passaria a noite.

A comida não era excelente, mas estava muito melhor do que o rato da noite anterior. Fui dormir logo após o jantar, me preparando e refazendo os planos para primeiro me infiltrar no palacete.

Eu sabia de algumas informações: Magia possivelmente estaria sendo usada para segurar e manter o Grão-Senhor e as rainhas devem estar ligadas a esse sequestro. E acredito que possa lidar com rainhas e magia.

Na manhã seguinte, arrumei minhas coisas na hospedaria e reservei mais uma noite para caso precisasse. E parti em direção ao palacete.

Os guardas estavam todos a postos e os vigias também. Com essa pele seria praticamente impossível entrar ali. Como águia poderia parecer muito suspeito um sobrevoo dois dias seguidos pelo mesmo animal e já que magia era uma possibilidade, resolvi arriscar menos: Seria um camundongo. Não tão grande e horrorizado pelos mortais como um rato, mas tão ágil quanto.

O beco perto do palacete ajudou a transformação. Tudo ia ficando maior e desproporcional, mas já era um costume. Passei por uma das frestas entre pedras da muralha que cercava o palacete, corri pelo campo de grama, ainda um pouco coberto de neve, achei a porta dos fundos do lugar e esperei que alguém desse a deixa. Alguns minutos de espera e duas mulheres saíram uma em seguida da outra, discutindo a arrogância de alguma outra pessoa.

- Ela não sabe tratar as pessoas bem. - Uma das mulheres saiu quase gritando em protesto - Não existe um dia em que ela não nos faça sentir horríveis.

A última fresta da porta que se fechava foi o suficiente para que eu passasse com sucesso. Lá dentro era como qualquer figura de palácio já descrita em qualquer livro. Quadros pelas paredes, escadarias, tapetes e móveis grandes e bem decorados.

Me escondi atrás de uma estante para poder sentir, Syb nos ensinou a sentir a magia quando está próxima.

Nenhum sinal.

E tínhamos duas opções: Ou esse não era o lugar correto ou não estavam usando magia.

Fiquei tão concentrada que não reparei quando as senhoras que estavam lá fora entraram novamente começaram a arrumar o cômodo. Camundongos são um pouco mais simpáticos aos mortais, porém, ainda significavam sujeira e desordem. Se elas me encontrassem seria meu fim.

Fiquei a todo tempo parada junto à estante, evitando muitos movimentos e deu certo, elas foram embora. Entretanto, quando estava me dirigindo ao andar superior pelas escadarias, uma criança me encontrou.

- Olha o que eu achei! - Ela me pegou pelo rabo e começou a me analisar - Vou mostrar para mamãe. Mamãe, mamãe, venha cá ver isso.

Tudo bem, não era meu fim, mas se parecia muito com ele. A criança foi correndo me carregando com muito carinho e eu não podia ferir a imagem dos camundongos e ferí-la. Então segui o caminho até o quarto do que seria a sua "Mamãe".

A criatura que estava na cama parecia muito velha para poder ter uma filha na idade daquela garotinha.

- Olha que animalzinho mais fofo, mamãe.

- Isso é um rato, Aurora. - A mulher na cama pareceu irritada e enojada - São asquerosos e trazem doenças

- Isso não é verdade - Aurora replicou - Esse daqui é bonzinho, estava andando pela casa quietinho quando o vi.

- Querida, quero que faça uma única coisa- A mãe respira fundo e continua-  Deixe esse animal do lado de fora do Palácio. Esse tipo de animal não deve andar com uma princesa.

A garota parecia chateada, mas sua mãe convenceu que era melhor me deixar livre e eu a agradeci internamente.

Aurora me levou até o quintal e me soltou por lá.

- Adeus, animalzinho. Espero que fique bem.

Rapidamente corri e tropecei em uma argola, parecia algum tipo de alçapão. Coloquei minha pata sobre a madeira e senti. Uma pequena vibração de magia me atingiu e eu sabia que algo estava ali.

Nenhum buraco na madeira me permitiu passar por ele, então eu esperei. À espreita por longas horas. Até que dois guardas saíram de dentro, ambos armados dos pés à cabeça. Algumas lâminas eram de aço, já outras, eram de Freixo. A única coisa capaz de ferir um feérico. Então todas as minhas maiores apostas estavam ali.

O Grão-Senhor estava ali dentro. 








NOTAS DA AUTORA
Quem é vivo sempre aparece... cá estou. Feliz 2021 a todos <3 Cada comentário, mensagem, visualização e voto me deixa com um quentinho no coração que eu não sei explicar. Infelizmente não estou conseguindo escrever na frequência e quantidade que havia planejado, porém, meu objetivo é finalizar essa história antes de mais nada. Tenho um projeto de escrever um original, mas se eu começar tenho certeza que não vou conseguir finalizar aqui, por isso, vou adiar o original e me dedicar esse ano a finalizar essa fic. Mesmo que tome o ano todo hahaha 

Daqui pra frente, as coisas vão só ficar mais tensas e perigosas, afinal, a tão famosa reunião está chegando. Vamos ver no que dá. 

Obrigada pelos 8.3K de visualização e 1.1K de votos <3 cês são demais!!!

Não prometo nada, mas em breve nos vemos. 


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⏰ Última atualização: Jan 30, 2021 ⏰

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Corte de Escuridão e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora