Capítulo 2: Cruzando a linha

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Duas horas da manhã. Sérgio e Eduarda já haviam se deitado há um bom tempo. Enquanto ela dormia profundamente em seu pijama azul marinho estampado com as Esferas do Dragão – respirando silenciosa, porém um tanto tensa – ele enrolara de propósito mexendo no celular, aguardando a companheira apagar e dando tempo o bastante para se certificar que não acordaria.

Sentou-se na cama e afastou a manta, vagarosamente e com extremo cuidado para não causar barulho. Levantou e percorreu a lateral do leito, sem tirar as meias para diminuir o ruído... quando notou que um pé de Eduarda, descalço, pendia fora da coberta, balançando leve para lá e para cá conforme a namorada era embalada pelos sonhos.

A garota não tinha pés grandes: calçava trinta e seis. Mas era justamente a fofura compacta daquelas solas, levemente bronzeadas e bem curvadas, que tanto fascinava Sérgio. Entre sua missão e a tentação, quis tomar o pé dela nas mãos, acariciá-lo, lambê-lo... Mas com isso corria sério risco de, pelas cócegas, Eduarda despertar.

Eu preciso contar a ela que tenho podolatria... Será que ia entender? Caralho, ela está tão acostumada a essas perversões de animes, fetiches, talvez valesse tentar...

Permitiu-se uma breve carícia. Se fosse discreto, ela mal sentiria, não é mesmo? Apalpou o membro de leve, suas digitais percorrendo-lhe a pele, apertando cada um de seus dedos como se fossem pequenas uvas. Eduarda deu um risinho, o que fez Sérgio estremecer – mas por sorte não acordou. Ele levou o rosto para mais perto do pé, envolvido por seu chulé adocicado, permitindo que o cheiro – longe de repugnante – passasse às suas próprias mãos...

E, num passar da língua de baixo a cima da sola, afastou-se, deixando o resto do prazer para depois que sua tarefa estivesse cumprida.

Saiu do quarto, deixando a luz apagada e encostando a porta. A lâmpada do corredor sempre ficava acesa, o que facilitou seu caminho até a sala. Distraída com todo o desembrulhar da Sailor Marte durante o dia, Eduarda acabara deixando sua bolsa sobre o sofá, na confusão que a tomara enquanto escondia a sacolinha com a figure das vistas do namorado. Confirmou que nele permanecera, em seu couro marrom e bótons de Pokémon, o zíper brilhando à penumbra das luzes dos prédios vizinhos pela janela...

Sérgio sentou no móvel, colocou o recipiente no colo e abriu-o. Não precisou vasculhar muito, dentre batom, espelhinho, tickets do metrô e badulaques, para encontrar a carteira de Eduarda.

Mal a abriu, o plástico laminado do cartão de crédito escorregou para fora.

Hesitou por um momento, pensando no que faria. Tudo em nome do casamento, de poder ficar com ela para sempre – refletiu, a imagem e o cheirinho do pé de Eduarda voltando-lhe aos sentidos para reforçá-lo. Sabia, todavia, estar cutucando uma Super Saiyajin. E realmente não tinha certeza de quantos golpes aguentaria levar...

Mantendo a coragem que o levara até ali, apanhou o cartão e enfiou-o num bolso do short do pijama. Carteira e bolsa foram fechadas, retornando ao sofá como se nada sequer as houvesse tocado.

De volta ao quarto, Sérgio percebeu que Eduarda virara no colchão e recolhera o pé sob a coberta, fazendo-o imaginar se seria um sinal de ter feito a escolha errada...

Ela ainda vai me agradecer!

Recostando a cabeça ao travesseiro, o rapaz dormiu tranquilo... Ou tentou.

Meu Amor na EstanteOnde histórias criam vida. Descubra agora