Presa

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 Azriel

Tenho que admitir que a figura que seguro em meus braços é extremamente habilidosa, cheguei a cogitar que fosse uma Encantadora de Sombras, mas as suas orelhas não são pontudas então não era Féerica e isso torna a outra opção impossível. Não sei o que estou segurando, mas ela tenta se soltar de mim.

- Sugiro que mantenha a calma- Digo mais uma vez num tom seguro- Você pode acabar se machucando. - A criatura ignora o que eu disse e continua se debatendo em vão.

Nenhuma palavra foi dita por ela, não consigo observar seu rosto, mas sua pele é mais escura que a minha e os cabelos são pretos, estão num penteado que me lembram os de Nestha, trançados e presos junto a cabeça formando um coque apertado.

- Onde está o seu reforço? - Finalmente posso ouvir o tom de sua voz, ofegante pelo esforço feito, mas firme. – Pelo tempo que permanece parado está esperando alguém.

-Sua curiosidade logo será respondida- Digo, tão firme quanto ela, ainda mantendo postura e o golpe encaixado, a impedindo de correr, mesmo que isso fosse inútil.

- Prometo não ir a lugar nenhum- Irônica e forçando minha postura mais uma vez. – E parece que você também.

Dessa vez, não a respondo. Aguardo a chegada de Cassian e os outros Illyrianos.


***


Não demora muito para chegarem, as asas ainda a mostra, estratégia de demonstrar poder. Cassian caminha na direção da fêmea, numa posição favorável já que este pode observar seu rosto.

- O que é você? – Diz ao estar de frente e próximo o suficiente para tocá-la. – Quem é você? – Ao tentar tocá-la a mesma cospe em seu rosto.

- Não encoste em mim. – A fêmea diz, encarando Cassian de baixo para cima. – Prometo arrancar seus dedos se tentar novamente.

Meu amigo, ainda em choque e limpando o cuspe do rosto, dá uma leve risada e continua.

- Não gosto de ser rude com fêmeas- Seus olhos a encaram com raiva e compreensão, a situação que ela se encontra não é nada confortável. – Mas preciso que coopere comigo.

- O que Vossa Senhoria, deseja? – Ironia e escárnio envolvem sua voz- Uma taça de vinho seria o ideal? Ou prefere algo mais leve? – Ela ri entre as falas e continua – Quer que eu coopere? Solte-me então.

- Não posso soltá-la. – Cassian continua firme e responde calmamente.

- Está com medo, guerreiro? – A fêmea mais uma vez se pronuncia em provocação. – Não acha que armaduras, guardas e armas possam te defender o suficiente?

- Desculpe, mas quem está de mão atadas é você. – Cassian rebate – Cercada por guerreiros e presa nos braços. Isso a torna inútil. - Cassian se aproxima mais uma vez da fêmea para lhe dizer bem baixinho- Quem deveria estar com medo aqui?

- Responda-me você. – Mais uma vez a fêmea se mostra firme e não gagueja em nenhum momento, mesmo estando em perigo.

Os rostos extremamente próximos e o olhar raivoso de Cassian, não a fazem estremecer. É impressionante sua postura, já vi muitos féericos desistirem de lutas por conta do mesmo olhar de meu irmão.

Em mais um movimento tentando escapar de meus braços, a fêmea agora ri, eu olho confuso a cena e meu amigo parece estar também, logo depois seu olhar muda e me parece surpreso.

Seus olhos se direcionam para sua barriga, que agora estava com um ferimento e dele saia sangue. Por choque acabo afrouxando o golpe, o que possibilita a criatura da minha frente se soltar e inverter as posições.

- Sugiro que mantenha a calma- Ela diz assim como eu havia dito mais cedo a ela - Você pode acabar se machucando- Não tenho dúvida que cada movimento seu foi planejado e isso não me surpreende.

No entanto o que me assusta é a adaga em sua mão, ainda suja com o sangue do meu irmão, encostada delicada e precisamente sob meu pescoço. Tenho certeza agora de porquê Cassian olhou-a surpreso. Freixo. Sua adaga era de freixo.

Os Illyrianos estavam em linha de ataque, mas ainda preocupados com o Comandante. Cassian mantinha a postura, porém, as mãos no ferimento não escondiam sua dor.

- Vou te dar uma dica, guerreiro. – Dessa vez, ao invés de direcionar a fala apenas para mim, a fêmea diz alto para que Cassian e os outros guerreiros escutassem- Conheça sua caça, antes que você vire a presa. - Os olhos de Cassian esbanjavam raiva e dor, até que fez um último pedido.

- Não o machuque. – As asas retraídas e o rosto mudaram de expressão, não era mais o General pedindo algo, era meu grande amigo preocupado com a minha vida.

- Não se preocupe quanto a ele. – Em alto e bom tom sua voz pronuncia outras palavras, as quais não conheço, e o vento gelado toma forma e altura - Se preocupe com sua própria vida, guerreiro. – Meus olhos não acreditavam no que viam, suas palavras foram capazes de transformar o vento, a neve e as sombras em um monstro, que consegue atingir os Illyrianos e atrapalhá-los.

– E você... – ela continua, e as próximas palavras também não sou capaz de reconhecer. Meus olhos ficam cansados, cada vez que pisco é mais difícil abri-los, até que não consigo mais fazê-los ficarem abertos. Apenas escuto mais uma vez sua voz antes de apagar completamente – Tenho bons planos para você.


Corte de Escuridão e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora