Capítulo XI

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Já era dia 14 de dezembro e finalmente eu tive minha última bateria de provas, só precisaria ficar mais uns dias para esperar os resultados e iria para casa dos meus pais matar a saudade. Nossa turma estava deitada na grama do campo de futebol americano, cantando e bebendo cerveja para comemorar o recesso de natal. Assistimos o pôr do sol e fomos todos para a parada de ônibus, o meu foi o primeiro a chegar e eu embarquei sozinha. 

Antes de abrir a porta do apartamento percebi que havia mais de uma pessoa lá dentro. Lá estavam Adam e seus amigos do refeitório, eles dividiam uma pizza e riam e conversavam tanto que nem ouviram o abrir da porta. Aquilo provavelmente era um encontro de casais e eu estava sobrando, os dois caras estavam de mãos dadas e Adam apoiava sua mão no ombro da garota, estava pensando seriamente em voltar por onde entrei, quando um dos caras me chama:

--- Ei! Seu nome é Sara né, Adam já falou de você pra gente, a sua nova companheira de apê.

Nesse momento todos voltaram seus olhos pra mim e o mesmo cara que falou fez um gesto que dizia "ei, vem cá, senta aqui do meu lado", meus pés foram caminhando em resposta, mas minhas mãos não pareciam querer largar a maçaneta da porta. Sentei ao seu lado e dei um sorriso amarelo para todos, que responderam com um sorriso também -bem melhores que o meu, eu admito- e Adam começou as apresentações:

--- Sara, estes são Leo e Marcos. --- ele apontou para o garoto que estava ao meu lado, Leo, que me cumprimentou com dois beijinhos na bochecha e Marcos que me deu um aperto de mão. --- e esta é Rosie. --- a garota ao seu lado também me estendeu a mão e abriu mais o sorriso que estampava em seu rosto. Ela era linda, o que já era de se esperar das namoradas de Adam, mas ela era diferente, além da beleza ela soava segura de si e bastante verdadeira com ela mesma e com as pessoas a sua volta, precisei me esforçar para não começar as comparações entre nós duas na minha cabeça.

--- Adam me falou que vocês eram bem próximos antigamente. 

--- Sim, nós éramos vizinhos. --- falei rápido para abafar o desconforto que eu não sabia nem o por quê de estar sentindo.

--- E melhores amigos. --- Adam completou levantando apenas uma sobrancelha e olhando para mim.

--- Hmmmmmm, só amigos... sei --- Leo falou com malícia e me deu um cutucão, enquanto eu assentia com a cabeça. --- ah, garota, se eu estivesse nessa sua pele maravilhosa eu NUNCA deixaria um homem desses escapar.

Engoli a seco e percebi, de canto de olho, que Adam repetia o mesmo ato, com um pouco mais de veemência.

--- O que quer dizer com isso Leonardo? --- disse calmamente o garoto que sentava ao seu lado.

--- Que seu eu fosse ela, na sua juventude, vizinha de Adam, não deixaria escapar, mas como não sou adolescente, nem atendo pelo nome de Sara, prefiro mil vezes ficar com esse ciumentinho que está bem na minha frente. --- falou e deu um selinho em seu namorado, que aceitou o carinho de bom grado.

--- Come um pouco de pizza Sara, ainda tá morna. 

Rosie me estendeu a caixa de pizza e comi em silêncio, quando ouvi Marcos dizer:

--- Ei, acabei de saber de uma festa de fraternidade lá na casa de um cara de engenharia mecânica, bora galera?

Depois de uma sequência de 3 "boras", eles olharam pra mim e quando eu ia abrir minha boca para negar eles começaram a listar todos os motivos de porque eu deveria ir, o barulho foi tão grande que quando me vi já estava sendo arrastada por Rosie para o meu quarto com a intenção de escolher uma blusa "que não pareça algo que eu usaria num velório", nas palavras de Leo.

Coloquei 3 opções na cama e pedi para Rosie escolher, afinal era bom que a namorada do cara que me dava um teto gostasse de mim. E ainda bem que ela escolheu a minha preferida.

--- Tem algum batom vermelho aqui? 

--- Tem sim, tenho esses dois. 

--- Eu uso o vinho e você esse outro vermelho, vai ficar bom na tua pele mais clarinha.

--- E se eu te falar que quase não uso esses batons porque nunca sei passar sem manchar o resto da minha cara.

Ela parou de passar o batom nela mesma e me olhou com os olhos arregalados, com apenas os lábios de cima pintados.

--- Senta na cama que eu te arrumo, mas não consigo acreditar, esse tempo todo, nunca usou esses batons? Olha eles estão inteirinhos.

Ela terminou de fazer a minha maquiagem e saímos ao encontro dos meninos que já estavam dentro do carro. Leo assobiou quando entramos e chegamos ao nosso destino bem rápido. A festa já estava bem cheia quando entramos lá, tudo cheirava a álcool e a maioria das pessoas já estavam bêbadas. Perdi meu grupo de vista bem rápido, fiquei rodando um pouco na festa quando escuto meu nome ser chamado:

--- Sara? É você?--- falou uma voz bem rouca e muito bonita que está logo atrás de mim, quando viro sou pega de surpresa pela pessoa que está na minha frente.

--- Christian?

--- Ainda bem que se lembra de mim, por um minuto achei que ia passar vergonha. --- falou me puxando para um abraço

--- Impossível, você está o mesmo, com manchas de graxa na barra da blusa, mas ainda sim, o mesmo.

--- Quer beber alguma coisa? Bora conversar num lugar com menos barulho.---ele colocou a mão na base da minha coluna e me guiou até o lugar que ficavam as bebidas.

--- Espero que não se importe, mas só sobrou cerveja.

Ele pegou duas e abriu para nós e conversamos por um bom período de tempo. Não falamos sobre nossas vidas ou sobre como tudo tinha sido desde a última vez que nos vimos, falamos de coisas triviais enquanto ele quase me levava ao chão com seus sorrisos e o seu flerte tentador, ele realmente sabia o que fazia e digo isso não só por estar um pouco alterada pelo álcool, porque não era a primeira vez que ele flertava comigo. Mas tinha sido a melhor porque eu estava para me jogar em seus braços, quando ele abriu a boca para falar alguma coisa e eu me senti na obrigação de tirar os olhos de lá e focar no que ele iria me dizer:

--- Eu gosto dessa música, quer dançar.

--- Espero que você esteja suficientemente bêbado pra me ver dançando.

Chegamos na pista de dança bem rápido e ele logo me conduziu, me fazendo parecer menos ridícula, mas eu estava me divertindo bastante. Quando ao virar de costas para Christian nos passos da minha dança maluca vi Adam apoiado em uma das paredes, com a mesma cerveja que eu bebia minutos atrás ignorando o homem que estava claramente dando em cima dele, mas quando ele percebeu que trocávamos olhares o seu desviou rapidamente e fingiu estar prestando atenção no que era literalmente gritado no seu ouvido. Quando a música mudou e meu par passou as mãos pela minha cintura me fazendo, ao mesmo tempo,me virar e me aproximar dele.

--- Agora podemos continuar de onde paramos?

Dei um sorriso sarcástico e ao mesmo tempo que se deliciava em ouvir a recente proposta feita. E então ele passou sua mão pelos meus cabelos, a repousando-a em minha nuca e aproximava sua boca da minha enquanto eu  elevava meus calcanhares para o mesmo fim. E paramos quando todos ainda se moviam ao ritmo da música, como se estivéssemos numa bolha diferente daquele ambiente que ninguém reparava, na verdade, que quase ninguém reparava.



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