Acordei de supetão com uma buzina. Quem em sã consciência deixou esse motorista dirigir um ônibus por 980 quilômetros?! Eu durmo por dez minutos e ele já está na faixa errada! Seria um milagre eu chegar em Gardenville com todas as partes do meu corpo no lugar. E assim seguiu as quase 17 horas de viagem.
Cheguei na cidade já tarde da noite, comprei uma comida e um remédio pra dor muscular, eu juro que cai no sono antes mesmo de tirar o sapato.
Acordei no dia seguinte quase na hora do almoço e tinha milhares de coisas pra fazer, limpei a kitnet que eu estava morando, fui comprar suprimentos e material novo para a faculdade. O bairro era meio sinistro, havia um terreno abandonado com um matagal enorme e vários postes não funcionavam, muito diferente da minha antiga casa e bairro, enfim, muito diferente da minha antiga vida. Agora eu só preciso conseguir deixar tudo para trás.*********
No dia seguinte acordei tarde também, meu corpo ainda se recuperava da viagem. Mas dessa vez o dia foi mais calmo, não precisei procurar um emprego, já que como era bolsista agora a mensalidade da antiga faculdade dava pra pagar todas as minhas despesas. Fiz o almoço, comi, e me arrumei para ir pro meu primeiro dia, eu ia chegar no terceiro período, já que tinha cursado uma parte na minha antiga cidade.
Vesti uma calça jeans e uma blusa azul, coloquei nos pés o velhinho tênis surrado da época do ensino médio e andei até a parada de ônibus. Não vou negar, mesmo de dia aquele lugar era sinistro, só havia eu e um senhor na parada. Senti que ele queria conversar, mas meu ônibus chegou antes dele abrir a boca, dei um tchau tímido e ele respondeu de volta. Em menos de 10 minutos eu cheguei na faculdade de Gardenville, um dos motivos por ter escolhido essa kitnet foi porque era bem perto da faculdade e o valor era bom.
Ao chegar lá demorei muito pra achar o prédio do curso de história. Aquele lugar era gigantesco.
--- Oi você é a Sara Watson? Sou Lilian Smith e vou ser sua guia.
Falou uma menina loira e extremamente sorridente que andava na minha direção estendendo sua mão para um aperto. Apertei sua mão sem o mesmo entusiasmo dela e a acompanhei enquanto ela me mostrava todo o prédio sem tirar o sorriso do rosto.Sinceramente será que as bochechas dela não doíam?
No mesmo instante que acabei de pensar isso ela ficou séria.--- Ah! desculpe. Quando estou nervosa eu rio mais que o normal, devo estar parecendo uma louca.
Nossa, se essa menina realmente fizesse História ela estava perdendo tempo, nunca vi tantas expressões numa frase tão curta. Ri com esse pensamento.
--- Não precisa ficar desse jeito, sou sua colega de classe.Mas você está em qual período? Parece tão mais nova que eu.
--- No terceiro, mas eu sou nova mesmo, foi um erro no sistema da minha escola, fui adiantada dois anos e como meus pais não são muito ligados nos detalhes ficou por isso mesmo.
--- Você deve ser superdotada pra ter conseguido acompanhar isso.
--- Na verdade, eu nunca aprendi como se usa uma crase.
Nós duas rimos, não o sorriso falso e nervoso que Lilian passou boa parte da tarde usando, mas uma risada natural, um som que há muito tempo eu mesma não fazia.
--- Nossa, acho que me atrapalhei com o tempo falta eu te mostrar os lugares compartilhados da faculdade, se tiver tempo podemos fazer um lanche no refeitório geral, é muito melhor que a cantina do prédio.
As aulas passaram depressa, como sempre por causa da empolgação do primeiro dia e as cinco da tarde minha barriga já urrava por comida, pra variar. Saí da sala e esperei Lilian arrumar suas coisas e fomos caminhando para o refeitório, já que ela tinha dito que era próximo do nosso prédio. Passamos pelo prédio de Letras, Engenharia de Produção, Design e Gastronomia.
--- Até hoje dou graças por não gostar de nenhum curso de biológicas, por causa do laboratório ficam o mais longe possível do refeitório, mas também só de passar na porta do curso já dá uma náusea com o fedor daquele formol.
Ri com seu comentário.
Entramos no refeitório e haviam poucas pessoas dentro, ele era bem grande com mesas enormes e janelas gigantescas que parecia que a primeira luz do dia podia entrar no salão. Tudo naquele local parecia ser feito para gigantes, mas não foi um gigante que acenou para nós numa das mesas.
Lílian deu um sorriso que a iluminou por inteiro, ela puxou minha mão e disse que queria me apresentar ao pequeno ser que acenava na enorme mesa.
--- Sara, este é Jonas, meu namorado.
--- É um prazer, Jonas. --- falei esticando minha mão para um cumprimento e me surpreendi quando recebi um abraço em retorno.
É sério, se todos de Gardenville forem calorosos como esses dois, vou ser fazer parte do elenco de ursinhos carinhosos.
--- Eu sei que parece estranho eu chegar assim--- disse Jonas --- mas qualquer pessoa que trate o Aang bem...
Ele foi interrompido por um semi-grito de Lílian, que corou violentamente ao ouvir o apelido.
--- Aang?
--- Não liga não Sara, ele é meio fã de desenho animado
--- Não é des...
--- Eu sei Lílian, mas por quê o apelido? Agora só falta dizer que tu é uma dobradora de ar!
Jonas riu, enquanto ela dava um "leve" tapa em seu braço e dizia:
--- Vamos comer alguma coisa Sara --- e saiu me puxando enquanto eu tentava desvias de todas as cadeiras possíveis.
--- É BOM MESMO PORQUE ESSA HISTÓRIA É ÓTIMA, SARA.
Voltamos para mesa com salgados e sucos e comíamos enquanto a calourada de Lílian e a obra de arte que fizeram quando a pintaram igual ao avatar colocava sorrisos em nossos rostos.
Era acalentador vê-los juntos, era quase involuntário o toque de suas mãos e parecia um velho hábito o polegar de Jonas uma linha logo embaixo da orelha e acima do maxilar dela fazendo pequenos círculos, não era a coisa forçada que acontecia entre eu e Josh... Parecia um amor sereno, uma coisa calma. Acho que isso é realmente o que eu devo procurar, e não uma coisa que vire a minha vida de cabeça para baixo.
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Gardenville
Short StorySempre existiu no mundo corações partidos e almas incompletas no mundo. Mas o que se esconde da maioria das pessoas é que há pessoas assim que não tem a miníma ideia do seu estado. Sara teve uma briga com seu melhor amigo, antes dele ir embora. Poré...