A Corte

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Honorra

Estava tudo muito entediante, mesmo com aquele homem tentando arrancar informações e Abayomi se esquivando das respostas. Não aguentava mais escutar aquelas vozes, tanto a de minha irmã quanto a do Homem. De vez em quando a Mulher ao seu lado dizia algumas coisas e por enquanto ela só tinha se mostrado como era uma péssima pessoa. Os olhares de Niume para aquele lugar eram de desespero, Runa também não estava muito confortável e me encarava a cada arrogância dita pelas outras criaturas como se esperasse que eu fosse explodir a qualquer momento, era como observar uma fogueira começando a pegar fogo, e faltava pouco para eu carbonizar completamente e ser desagradável com eles.

Sybilla, por outro lado, continuava sendo o poço de paz e esperança que sempre foi. Observava tudo e as vezes encarava as irmãs só para se certificar que nenhuma de nós estava prestes a causar uma imagem pior naquele lugar. Ela era muito boa nessa atividade, observar e absorver, e seus olhos diziam mais palavras do que eu e Abayomi numa discussão. Naquele lugar, ela não parecia confortável, mas não estava amedrontada. Sei que no momento ela está preocupada com as irmãs, porém, estava pronta para proteger cada uma delas se fosse preciso.

O silêncio foi geral, quando as portas se abriram e ali estavam duas figuras. Uma delas eu reconheci, Azriel, estava com os mesmos trajes da última vez que nos encontramos, as joias cintilantes presentes na armadura brilhavam intensamente, diferente daquele dia na cabana que estavam quase apagadas. Ao seu lado, outro homem alado, com os mesmos trajes e mesmas joias, as cores eram distintas, desse pareciam rubis, tão vermelhos quanto sangue. Eles tinham estaturas diferentes, o vermelho era mais baixo, tinha os ombros largos, as asas também eram menores, mas nada muito discrepante, o seu olhar também não era dos melhores, a cara estava preocupada e fechada, e assumo que seu humor não esteja dos melhores...

- Por que a cara fechada, Guerreiro? – Abayomi, sempre muito debochada, eu odiava e amava isso nela ao mesmo tempo, no momento estava adorando. – Espero não estar atrapalhando nenhum de seus planos para hoje.

- Duvido que eram bons planos, também – Embarco na brincadeira com Abayomi que abre um pequeno sorriso. – Meus cumprimentos aos senhores, devem saber quem sou a essa altura do campeonato.

Percebo um desconforto no guerreiro dos rubis e uma leveza em Azriel, sua expressão era quase como se fosse dar uma risadinha.

- Não tenho tempo para suas brincadeiras, senhoras. – Ele finalmente diz alguma coisa, como era mesmo seu nome? Yomi havia nos ditos, mas eu me esqueci. – Adoraria que me acompanhassem, temos várias coisas a resolver ainda hoje. – Forçou um sorriso extremamente falso e virou de costas, seguindo o caminho mesmo sem saber que iríamos o seguir.

Azriel cumprimentou o Homem anfitrião da nossa chegada surpresa com um aceno e olhou para todas nós como se desculpasse pela ação do irmão e nos convidando a segui-los.

E assim fizemos, fomos seguindo os dois, cercadas por outros guerreiros, o que particularmente me incomodava bastante, mas não me pronunciei. Seguimos por alguns túneis que mais pareciam labirintos, depois de algum tempo de silêncio e caminhada foi possível ver uma fresta de luz no fim de um dos túneis. Terminando, pudemos respirar ar puro novamente, o ar frio do inverno ainda pairava e me fez ter um arrepio.

- Preciso revistá-las – Foi um dos guerreiros que nos cercavam que começou a dizer.

- Medidas de segurança- Azriel completou, calmo e sincero- Vamos ficar com as suas malas também, por enquanto.

Cada uma de nós se olhou e concordamos em entregar nossos pertences, cada mala foi colocada no chão. Os outros guerreiros se aproximaram e conferiram se havia alguma arma conosco, não encontrando nenhum punhal se quer.

- Tem certeza que não tem nenhuma adaga escondida com você, Bruxa? – Cassian falou, tão ríspido e suspeito quanto um cão de caça.

