Capítulo seis - Quem me mandou flores?

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     Como minhas panquecas lentamente enquanto meu tio lê o jornal, Mónica mexe no celular e a Leya vai abrir a porta. Hoje estou feliz e bem disposta. Afinal, Jake sempre teve razão. Entendo porquê ele está constantemente feliz. Pensei que ele estava exagerando me dizendo para encontrar alguém, mas parece que ele sabe das coisas. Minha mãe também já me falou sobre isso, mas eu só me preocupava com sucesso laboral.
    Gostei da mensagem que recebi de Dean, mas agora que penso nisso, minha mensagem tinha que ser mais. Muito mais. Eu simplesmente respondi "Eu também". O que ele vai pensar de mim? Provavelmente se estava interessado nem deve estar mais. Espero que seja só imaginação minha. Estou tentando dar uma chance aos relacionamentos e não quero que nada me impeça.
    Leya vem para a sala com um buquê de flores vermelhas e brancas muito grande. Ela entrega para mim com um sorriso e senta na mesa, ainda olhando para mim. Olho para o grande buquê e não consigo evitar sorrir. Já sei quem mandou.
   — Recebendo flores! — Meu tio Larry diz com as sobrancelhas arqueadas.
   — Deixa a menina, amor. Já está mais que na hora de ter um namorado.
   — Eu estou aqui! Por favor, não tornem isso estranho. Tenho a certeza que todas as mulheres recebem flores.
   — Todas não! — Mónica tira os olhos do celular e olha para mim.
   — É melhor eu ir trabalhar. — Levanto da mesa.
   — Não vai ler o cartão? — Leya pergunta.
   Pego no cartão e leio.

  As palavras estão cheias de falsidade ou de arte, o olhar é a linguagem do coração.

  Sorrio e tento lembrar de quem é essa frase. Tenho a certeza absoluta que é de Shakespeare. Dean deve ter feito isso para me impressionar. As rosas são lindas, cheirosas e o bilhete também é muito bom.
   — Feito! Eu preciso ir agora. Até mais, família! — Deixo o buquê na mesa de centro. — Por favor, cuide das minhas flores, Leya!
   — Claro! Até depois!
   — Bom trabalho! — Larry.
   — Tchau! — Mónica acena sem olhar para mim.
   Guardo o bilhete na bolsa e saio de casa feliz por saber que a minha mensagem de ontem não fez ele mudar de ideias. Será que encontrei o amor?

   Visto meu vestido vinho, blazer preto e botas de saltos altos pretas. Faço um coque e uso batom vermelho. Porquê estou tão bem arrumada? Nunca se sabe quando vou encontrar aquele policial sexy e bonito que está interessado em mim. Mas vale prevenir do que remediar.
    Estou bem disposta hoje, espero que Doutor Bianchi não estrague o meu dia. Ontem o dia foi muito bom e não consigo parar de pensar nisso, muito menos em como seria beijar aqueles lábios carnudos. Porquê ele tinha que ser tão lindo? Não consigo tirar aquele rosto da minha cabeça.
   Endireito o meu vestido e aguardo. Daqui a pouco senhor Bianchi aparece e eu não posso ficar aqui por muito tempo, mas não posso trabalhar sem o meu café. Seria como viver sem respirar. É impossível!
   Espero na fila pelo meu café, quando minha mãe liga para mim. Eu sorrio e atendo imediatamente. Tenho muitas saudades deles.
   — Mãe!
   — Tudo bem, meu amor? Eu sei que deve estar trabalhando liguei para saber como você está. — Ela responde.
   — Eu estou bem. E como vocês estão?
   — Também estamos bem. Você gosta do apartamento?
   — Claro que sim, mãe. É acolhedor, lindo, tudo de bom. — Digo. Realmente é o tipo de apartamento que eu escolheria.
   — E quando vai se mudar?
   — Acho que no sábado. Ainda não tenho a certeza.
    — Tenho tantas saudades! Seus irmãos também.
    — Eu também tenho mãe. Muitas, muitas saudades.
   — Não quero incomodar mais. Depois conversamos. Só queria ouvir sua voz pela manhã.
   — Te amo! Muito, muito!
   — Eu também, filha. Beijos! — Desliga.
   Ainda não falei na minha mãe o que está acontecendo. Ela vai ficar muito feliz por saber que estou tentando me divertir e se preocupar mais comigo do que com o trabalho. Ela vai gostar de saber.
  Espero na fila entediada e para a minha sorte, vejo Dean. Ele termina de ser atendido. Está com dois copos de café nas suas mãos, usando roupa de trabalho e com um sorriso no rosto. O sorriso dele é sempre contagiante, percebi.
   Ele se afasta e me entrega o café. — Bom dia! Vi você chegar e fiz o seu pedido também.
   — Muito obrigada! — Atencioso. Alguém me belisca!
   — Você está linda! E parece bem disposta.
   — Sim, estou. E você sempre está bem disposto!
   — Eu tento, babe. Tento sempre. — Ele põe a mão nas minhas costas. — Vamos, te acompanho até à Paradise. Não quero que se atrase!
   Quero falar, mas desisto. Dean me acompanha e eu admito que a sensação é ótima. Com ele me sinto duplamente protegida. Por ser homem e por ser da polícia.
   — Gosto do seu cabelo. — Ele diz.
   — Obrigada! Também gosto do seu.
   — O que você vai fazer mais tarde?
   — Eu acho que nada! A não ser que surge alguma coisa no trabalho.
   — Então, me avisa se estiver livre. — Ele segura a minha mão livre e me leva com ele, atravessamos a estrada e ficamos na frente da Paradise.
   Viro para ele sorrindo como uma idiota. — Obrigada!
   — Depois conversamos.
   — Combinado! E obrigada pelas flores!
   — Quais flores? — Franze a testa.
   — Você não mandou nenhumas flores para mim, para minha casa?
   — Não que eu me lembre. Recebeu flores? — Pergunta um pouco incomodado.
   — Sim, mas com certeza deve ter sido para minha prima, não tinha o meu nome no bilhete. — Quero fugir do assunto.
   — Se quiser investigar me chama!
   — Claro!
   Ele beija o meu rosto e vai embora. Respiro e vou para dentro da Paradise. Dou um gole no café e vou em passos rápidos no elevador. Sempre tenho a "sorte" de estar no elevador com o Doutor Bianchi, mas dessa vez não é assim.
   Preciso descobrir quem me mandou flores. Pode ter sido engano, mas alguma coisa me diz que não foi engano. Só pode ser para mim e essa pessoa não assinou de propósito!
   Espero chegar ao quadragésimo terceiro piso e as portas se abrem. Caminho até o gabinete e encontro a pessoa que estou tentando fugir. Doutor Bianchi olha para mim e fica no meu caminho. Ele sabe como tirar do sério.
   — Bom dia, Doutor Bianchi!
   — Bom dia, senhorita Sally! Como está?
   — Bem.
   Ele olha para mim demoradamente, depois vai embora. Observo cada passo até que entra no elevador e mexe no celular de um jeito sexy. Não sei explicar, mas ele é sexy de um jeito diferente. E muito sexy!
   Entro no gabinete e vou imediatamente atacar Jake, ficando na sua frente. Ele olha para mim assustado, depois para trás, para nosso colega Gibson, que também está olhando para nós.
   — Preciso saber de uma coisa muito importante! — Digo.
   — Não! Melissa não está grávida!
   — O quê? — Pergunto sem entender nada.
   — O quê? — Ele se afasta. — Esqueça. O que você quer de mim?
   — Mandou flores para mim? Você gosta de Shakespeare, eu sei.
   — Claro que não! Eu não mandei flores. Nem a você, nem para a minha namorada. — Ele pega no celular. — Mas obrigado pela ideia. Melissa vai adorar receber flores. E a nossa noite vai ser muito empolgante!
   — Mas como pode não ter sido você?
   — Você se enganou, meu bem!
   Sento na minha mesa e termino o meu café de uma vez para começar a trabalhar, mas ainda vou descobrir quem me mandou flores.

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