Capítulo IV

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Era meu primeiro baile desde que eu tinha entrado do ensino médio, eu não conhecia ninguém da minha nova escola, meus pais haviam se mudado para a nova casa no início do verão. Na verdade, da nova escola eu havia conhecido meu vizinho, que era um ano mais velho que eu. Ele foi bem legal comigo durante o verão, dois dias depois que eu tinha chegado ele disse que precisava de alguém para ele treinar basquete. Temi que toda essa camaradagem acabasse quando entrássemos na escola e ele ficasse com seus amigos mais velhos, mas não foi o que aconteceu. Ele não me ignorou como achei que faria, pelo contrário, ele havia me chamado para ir ao baile de homecoming.

Faltavam uma hora para o baile e minha mãe havia decidido fazer cachos no meu cabelo.

--- Como estão as coisas na nova escola?

--- Ah, as pessoas são legais e estou pegando os conteúdos bem fácil, exceto matemática... como sempre.

--- Filha, eu e seu pai estávamos muito preocupados da sua adaptação aqui, mas as coisas parecem estar indo bem, não é mesmo? O que me chateia é você não ter me contado nada sobre seu namoro...

--- NAMORO? Mãe, você não pode estar pensando que estou namorando o Adam né?

--- Desde que você chegou na casa nova, ficou mais tempo na casa dele do que na nossa!

--- Ah mãe, por favor, não vivemos mais no tempo que só porque eu ando com um cara eu estou namorando com ele. O Adam é um amigo e nada além disso.

--- Se você diz assim, tudo bem. Pronto, terminei, vá se vestir e terminar de se arrumar e não se atrase.

Ela saiu do quarto e eu fui ao banheiro procurar meu corretivo que me deixaria com cara de gente normal e não de uma que tivesse acabado de levar um soco nos dois olhos. Terminei de me calçar e me vi no espelho. Meus cabelos negros estavam cheios de cachos que chegavam quase na altura da minha bunda enquanto meu vestido azul de alcinhas chegava quase no joelho. 

A campainha toca e eu desço com o maior cuidado possível para não cair rolando escada abaixo. Quando (finalmente) chego na sala ele está sentado no sofá sozinho. Ele levanta e me olha de um jeito que parece que aquela sala é do tamanho do meu guarda roupa.

--- Uau, você tá linda--- ele diz me puxando para um abraço.

Deus do céu, se eu estava linda, com que palavras eu definiria Adam? Ele parecia o Leonardo DiCaprio em Romeu e Julieta. De certa forma, o terno fazia sua pele clara contrastar mais ainda com seus cabelos dourados que foram imperfeitamente arrumados para o lado. Ele estava tão bonito que no momento que pisássemos no salão eu seguraria uma vela até o fim da noite.

--- Nem precisa dizer que eu tô lindo pra cacete porque minha mãe repetiu isso até eu chegar na tua porta.

--- E você acreditou?

--- Acreditei antes mesmo dela falar... Sabe, tenho espelho no meu quarto.

--- Você é tão convencido.

Ele riu e pegou minha mão e me  conduziu até o carro, melhor dizendo, até a metade do caminho, quando Mary, mãe de Adam me para.

--- SARA! Você tá tão linda, parece uma princesa com os cabelos desse jeito. Vocês dois vão ofuscar todos nesse baile.

Eu dou um sorriso tímido, enquanto ele responde:

--- Foi esse o plano desde o início.

--- Vou pegar minha câmera pra tirar uma foto de vocês.

--- Não mãe, a gente vai se atrasar.

--- Ok, mas se você chegar em casa sem uma foto dos dois juntos eu faço os dois se vestirem de novo.

Ele abriu a porta e me ajudou a entrar no carro. Eles eram quase a mesma pessoa, Adam e Mary, o mesmo alto astral e a mesma forma de acolher as pessoas, eu havia conhecido os dois há apenas um verão e Mary me tratava como se eu fosse uma filha.

Chegamos no salão e havia muitas pessoas lá dentro, estavam para anunciar o rei e rainha do baile. Prissy Evans e seu namorado bonitinho foram eleitos. O que, claro, foi uma surpresa para todos, ela era a bonitinha do último ano e ele, o astro do futebol da escola. Nem um pouco clichê pra variar. 

Fui ao banheiro e quando voltei mais da metade dos alunos não estavam mais lá e o resto estava se arrumando para ir embora.

--- O que aconteceu por aqui?

--- Ah, eu esqueci de te avisar, é tradição aqui que depois da escola a festa é transferida pra a casa de um dos reis do baile. Você quer ir?

--- Ah,  tu quem sabes, afinal, quem tá dirigindo é tu mesmo.

--- Então eu digo que você tem que conhecer gente nova, então nós vamos.

Ao chegar na casa de Prissy, dava pra ver que a coisa tava bem mais animada do que no baile. As luzes que iluminavam a casa eram de todas as cores, a música saía bem alto de dentro da casa, enquanto adolescentes bêbados (ok, alguns não) dançavam e cantavam a plenos pulmões. Entrei me sentindo um alien lá dentro. E Adam me levou direto para a pista de dança e gritou próximo ao meu ouvido:
--- Não vai ser um baile se você não dançar.
--- Meu anjo, eu tenho dois pés esquerdos.
--- Não arranja desculpa Sara. 
E lá se foi a dança mais desajeitada da face da Terra, não da parte dele, claro que não, o miserável havia nascido pra dança. Eu só queria parar de passar aquela vergonha.
--- Vou procurar algo pra beber.
--- O QUÊ?
--- DISSE QUE VOU PROCURAR ALGO PRA BEBER.
--- VOU COM VOCÊ!
--- NÃO PRECISA, EU SEI ONDE É.
--- MENTIRA.
--- VAI SE LASCAR.
Ele riu e eu saí com um pouco de orgulho ferido para procurar uma bebida. Merda, eu nunca tinha bebido nada antes.
Cheguei na cozinha da casa onde tinha um enorme freezer e uma garota bebendo uma cerveja.
--- O que tem pra beber aí?
--- Essa aqui é boa, deixa eu pegar uma pra você.
Ela me entregou uma cerveja do freezer e eu bebi um grande gole da bebida.
--- Nossa, é forte.
--- Ajuda a se soltar na pista de dança.
--- Não acredito que você viu aquela desgraça!
--- Calma, tá todo mundo tão bêbado aqui que ninguém se lembra amanhã. Ah, sou Cínthia. --- ela falou me estendendo a mão.
--- Sara, é um prazer. É de que ano?
--- Sou do segundo, mas tô indo fazer intercâmbio na Dinamarca.
--- Poxa, quando achei que tava me dando bem com alguém aqui.
--- Não se preocupa, a gente se vê por aí, se não for nessa vida, em outra. Mas deixa eu ir curtir a festa, enquanto você fica aqui com seu garoto.
Ela me deu uma piscadela e saiu do cômodo enquanto Adam entrava.
--- Sara, vamos embora, arranjei uma briga e meu terno é emprestado, então não rola briga hoje não.
--- Mano, com quem tu arranjou briga?
--- Com um tal de Josh, do futebol.
--- O cara é uma parede de músculos Adam, bora logo.
Peguei na sua mão e saí correndo com ele atrás.
--- Para alguém com pernas curtas, você até que corre bem rápido.
--- Cala a boca e corre, desgraça.
--- A gente já tá bem longe, bora sentar aqui.
Ele tirou o paletó e desatou o nó da gravata borboleta, tirei os saltos e me deitei ao seu lado e ficamos um longo tempo sem emitir nenhum som, a não ser nossas respirações.
--- Eu não te trouxe um corsage.
--- Não precisava.
--- Que tipo de pessoa eu sou, que convido minha amiga para o baile e não lhe trago um corsage?
--- Adam, sem drama por favor.
Ele se sentou de costas pra mim e eu fechei os olhos curtindo a música que soava baixo da casa de Prissy.
--- Uma cerveja já te derruba assim?
--- Estou acordada, garoto irritante.
--- Você já sabia disso quando foi ser minha amiga, agora abre os olhos. Tá aqui seu corsage.
E lá estava ele, um arame com galhos de dogwoods enrolados nele. Ele pegou meu braço e amarrou o arame no pulso, colocou meu braço de volta no meu colo e começou a passar a mão na ponta do meu cabelo.
--- Combina com seu cabelo.
--- Você deu sorte, são minhas preferidas.
--- Sabe qual o significado delas?
--- Esqueci que você gosta de desenhar jardins e é o louco das plantas. Não sei não, me fala.
--- Elas podem significar confiança e durabilidade, mas também um sentimento de afeto que não pode não ser recíproco. Acho que vai depender de nós o significado que isso vai ter na nossa vida.

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