- Eu posso dizer que não, e ser mentira – Yomi começou, desafiadora. – Por que não confere você mesmo, Guerreiro? – Ela ri, afasta as pernas e coloca as mãos atrás da nuca. Está adorando provocá-lo, é uma atividade divertida, eu admito.

- Confio na capacidade de meus soldados. – Ele termina o assunto, Yomi continua rindo baixo e volta a postura normal- Irão voar conosco.

Ele solta essa informação repentinamente, fazendo todas nós ficarem enjoadas e confusas. Runa é a única que parece ansiosa, fazia bastante tempo desde que voara tranquilamente.

- O que? – Fico surpresa, porque quem questiona é Niume.

- Virão conosco, primeiro porque é o meio mais rápido e segundo porque somos responsáveis por vocês. – O Guerreiro Vermelho diz, como uma ordem, e eu odeio isso profundamente. – Não iremos machucá-las, Nossa Grã-Senhora fez questão de exigir que estejam vivas e inteiras para seu primeiro encontro.

Ótimo, devemos agradecer a tal Feyre por nossas vidas e permanência de ossos no lugar. Quem eles acham que são? Nota mental, fazer esse cretino se arrepender de nos tratar como bichos, ou até pior que isso. Como assim só estão nos tratando com o mínimo de decência porque estão seguindo regras. Absurdo.

- Vocês podem nos acompanhar a pé. – Niume sugere- Não há necessidade de voar, podemos caminhar até a cidade.

- Fora de cogitação- Um dos guerreiros a interrompe. – Levará muito tempo, e estamos ocupados com outras coisas.

Niume se dá por derrotada e volta seu olhar para o resto de nós. Odeio a ideia de voar com eles, mas é nossa única opção no momento.

- Vamos com vocês. – Me pronuncio por todas nós – Mas lembrem-se, se algo acontecer com qualquer uma de nós, não sofrerão só uma repressão de sua Grã-Senhora, mas serão amaldiçoados até a última geração de suas famílias. – Viro minha atenção para Azriel, mais como ameaça- Saiba que eu não estou brincando.

Azriel e Cassian, não carregaram nenhuma das irmãs, ao invés disso, ficaram responsáveis pelas malas. Foi uma cena divertida, vê-los equilibrando as malas e as agarrando para que não voassem com o vento forte. O resto dos guerreiros ficaram encarregados de levar cada uma de nós. Voar não era tão horrível assim, o frio não ajudava, mas a sensação era boa, me peguei algumas vezes de olhos fechados e curtindo o momento. E as vezes tentava conferir se estávamos todas indo na mesma direção.

Alguns momentos congelantes passaram e de repente uma floresta enorme deu lugar a uma cidade completamente escondida, se não estivesse acostumada com magia teria ficado extremamente surpresa com isso. Podia sentir a energia daquele campo invisível quando o atravessei.

A cidade estava coberta por neve, as casinhas todas brancas do alto, os mercados de rua já estavam esperando seus consumidores. O rio estava congelado e seu entorno apesar do frio parecia totalmente agitado. As pessoas, cada uma com suas formas e jeitos se espalhavam pelas vias.

Meus olhos encheram de lágrima, fazia diversos anos desde que vi felicidade e tanta vida num lugar. Senti falta de casa, Nyx era desse jeito, cheio de criaturas amantes de magia e recheada de vida, lembrei de como eu adorava sair nas madrugadas mais frias para admirar as luzes no céu, ele dançava e iluminava a noite com cores intensas. Passava a madrugada vendo os céus e quando chegava a manhã voltava pra nossa casa, aconchegante e espaçosa, eu era recebida pela minha família. Sinto falta deles, dos abraços, dos cafés da manhã, das leituras sobre Poções e especiarias para fazê-las. Eu mal notei quando aterrissamos, mudei a expressão, quando atrás de mim se reuniram minhas irmãs, desde o começo da caça à magia, nos tornamos uma unidade, uma família. E esse lugar era um ótimo lugar para começarmos do zero.

- Bem vindas à Velaris,- Azriel diz logo atrás de nós, me despertando do sonho- A Corte dos Sonhos. 

Corte de Escuridão e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora