Capítulo 3: O novo emprego da amiga

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– Renata! – o funcionário do Starbucks exclamou, colocando o copo com o nome da freguesa escrito a caneta sobre o balcão.

A moça de cabelos loiros presos em coque, jaleco branco sobre um corpete preto que a deixava com a aparência de uma médica e sapatos salto alto apanhou o café e rumou até a mesinha do outro lado do estabelecimento, onde Eduarda, com sua camiseta do Fullmetal Alchemist, já apreciava seu Dupplo Mocha Frappuccino há uns dois minutos.

– Ainda bem que você parou com aquela mania de dar nomes de personagens de anime para o rapaz gritar! – Renata afirmou, puxando uma cadeira. – Eu por pouco não ia embora de vergonha!

– Ah, só você teve o privilégio de tomar café com a Bulma ou a Sailor Jupiter! – a otome sugou um pouco mais da bebida pelo canudinho, pernas cruzadas enquanto soltava a sapatilha do pé erguido, deixando-a balançando nos dedos com o calcanhar exposto. – E aí, como está o trabalho novo? Você nem me responde mais no Zap! Deve estar atarefada...

– E muito! – a amiga retorquiu em tom sofrido depois de um gole do café. – Gente com doutorado costuma viver de bicos neste país, mas consegui ir contra a estatística. Ainda mais uma doutora em Física pura e aplicada – ela frisou as palavras com orgulho, girando os tornozelos sobre os saltos. – Realizamos pesquisa de última geração, e o salário, bem... Não posso reclamar. Mesmo!

– E o que vocês fazem? – Eduarda inclinou-se sobre a mesa, curiosa. – Escuto muitas coisas sobre esse laboratório. Eles estiveram envolvidos com aquela pesquisa sobre teletransporte de partículas na China, não?

– O que eu posso te revelar sem ser segredo industrial? – Renata sorriu e endireitou-se no assento, ajeitando os óculos com um indicador. – Digamos que nós trabalhamos com... questões de logística. Facilitar transportes intercontinentais. Poupar combustível e espaço.

– De que jeito?

– Já estudou sobre eletrosfera? O básico de Física na escola, mesmo. Acontece que a distância dos elétrons em relação aos átomos é muito grande, ao contrário daqueles desenhos que os professores vivem fazendo na lousa, com as partículas em bolinhas girando próximas ao núcleo. Se o núcleo de um átomo fosse uma bola de futebol, bem... a eletrosfera teria a extensão de um estádio em volta. E se pudéssemos, ordenadamente e sem desintegrar a matéria, reordenar esse espaço e diminuí-lo proporcionalmente? O objeto manteria suas características, porém poderia reduzir suas dimensões. Imagine fazer isso com containers, maquinário pesado...

– Vocês estão pesquisando uma tecnologia para encolher coisas! – Eduarda concluiu num sorriso astuto. – Como as Cápsulas Hoi-Poi de Dragon Ball!

Renata torceu o rosto numa careta.

– Tanto faz... – a otome suspirou. – Não pensam em inverter e criar algo para aumentar as coisas, não? Tipo meu salário?

Agora as duas riram para valer.

– Se descobrirmos, avisarei!

Nisso, o celular de Renata vibrou, fazendo-a apanhá-lo para verificar. Depois de novo gole do Frappuccino, Eduarda também aproveitou e deu breve checagem em suas redes sociais, os posts no Facebook entrecortados por anúncios de lojas de action figures...

Até que um banner animado da Eastern Toys fez com que interrompesse a linha do tempo.

O quê? Essa figure da Athena dos Cavaleiros por apenas esse valor?

Acessou o link da loja. Ela era de São Paulo, e fazia entrega – o que preferia, e muito, a ter de atravessar metade da cidade para apanhar a peça na rotina que tinha, preferindo receber no apê com os devidos custos. O Serginho podia muito bem ir se ferrar.

Após certificar-se de que Athena era mesmo a boneca que desejava, efetuou a compra, somente para descobrir não ser cadastrada naquela loja, algo raro. Com Renata já aguardando pacientemente a amiga concluir negócio – e, pela expressão, desconfiando do que se tratava – Eduarda inseriu seus dados, até chegar às informações do cartão. Mesmo usando-o tanto, ela nunca as decorava...

Levou a bolsa ao colo e abriu-a em busca do artefato.

A procura infrutífera dentro da carteira repetiu-se três, quatro vezes – na última todo o mais em seu interior sendo despejado sobre a mesa, porém ainda assim sem revelar o que era visado. A vistoria passou, em seguida, para dentro da própria bolsa. Da chateação por Eduarda desperdiçar seu tempo com ela entregue ao consumismo, Renata passava a preocupar-se. E, quando o último canto do recipiente foi vistoriado, a otome atirou-o diante de si, gritando:

– Onde DIABOS foi parar o meu cartão de crédito?

Meu Amor na EstanteOnde histórias criam vida. Descubra agora