Despertando

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Azriel


Havia passado duas luas desde a última vez que a vi com os olhos abertos, o corpo se mexia às vezes, parecia reclamar e sonhar com algo terrível, mas não ousava abrir suas pálpebras. Curandeiras foram checar sua saúde e disseram que estava bem, precisava apenas descansar. Não tínhamos ideia do que havia acontecido naquele meio segundo ao qual Nestha e Abayomi se tocaram, a féerica permanece em sono profundo assim como a bruxa.

- Precisa de mais alguma coisa, senhor? – Uma das ajudantes das curandeiras surgiu e me chamou. Apenas balancei a cabeça em negação e ela se foi.

Algumas velas estavam acesas para manter o lugar confortável para descansar, porém não tão escuro para tropeçar e derrubar uma pilha de medicamentos.

Eu a observei pelos últimos dois dias, sentado em uma cadeira pouco confortável e comendo as comidas oferecidas pelas funcionárias da Casa. Não eram muito saborosas, faltava tempero e gosto. Mas a gentileza das fêmeas que estavam cuidando de Abayomi me convenceram.


Cassian veio até Velaris hoje de manhã, trouxe algumas informações sobre os Illyrianos, o exército da fronteira entre terras féericas e mortais e por mais que ele lutasse para demonstrar neutralidade quanto ao caso de Nestha, era impossível esconder a preocupação de seus olhos quando o assunto surgia. Não foi permitido que ele viesse até a Casa de Cura, mas ele ainda exigia respostas para o ocorrido no Acampamento. Seus olhos também pareciam estar bravos comigo quando teve que me olhar diretamente, ele ainda não tinha aceitado a ideia de eu ter levado a bruxa até o acampamento. Mas os olhos furiosos de Cassian, não chegaram aos pés das feições de Feyre. Estava realmente assumindo a possibilidade dela me esmagar apenas com a mente durante nossa reunião. Rhysand, apesar de bravo, não pareceu tão interessado em me matar e eu fiquei aliviado por isso.

Dois dias, passados aqui. Preso a uma cadeira e um corpo desacordado. A maior tortura, não é a cadeira de madeira totalmente desconfortável ou as noites sem dormir, e sim a curiosidade. O que aconteceu naquele toque? O que fez a terra tremer tão intensamente quanto gigantes duelando?
Havia tantas perguntas na minha cabeça que considerei furtar o estoque de poções bloqueadoras de dor durante a noite.

Mais uma vez o corpo de Abayomi começou a se mexer, as mãos se moviam como se tocassem algum instrumento imaginário, a cabeça se movia para os lados se esquivando do invisível e os olhos por baixo das pálpebras mexiam rapidamente.

Ela fazia isso com certa frequência, mas ainda sim, voltei a ficar em alerta. Alguns minutos se passaram e parou. Estranhamente parou. Não como as outras vezes, quando parava aos poucos e relaxava os músculos. Ela subitamente parou.

Me levantei rapidamente e fui de encontro ao seu corpo, os batimentos estavam fracos a respiração mínima. Me apressei para chamar alguém, mas fui interrompido por uma mão que agarrou meu braço.

Ela puxou o ar com a mesma força que apertava meu braço, e continuou puxando o ar para os pulmões até que conseguiu estabilizar e respirar mais lentamente. Foi soltando meu braço até que segurava eles com leveza.
- Desculpe-me – ela disse ainda com muita dificuldade – precisava sentir alguma coisa além do vazio.
Meus olhos piscaram algumas vezes, talvez desacreditado de que ela realmente havia acordado.
- Vou chamar alguém. – Foram as únicas palavras que consegui dizer e quando continuei meu caminho, sua mão me apertou novamente, não como uma ordem, mas um pedido.

- Não preciso de ninguém, você não a escutou? – Ela tossiu entre as risadas enquanto falava - Estava apenas descansando.

Não precisava. É claro.

Corte de Escuridão e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora