Gardenville

Capítulo XII

Aquelas férias estavam sendo muito chatas, Adam havia sido contratado para trabalhar numa oficina, pois queria começar a juntar dinheiro para a faculdade, o que era insano porque com o trabalho impecável que ele mandou para o programa de bolsas garantiria uma bolsa de pelo menos 85% e ainda tinha a poupança que seu pai tinha deixado quando ele saiu de casa para casar com outra mulher, porém ele não queria aceitar esse dinheiro, tamanha a raiva que ele sentia do pai que havia traído sua mãe, além de ter sido um péssimo marido e um pai super ausente. Eu até me impressionava que ele tivesse deixado alguma coisa para o filho.

Mas voltando a falar dessas minhas férias, eu lamentava profundamente não ter me esforçado mais para fazer amigos além de Adam, na verdade para não dizer que não estava falando com ninguém novo, havia o lindo Christian Wakefield, que desde aquele dia da pizza nós nos falávamos esporadicamente e já estávamos marcando de nos ver numa festinha de ano novo e se tudo desse certo, meu primeiro beijo já estava quase marcado. Mas enfim, como todo bom 24 de dezembro minha mãe me dá um berro para eu ir ajudar com a comida da ceia de natal, que ao contrário do ano novo, que os adultos iam se reunir numa parte da cidade e os jovens na outra, o natal era sempre em família, eu, meus pais, meus avós paternos, Adam e Mary.

--- Sara, o que você está fazendo que ainda não se arrumou? --- meu pai entrou na cozinha completamente pronto para a pequena festinha.

--- Tô com medo disso que tá no forno queimar.

--- Eu cuido disso, se não todos vão chegar e você vai ficar parecendo uma gata borralheira.

Bati de leve em seu braço com o pano de prato e subi as escadas para um banho e me vesti muito rápido pois já havia escutado barulhos de campainha e pessoas conversando. Vesti o conjunto que minha mãe tinha me dado de presente e tentei fazer uma trança que tinha visto no YouTube e não parecia ser muito difícil. Só parecia mesmo, porque ficou uma bela bosta quando terminei com fios soltando e uma parte torcida. Suspirei frustrada, quando ouvi batidas na porta, que já estava aberta.

--- Tá precisando de ajuda? --- falou um Adam que estava com uma blusa da cor da minha roupa, um presente em uma das suas mãos e um gorro de papai noel em sua cabeça.

--- Quero esse gorro pra esconder essa merda que eu fiz.

Ele tirou o gorro da cabeça e colocou rapidamente na minha, bagunçando meus cabelos em seguida com a mão por cima do gorro.

--- Era esse o grand finale que eu estava precisando, obrigada Adam. Pode arrumar essa bagunça que tu fez.

--- Acho que a pior parte não fui eu que fiz não.

Deu um pequeno tapa no braço que estava mais próximo e ele começou a pentear e trançar meus cabelos com muito mais facilidade que eu. E eu fiquei prestando atenção nele enquanto fazia isso, ele estava bastante concentrado no que fazia, como uma criança que quer impressionar a pessoa que ela admira, mas a ideia de ser a pessoa que Adam admira me deu uma leve vontade de rir.

--- O que foi?

--- Nada não, cortou o cabelo?

--- Merda, ficou tão feio assim? Disse pro barbeiro que ele podia fazer esse novo corte que estão usando agora. --- falou passando a mão nos cabelos mais curtos da parte de trás da sua cabeça e nas laterais, e a parte de cima os cabelos estavam mais compridos, realmente aquele corte estava em alta entre os garotos mais jovens, já tinha visto vários deles com esse estilo, e realmente não ficava bem em todo mundo. Mas em Adam ficava perfeito, os cabelos ondulados ressaltavam a beleza do corte e davam um diferencial, destacando-o da multidão de garotos que usavam a mesma coisa e as partes mais curtas refletiam as luzes no dourado do seu cabelo o fazendo parecer um deus.

--- Não o corte ficou bem bom, pelo menos eu gostei. Meu cabelo também está ficando lindo. Queria que você ficasse pra sempre comigo. --- olhei para ele pelo reflexo do espelho e vi ele tentando esconder um pequeno sorriso que se formava em seus lábios.--- só pra ter um cabeleireiro particular. --- vi seu sorriso murchar e suas bochechas adquirirem um leve tom de vermelho, quase imperceptível, fingi não ligar, pois ele não parecia querer falar disso, na verdade não parecia querer falar nada, porque praticamente respondia o que eu perguntava o que não era normal, pois ele sempre falava pelos cotovelos. 

--- Tenho um presente pra você. --- falou me estendendo a caixa que o vi trazendo na hora que entrou no quarto.

--- Quebrando a tradição dos presentes a meia noite, isso não parece muito com você.

--- Abre depois, a gente tá muito atrasado.

O natal ocorreu como de costume, havia muita comida, ouve o amigo secreto, que, aliás eu tirei minha avó e fui presenteada por meu pai, que me deu um exemplar de Crime e Castigo. Mas eu passei mesmo o tempo todo me perguntando o que tinha naquele embrulhinho que tinha ganhado do meu amigo hoje mais cedo, tentei de todo jeito extorquir a verdade dele, mas para o meu desespero ele havia decidido atuar o papel de galã misterioso no dia. Mas o fim da noite finalmente chegou e quando todos foram embora abri o presente, era um álbum de fotos com tudo que tínhamos vivido de especial e eu cheguei a conclusão que eu tinha o melhor amigo do mundo, só não sei o porquê de tanta vergonha de me entregar um presente desses, não cheguei a folhear todas as fotos, pois fui responder as mensagens de Christian que se acumularam no tempo que eu estava com minha família.

Os seis dias que separam o natal do ano novo passaram voando, meus pais já haviam ido pra o sítio de seus colegas e eu estava me arrumando para ir pra praça, com Adam estourando meu telefone de mensagens, pois já eram 23:20, demorei mais dez minutos para terminar a maquiagem que estava fazendo para impressionar Christian, que tinha marcado de me encontrar naquela noite.

--- CUIDA SARA, SE NÃO SÓ VAI DAR TEMPO DE GRITAR FELIZ ANO NOVO E VOLTAR PRA CASA. --- desci correndo as escadas depois da intimação, um pouco apreensiva pela mudança no visual.--- Nossa, você tá diferente... mas um diferente bom tá, tá linda. Tipo, bem bonita mesmo.

Ele falou gesticulando exageradamente com as mãos e eu o puxei e saímos andando até a praça que íamos ver os fogos e chegamos lá bem rápido, pois era perto. Assim que adentramos na pequena multidão de jovens me esforcei para fazer Adam me perder de vista, pois nessa época ele estava superprotetor e isso estava me irritando um pouco. Achei o garoto que estava procurando quase na hora dos fogos.

--- Achei que você não vinha mais e que eu não ia mais te ver.

--- Ah, mais ainda temos um ano todinho pela frente.

--- Na verdade não, acho que a gente tem que aproveitar o tempo que temos agora. --- falou dando um sorriso de canto de boca --- porque amanhã estou embarcando para ir para a faculdade... na verdade, hoje, feliz ano novo Sara.

--- Feliz ano novo, Christian.

Falei e praticamente me joguei nos braços do garoto que retribuiu o gesto. Eu soltei seus ombros, mas ele não largou minha cintura e ficou olhando nos olhos, como se ele pudesse ver o que tinha além deles. Iria ser agora, e iria ser perfeito, um cara bonito que me abraçava pela cintura, com o som dos fogos de artifícios no fundo, então eu só fechei meus olhos esperando ele vir até mim, só que ele nunca veio. Senti suas mãos largarem meu corpo e a falta da sua sombra incomodou meus olhos com a luz.

De repente ele estava no chão, com um cara furioso por cima dele, dando-lhe um soco após o outro. E eu estava horrorizada, paralisada, que nem conseguia assimilar o que estava acontecendo. Quando a razão voltou a mim, pude ver quem era a pessoa que estava nocauteando o menino que quase me beijou. E meu horror aumentou de uma forma inexplicável quando percebi que aquele, era Adam. 

Oi minha gente, tudo bem?

O que vocês estão achando da história até agora? Espero que estejam gostando :)

Se supreenderam com a atitude de Adam?

Vocês gostam desses capítulos de flashback?

beijinhos