Gravidez indesejada

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Chego a aula e a porta está trancada.
-Oi apressadinha, chegou cedo, geralmente você é a última.
-É...
-Você tá bem, parece que viu um fantasma.
-É que não durmi direito ( minto ).
Ele abre a porta da sala e eu sento na cadeira da frente.
No refeitório fico sozinha, ninguém apareceu. Com meus fones no ouvido, vou deslizando a bandeja pela mesa para pegar minha comida.
-Oi.
-Oii.
O cara todo de preto ao meu lado é Eiri.
-O que quer?
-Vim fazer o mesmo que você. ( ele da de ombros ).
-Vem cá suas mudanças de humor acabam comigo, uma hora você é legal depois vira um bicho. Seu bipolar.
-Sou igualzinho a você.
-Grrr. Escuta não fala comigo na faculdade entendeu.
-Como quiser. Sua bandeja tá andando.
-Sabe as garotas ao seu redor são irritantes e eu acabo sendo a irritante, e sabe o que mais me deixa puta..
Ele me interrompe.
-Katharina!
-É você não confiar em mim, e ficar como um cão vigiando tudo que eu faço, até parece que vou te trair.
-A bandejaa..
Ele começa a fazer sinais com os olhos.
-Quer saber eu não ligo mais, fica com quem você quiser..
-Katharina sua surtada!
-AHHHH O QUE QUE ÉEEEE..
Do nada a bandeja vai ao chão e minha comida fica esparramada, do além brota pombos e começam a come-la.
Eu olho com as lágrimas nos olhos para Eiri.
-EU TE ODEIOOO, IDIOOOOTAAAAA! ( grito aos quatro ventos ).
Ele permanece neutro.
-Não tá feliz, então some, só tentei ajudar você, sua babaca.
Corro entre olhares de pessoas curiosas, e vou para o banheiro.
-Nossa escutei seus gritos daqui ( uma voz feminina debochada surgi atrás de mim ).
-A quanto tempo... maninha.
-VICTÓRIA!
-Em carne e osso, achou que eu não viria mais a faculdade.
-Ah...é.. que ( as palavras não saem como eu queria ).
-Depois daquele incidente com o psicopata do seu namoradinho,mudei algumas coisas na minha vida.
-Você, mudar? Acho que vai chover.
-Você tá diferente, tái! Até que... tá, deixa eu ver, arrumadinha.
Ela me olha entre risos " aff odeio essa garota".
-Vai ter uma festa hoje a noite.
-Não! nem se me pagassem.
Ela começa a remexer os cabelos com o dedo.
" cara que sinistro, lembro de uma menina que fazia a mesma coisa ".
-O Light vai estar lá... ( ela joga ).
-E daí?
-É o niver dele.. seu amiguinho, vai fazer aniversário.. 19 aninhosss.
Sua voz é venenosa.
-Vem cá Victória, quantos anos você tem?
-25, porquê?
-25... " 29 e 25.. então, não isso é coisa da minha cabeça. Não! Ele tinha 16 e ela.. 12, isso não existe ".
-Eiii, garota, o que tá rolando?
-Você já frequentou boate, ou coisa assim.
-Casa noturna você diz?
-É..
-Bom, já sim, mais porque o interesse. Não pense que vou me abrir com você.
-Claro que não ( dou um sorriso malévolo do espelho ).
-E por acaso você tinha.. sei lá uns 12 anos?
Ela perde a cor, e sua cara é de espanto.
-Haa, da onde tirou isso, você é louca, ou usou droga.
-Nada, só veio umas coisas na minha mente, e decidi dizer.
-Como pôde..? ( ela balança a cabeça num sinal de negação ).
Eu me viro pra ela num sorriso debochado.
-Então você sempre foi uma puta! Como imaginei.
Ela sem se controlar, me da uma tapa forte na cara e começa a puxar meus cabelos.
Num piscar de olhos estou no chão.
Tento me recompor segurando na pia, mais suas unhas me furam e eu grito.
-EIRIIIIII ME AJUDA! EIRIIIII.
-Cala boca sua maldita, acha que ficar zombando dos outros é engraçado! Engraçado vai ser seu rosto desfigurado.
-PARAAA..ME SOLTA..GRRRR.. POR FAVOR.
Ela me da vários tapas consecutivos.
"Percebo que estou sem forças e não tenho raiva para bater. Ela com certeza está fervendo de ódio, e isso me deixa com medo. Ela pode até me matar se quiser, não tem ninguém aqui mesmo."
Do nada vejo a porta ser aberta no chute e rapidamente alguém puxa Victória de cima de mim e a joga com força contra parede.
-EU NÃO GOSTO DE BATER EM MULHER, MAIS VOCÊ.. VOCÊ DA VONTADE DE AFUNDA NESSE CHÃO.
Ela range os dentes como uma fera.
-Num rosna pra mim não vadia! ( Eiri está apertando seu pescoço e a olha com raiva ).
-Cof.. cof.. Eiri deixa ela, foi minha causa.
-Você... é.. do-en-te ( ela diz sem forças ).
Eu abraço Eiri por trás.
-EIRI PARAAAAAAAAAAA!
E então ele solta. E sua respiração descontrolada começa voltar ao normal.
-É a segunda vez que você se salva, não vai ter a terceira! ( ele olha pra ela com desprezo ).
Pega pelo meu pulso com força e me leva a enfermaria.
"Sorte que ninguém viu, e o assunto morreu entre nós."
-Ei..rii eiii me larga eu sei o caminho.
Ele me coloca na parede e me olha nervoso.
-Escuta aqui, para de arruma confusão.
-Mas..
-Cala boca que eu não terminei, sua irresponsável.
Eu mordo a língua pra não ser mal educada.
-E se eu não tivesse ali, ela não tava com cara de quem ia parar, você ia morre.. pela segunda vez.
-Kk pior que é.
-Acha engraçado?
-Sim, acho!
Ele da um tapa forte na parede me fazendo pular de susto.
-Você vai mudar de curso!
-O que não, não vai adianta, ela tá mesma faculdade ainda, e eu não vou desistir do meu sonho por causa de ninguém.
-Sempre foi uma pirralha maldita, teimosa, e cabeça dura.
Meu flashback resolvi aparecer e suas palavras me fazem ligar as coisas. Ele mentiu pra mim..
-Posso ir? Já acabo? ( respondo séria ).
Ele respira fundo e me acompanha até a aula sem dar uma palavra.
No dia seguinte vou assistir a uma corrida de carros com minha best, Leona.
-Eai, tá afim de sentir adrenalina.
-Preciso. ( digo a ela num sinal de súplica ).
Eu nem entendo de carros, mas assistia na Tv de manhã com meu pai, aos domingos, é tão diferente e barulhento pessoalmente.
-Eu já tentei correr uma vez..mais foi num cavalo.
-É e era gostoso esse cavalo?
-Quê não, eu to falando do animal mesmo não do pau de alguém.
Ela ri.
-Eu não queria contar a ninguém mais...
-Pode confiar em mim, o que é? ( ela pergunta ).
-Eu acho... acho que estou grávida.
Ela me olha assustada.
-E quem é o pai? ( sua voz engrossa ).
-Aquele cara metido, loiro, e famoso entre as mulheres..
-Andrew?
-Eiri!
-Ele é um romancista e modelo não é? ( ela encara a pista sem olhar pra mim ).
-É, tá mais pra um monstro.
Dessa vez Leona não ri do meu comentário.
Ela da um respiro longo, aperta as mãos na barra de ferro e me sorri de canto.
-Fico feliz, só acho nova demais pra ser mãe.
-Ahh é.. mais se veio, foi deus né, ele que quis, não eu.
-Religiosa? Tá certo.. ( ela mesmo se pergunta e respondi ).
-Você parece com ele ( digo aleatoriamente ).
-Nunca!
Eu engulo seco.
-Foi mal.
-Não me compare a um moleque.
-Ele tem 29..
-E dái, as atitudes dele são de moleque.
-Ah. ( é única coisa que solto ).
Ela exala raiva. Seu nome a deixa desconfortável.
Eu finjo comprar algo para dispersar a conversa inconveniente.
Na volta ela está sentada no capô do carro.
-Bora?
-Bora.. kkk ( respondo meio tímida ).
-Entra aí.
Quando eu entro sinto um certo frio na barriga.
A Santa do meu chaveiro que minha mãe me deu se quebra.
-Eitaaaa.
-Que foi?
-Quebrou.. depois eu concerto ( penso se foi uma boa idéia vir ).
Ponho o cinto e ela acelera.
-Não tá indo rápido demais, Leona?
Ela não respondi.
-Que caminho é esse? Fica pra lá..
Ela parece que não escutar.
-Por favor, para o carro.
-Não posso!
-Porque não?
Ela abre um sorriso de louca.
-Miga por favor...
-Não sou sua amiga, nunca fui.
-O quê? ( meu coração acelera ).
-O que tá fazendo.. PARAAA.
A estrada está escura e estamos perto de uma ribanceira.
-Tarde demais pra rezar Irina, se eu não tê-lo você também não terá.
Ela continua as ameaças.
-Se não morrer, pelo menos meu trabalho vai estar feito, aqueles bananas que contratei não deram conta do recado.
" Peraiii... ela, ela fez tudo isso?"
Eu começo a chorar de desespero.
-Esse filho NÃO VAI VIR AO MUNDO KATHARINA.
O carro de desgoverna e bate num outro carro, ela gira o volante no mesmo instante, logo nós rodamos com ele. Tudo gira e o estrondo me faz assustar mais ainda, pois na velocidade que estávamos o carro não para, e ultrapassa a barra de ferro.
Nós capotamos até lá embaixo, o carro não parou e foi direto. Tudo que faço é segura no cinto o mais forte possível.
"Nem contei pra minha mãe"
É a única coisa que lembro.
Minha mente se apagou, escuto sirenes, mas tudo é tão... distante.
Eu não sinto dor ou medo, o lugar onde estou é calmo e tranquilo.
"Será que vou encontrar a morte pela segunda vez"
Passo a mão na barriga.
"Talvez eu nem esteja grávida, talvez eu não seja uma boa mãe"
Queria poder ver o rosto do Eiri, mais só tem eu aqui.
"Qual o propósito de tanto ódio?"
Pelo menos aqui.. Não vou dar trabalho a ninguém.
Olho aquela janela de antes, eu parecia ter 7 anos.. o homem que olhava, desistiu de fazer uma maldade, agora descobri, ele não era tão ruim assim.
Apesar de querer matar meu pai depois de três dias. Ele me viu e recuou. De certo lembrou de si mesmo durante a infância ou teve pena.
O mesmo homem daquela boate, o mesmo homem que foi atrás do meu pai com sede de sangue em minha casa. Aquele que me viu brincar de pega pega com Adam na pracinha, que pulou na água pra me salva quando me afoguei na represa, que pegou minha bola que corria pra avenida, o escritor de romance a qual viciei.
Era a mesma pessoa em tempos diferentes. Ele me viu desde os 7 anos.
Naquela vez na igreja, quando eu rezava, todas as velas se apagaram, era uma tempestade terrível o vento batia aa portas violentamente, ele estava ensanguentado. O loiro chegou no meio do tapete vermelho e se ajoelhou diante do altar, prometendo que iria mudar.
Eu nunca vi tamanha confissão.
Eu via ele nos comerciais, nas revistas, propagandas de relógio e perfume.
Derrepente ele.. sumiu. Então num atropelamento nos encontramos novamente, ali não foi o começo..
-Querida?
Ouço uma voz bem perto de meu rosto.
-Querida acorda!
Minha boca não se move e meus músculos também não " que aflição ".
-Ali não era-aa o.. co-meço-o ( agora minha voz saiu ).
-Katharina, finalmente acordou.
Abro os olhos e vejo que estou em um hospital, " percebi pelos aparelhos que marcam os batimentos ".
Uma lágrima escorre de meu rosto.
-Achei que não iria acorda dessa vez.
-Nem...eu. ( choro sem motivo, como um desabafo ).
-Quanto tempo eu to aqui?
O médico entra.
- Uma semana.
-Eu durmi por uma semana?
-Sim querida.
-Os sinais vitais estão bons, não tem nenhum trauma, só um braço e uma perna quebrada. ( o médico me analisa ).
-Haa que ótimo, me sinto um lego ( debocho ).
-Katharina! Isso é jeito de falar com um doutor?
-E isso é jeito de dar uma notícia triste, "com calma"?
-Bom, você teve uma perca também e acho que isso, vai ser o mais triste. ( a voz do doutor soa de forma deprimida ).
Minha mãe põe a mão no coração.
-O bebê... bom você estava esperando um filho.
Minha mãe se segura pra não cair
-O que disse? Eu ia ser avó? ( ela olha para o doutor e em seguida pra mim, nos fuzilando ).
-Calma.. acho que a paciente não sabia disso também.
Aperto os lençóis e mordo os lábios para tentar me consolar e não gritar.
Realmente isso dói, dói demais.
Quando olho pra ele, o mesmo se posiciona.
-Infelizmente você perdeu o bebê, fizemos de tudo, a hemorragia não pode ser contida a tempo, seu marido nos doou duas bolsas de sangue, o sangue foi compatível com o seu, pois.. era do tipo "O".
Minhas lágrimas pararam de escorrer e eu fico olhando pra parede hipnotizada.
-Ohhh meu deus, kate! Porque não me contou? Filha eu teria te ajudado.
-Eu não sabia mãe.. só desconfiei.
-Aquele homem, não confio nele. Eiri acabou com sua vida, esse desgraçado te fez muito mal. Falei que ele há destruiria, te despedaçaria, mas.. como sempre, você toma as decisões erradas.
-Mãee.
-Olha pra você, tá se matando aos poucos, comprando uma briga que não é sua.
-Mãe.. chega, não briga comigo, não agora.
-Não estou brigando, só abrindo seus olhos para mostrar, onde está se metendo.
-Tá, tá, tá, já sei, já sei. O erro foi meu.
-Nãooo foi dele também, ele manipulou você. Te fez de palhaça, usou como escudo para os problemas. E você deixou, sendo submissa, realizando desejos e vontades como uma...
-Chega! Ela precisa descansar LENA! ( Eiri chega pra questionar minha mãe ).
Em todos seus encontros, sempre saem faíscas.
-Nunca ligou pra ela, o que ainda faz aqui.
-Ela é minha mulher e meu dever é protege-la.
-Como?
-A senhora está atrapalhando na recuperação dela, por favor saia!
-Então quero ver me tirar daqui! ( minha mãe cruza os braços ).
-EU VI O ACIDENTE, SABIA QUE ALGO ACONTECERIA. VOCÊ SÓ TRAZ DESGRAÇA A ELA, NÃO É AGORA QUE VAI SER DIFERENTE. ( ela gesticula com as mãos ).
-LENA..AAA ( Eiri altera a voz pela impaciência ).
-ONDE VOCÊ ESTEVE, QUANDO ELA PRECISOU, ONDE??? ONDE.. ( minha mãe agarra em sua camisa, o sacudindo de forma brusca ).
-SOME DA VIDA DELA, SOMEEEEE! ( ela berra, fazendo com que os enfermeiros a levem dali, imediatamente ).
Depois de um tempo o ambiente volta a ficar calmo.
-Quer que eu fique?
Ele me olha de forma Fofa e delicada.
-Pode... fica por favor.
Ele se senta na poltrona de visita sem dar uma palavra. Eiri cobre os braços para que eu não veja os cortes em seu braço.
-Estava se mutilando?
-Isso importa? ( ele permace neutro ).
-Você disse que eu era sua mulher, então..
Ele esfrega as mãos uma nas outras.
-Nós dizemos muitas coisas no calor do momento.
-Tá, bem, você venceu.
-Quantas vezes pedi para que me escutasse ? Hein? Você não me houve?
-Me afastar das pessoas, não vai mudar as coisas, só está me isolando, isso não é legal.
Ele levanta e passa a mão pelos cabelos.
-Você é doente! Victória tinha razão.
Eu continuo vendo sua impaciência aumentar cada vez mais.
-Eiri, se ME escutasse, seria diferente, para! De me trata feito criança, eu sou uma mulher agora.
-VOCÊ NÃO ME DA ESCOLHA!!!
-Não acredito que depois de tudo ainda vai alimentar seu ego.
-EU TE AMO PORRA, NÃO SEI O QUE FAZER MAIS, QUANTO MAIS ME APROXIMO MAIS TE MACHUCO...KATHARINA..EU NÃO SEIII. ( Eiri chora, chora de desespero, ele se ajoelha com tudo, deitando a cabeça na minha cama ).
Eu começo a chorar com ele, mais seco as lágrimas me mantendo forte. Ele está desabando então um de nós precisa dar forças.
Tenho muitas dúvidas, e coisas que quero saber se é real.
Não é a hora certa...
-Se cortar não vai me fazer melhorar, sabia?
-É.. mais me alivia, pois sei que você não é a única machucada.
-Eiri.. ( suas palavras são como um ferro quente entrando em mim ).
-Não tenho mais nada a te oferecer, se quiser desistir, não vou obrigar, pode ir, está livre pra seguir.
Dou um tapa em seu rosto, mais ele não se move e parece que não sentiu nada.
-Idiiioootaaaa, eu odeio você, me faz sofrer..
Ele evita olhar pra mim.
-Mais mesmo assim, eu o amo. Amo mais do que minha própria vida, e por mais que me mantenha distante, vou ficar com você.. até o fim.
Ele segura o resto do choro, mais.. para que eu não veja, ele afunda o rosto nos lençóis.
" Depois eu que sou a criança ".
Não perguntei quem ligou para dona Lena, certeza que foi ele.. na verdade, ligou para o Adam e como um bom filho que é, deu a notícia á mãe.
Ele não teria coragem de falar isso a Lena. Assim como também não conseguiu olhar na minha cara.
-Eu tô confuso.
Faço carinho em seus cabelos bagunçados.
-Nós somos confusos. ( respondo ao loiro sombrio de coração partido ).

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