Capítulo XIII

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Quando nossos pais souberam que nós tínhamos nos reencontrado e estávamos morando junto, não deixaram escapar a velha tradição de passar o Natal juntos, já que tinha dois anos que Adam não aparecia na cidade para comemorar a data. Optamos por ir de ônibus, já que íamos chegar na véspera, porque o trabalho de Adam ia até dia 23 de dezembro e queríamos tentar dormir um pouco no caminho. Graças a Deus que não foi o mesmo motorista que eu vim na minha viagem de vinda, porque eu já tinha experimentado atividades de "quase morte" demais esses últimos meses. Dormimos a maior parte do caminho e fomos escutando música no tempo que faltava até chegarmos. 

E lá estava, a cidade da minha infância. Depois da curva acentuada e da horrorosa placa da cidade que não tinha uma arte nova desde a década de 80. Era inevitável as memórias não me atingirem como um raio, especialmente com a companhia que estava ao meu lado, que parecia ser atingido pelo forte saudosismo de voltar para a sua antiga cidade, mas ele parecia imerso demais nas suas memórias, talvez fosse pelo tempo que não aparecia ou talvez de como tinha deixado tudo quando foi embora. Segurei em sua mão em um reflexo, para tirá-lo daquele devaneio, ele se virou pra mim como se nada tivesse acontecido, apertou meus dedos com os seus e disse:

--- É bom estar de volta.

Eu entendi a parte da frase que dizia "não quero falar sobre isso agora" e chegamos até a rodoviária em silêncio até ouvi um forte grito no meio da multidão de pessoas.

--- ADAM, SARA!! --- vi uma figura loira, alta e com um vestido longo verde e laranja abrir caminho no meio da multidão com seus cotovelos.

--- Sabia que tinha visto alguém quando viramos a curva pra entrar na cidade, só não imaginava que fosse minha mãe.

--- Ah, meu filho, aqui é sempre cheio essa época do ano, por isso temos que nos destacar. ---  Mary falou puxando o filho para um abraço de urso.--- e você minha querida, está mais linda do que da última vez que eu te vi. --- tirou os braços ao redor do filho e passou-os ao redor de mim, me fazendo me sentir parte daquela família dos dois. E de quebra contando uma mentirinha inocente, pois sabia que estava com olheiras terríveis e teria um trabalhão para tampá-las mais tarde. --- agora vamos nos apressar, porque ainda temos que comprar os presentes do amigo invisível,  já que faz tempo que todos nós estamos juntos. --- deu uma olhada recrimidadora para o filho.--- e queremos fazer tudo que nem a tradição.

Mal cheguei em casa e minha mãe já pegou a caixinha dos os papéis com nossos nomes e foi passando para nós. Eu tirei Mary, e já tinha em mente o que iria comprar, uma jaqueta de couro vermelho, combinava com ela, que gostava de roupas com cores chamativas e, particularmente, sempre achei que o vermelho lhe caía bem. Toda a comida já estava pronta ou no ponto de por no fogo, então todos nós corremos para comprar os presentes enquanto as lojas ainda estavam abertas. 

Cheguei na hora de me arrumar, congelando, pois aquele ano estava tendo o inverno mais frio em dez anos, escolhi um vestido de mangas compridas que ia até meu tornozelo e calcei botas, pois mesmo com aquecedores em casa, meus pés congelavam e deixei meus cabelos soltos. Todos já estavam na sala quando desci, todos estavam lindos e bem produzidos para a festividade do Natal, mas eu simplesmente não conseguia tirar os olhos de Adam. Parecia que era a primeira vez que eu o notava desde que nos reencontramos, ele estava distraído em uma conversa com meu avô e tudo parecia se destacar nele, ele vestia um simples jeans preto com uma camisa social azul escuro por dentro e seus cabelos estavam presos em um coque baixo de qualquer jeito, como se tivesse feito no caminho entre minha casa e a dele, sua boca e bochechas estavam bastante vermelhas por conta do frio e ele estava absolutamente lindo.

Logo minha mãe desceu as escadas e me levou junto à todos que estavam na sala, senti ele se virar para me ver e vir em minha direção, não sabendo porque eu estava tão apreensiva com o que ele fosse achar da minha aparência.

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