Pai torto

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Abro a porta com o sorriso no rosto, pois sei que será uma ótima temporada.
Nos daremos muito bem, estou até pensando em parques, piqueniques e etc.
Quando finalmente volto a mim, lá está ela.
-Oiiii.
-Oi.
-Como vai?
-Cadê meu pai? ( ela já vai entrando )
E me ignora completamente.
-Noosssa como você tá grande! ( digo para contornar a situação ).
-Hum, é.
Fico sem graça ao ver que me enturmar é uma idéia ridícula e não está dando certo.
-Ele tá no quarto. ( aponto o local ).
-Muito obrigada ( ela responde com o sorriso e corre ).
"Pelo menos é educada".
-PAAAAIIIIIIII.
Ela vai com tudo pra subir na cama, e começa a pular.
Eiri só lança um único olhar e no mesmo instante ela para e fica sentada com uma carinha assustada.
-Aqui é parque de diversão por acaso?
-Nãoo.
-Eu não ouvi direito... ( ele insisti em envergonhar a menina ).
-NÃO!
-Porque tá gritando?
-Eiriii pega leve ela é uma criança.
Agora sou eu que recebo o olhar penetrante e maligno.
-Posso pegar suas malas? ( digo a ela ).
-Não! ( Eiri responde sério).
-Eiri não vou deixar no meio da casa.
-Ela sabe se vira, não é um bebe.
Nesse instante ela fica cabisbaixa sem dar um piu.
-Tá pesado!
-Quem mandou ela trazer a casa! É só o básico, não vai usar tudo isso e outra avisa pra sua tia, que você vai ficar aqui no máximo uma semana, não vou ficar aturando criança não.
-EIRI que horror..
-Horror? Eu estou sendo sincero, ela vai dar trabalho, já tô avisando.
-Não vai, ela é Queta.
-Como você pode saber? Não é mãe dela!
Minha boca trava, Eiri foi duro na resposta e isso me incomodou, mais entendo que ele está nervoso. Nem por isso tem que desconta em mim.
-Irina? Você escutou o que falei?
-Hãa? Não, o que era?
-Esquece.
-Fala.
-Deixa pra lá.
-Ta bom... Não vou discutir.
-Bom mesmo. ( ele se levanta e bate a porta com tudo ).
Meu olhar se volta para ela.
-Tudo bem, que tal tomar um banho, e tirar as roupas da malinha, hein?
-Meu pai me odeia.
-Nãoo ele só tá nervoso com o trabalho.
"É então somos duas, porque Eiri também me odeia". Meu subconsciente me lembra.
-Ele é tão grosso...
-É, é sim, ele é terrível, mais é o jeito dele, assim como você é bonita, fofa e delicada.
Ela me encara e nesse momento percebo que nem precisa de DNA, "ela é a cópia dele".
-Você é cuspida e lambida o seu pai ( a olho com curiosidade ).
-Cuspida? Lambida? Eu não sou cachorro..
-Nãoooo kkkk é modo de falar.
-Que isso?
-Bom esquece, só é uma coisa minha ( me enrolo ao explicar ).
-Vamos tomar banho.
-Eu já tomei.
-Toma outro.
-Ahhh nãaaaoooo.
-Ah Simmmmmmm ( retruco imitando sua voz ).
-É que nem lala, ela faz igualzinho.
-Quem é lala.
-Meu pônei.
-AHHHH EU SOU LOUCA POR PÔNEIS DEIXA EU VERRRRR.
Ela me olha com desdenho igualzinho ao Eiri.
-Não.
-Por favooorrrrrrr.
-Nossa, você é irritante! ( ela diz saindo da cama e indo para sala ).
"Rejeitada pelo pai, agora rejeitada pela filha, misericórdia".
Converso comigo mesma fazendo café.
-Ei. ( alguém puxa minha saia ).
-Oiii.
-Olha ( ela me mostra o pônei ).
-AHHHHHH MEU DEUSU ITI MALIA, COISA FOFA DA MÃE, AHHHHHHH. OLHA ESSA PELAGEM, ESSES OLHINHOS.
-Devolve ele, ele é MEU!
-Eu sei vou te devolver.
Ela me olha feio e e se vira pra parede.
-Você é mesmo uma adulta?
-sou.
-Não parece.
- Porque?
Esperando a resposta arrogante da cópia do Eiri em 3..2..1.
-Você é quase do meu tamanho e tem voz de bebe.
Minha cara vai no chão, "olha que abusada".
-É, mais eu tenho 21 anos ( me orgulho de ter essa idade ).
-Nossa, pensei que tinha 14.
"Porque ela gosta de me derruba".
-Quer comer um doce ( mudo de assunto por estar puta ).
-Não como doce.
-Quêee????
-Não, doce é doce demais, as vezes até passo mal.
-Da pra vocês pararem de falar feito papagaio ( Eiri fala alto ).
-Paiiii.
-Que é?
Ele esta digitando no notebook.
-Olha meu pônei.
Ele olha e se vira para a tela novamente.
-Tá idai?
Ela desmanha o sorriso.
-É lindo né, eu gostei muuuiito, assim muitão mesmo.
Ela ri de mim e sua carinha melhora.
-Irina você não tem o que fazer né?
Ele tira o óculos e me encara.
-E VOCÊ, não deveria estar fazendo nada mocinho. O médico que disse.
Isadora ri por eu achamá-lo de mocinho.
-Qual a graça, tenho cara de palhaço agora? ( ele olha sério e sem emoção para filha ).
-EIRI YUKI!
Ele se cala. "Com certeza deve estar me xingando mentalmente".
Faço o doce e dou para ela.
-Olha que gostoso, brigadeiro com doce de leite na bolacha...
-Eca! ( ela diz com cara de nojo ).
-É gostosooo, experimenta!
Ela ainda olha com receio mais experimenta.
-E aí?
Ela vira o rosto para não me encarar.
-Até que é bom.
-Impressionante que suas atitudes e gestos são iguais as dele. Mesmo não convivendo.
-Katharina vem cá.
Gelo na hora, pois sei que falei besteira.
-Porque eu tenho que ir?
-Por que eu quero que venha aqui.
Ela me puxa pela blusa.
-O papai vai te bate?
-Nãaaaoo, dá onde você tirou isso? Ele nunca me bateria.
-Ah. ( ela se tranquiliza ).
Caminho até ele.
-Fala!
-Para de fica dando tranqueira pra ela, ouviu? PARA! Se não vou ser obrigado a levá-la no hospital.
-Aiiii, como você é chato?
-Chata é você que fica empurrando as coisas. Você nem sabe o que ela gosta?
-E muito menos VOCÊ.
Ele estreita os olhos e me ignora.
-Que é ficou sem palavras? ( cruzo os braços ).
-Como você é ridícula.
Encontro ela no quarto rabiscando um caderno de desenho.
-Vamos tomar banho e comer?
-Não.
-Ahh temos que ir, afinal há um evento hoje.
Ela me ignora e rabisca novamente.
-Não ouviu garota? Passa pro chuveiro. Eiri se escora na parede do quarto para falar, com as mãos no bolso.
-Não vou.
Estou sentindo um gelo percorrer o meu corpo.
-Como é ?
Ele sai da postura e se aproxima dela.
"Se eu estivesse em seu lugar mijaria nas calças".
-Repente!
-Eu-uu, vou.
-Hã? Não ouviii.
-Eu vou.
-Acho bom, porque se não...Tá vendo aquela sacada? Eu te jogo dali.
Ela se desespera e corre pro chuveiro.
-E sem chora! Ouviu!
-Ta-aa.
-Não tá chorando não, né?
-Não.
A voz dela é choro, mais ela está se controlando.
-Pai pega a toalha pra mim, por favor.
-Pega você, não é alejada.
-Nuuussa senhora, Santa ignorância.
Raider chega.
-Povo, vocês vão pro casamento? Eu levo vocês.
-Não sei se o Eiri tá bem, ele tá num humoorr.. ( digo erguendo as sombracelhas ).
-Ahh ele nunca foi bonzinho, isso é fato.
Raider se ajeita no sofá.
-A Pirralha tá ai.. ou pirralha não, a Isadora ( concerto ).
-Convivência.. ( Raider ri do meu erro ).
-Eiri? Porque você tá molhado?
-A mula não sabia muda o chuveiro, dai eu mudei e ai fiquei assim.
-Hummm ajudando a filha ( Raider provoca).
-Cara você não tem casa?
-Poxaaa brother, que maldade. ( diz ele imitando choro ).
-Ou??? Se tá de pé cumpade?
-Tô, ué.
-É UM MILAGREEEEEEE, EU OUVI AMÉMMMM?
-AMÉM. ( respondo levantando as mãos pro alto ).
Ele nos encara como idiotas.
-Paiii, acabei
Ela sai pelada do chuveiro até a sala.
-QUE QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI? PRO QUARTO AGORA.
Ela corre e Eiri vai atrás.
Raider ri.
-Não achei toalha.
Ele arranca a camiseta e coloca nela.
-Você vai fica doente, se andar assim.
-Mano que fofa a bundinha dela.
-Kkkkk né, ela muito linda.
-IRINA VEM AQUI!
-SIMMM.
"O que eu fiz dessa vez".
-Escolhe uma roupa pra ela.
-Ué, é tão fácil.
-Se fosse eu mesmo iria pegar ( ele debocha ).
-É só uma roupa.
-ME DESCULPE EU NÃO TINHA BARBIES, PRINCESA! ( ele fala num tom sarcástico ).
Vou na mala pegar um conjuntinho fofo para vesti-la.
-Pronto.
-Veste ela. ( ele diz ).
-Que?
-Vai Irina! Você sabe dessas coisas.
-Não sei não.
-Você não tinha boneca, porra.
-Eiriii ( ele cita um palavrão na frente da menina ).
-Me desculpe, caralho.
-Eu sei me vesti, pai.
-Ah. Menos mal.
-Só não consigo pentear o cabelo.
-Tá isso é fácil.
Respiro aliviada porque não serei eu.
-A Irina faz.
-QUÊ? PORQUE EU.
-Porque você é mulher.
-Idai? Homem também pode.
-Ei, vocês dois!! Tem certeza que vocês estão preparados para serem, pai e mãe
( Raider comenta da sala ).
Nós dois ficamos mudos.
-Daqui eu penteo essa porra!
-Nãooo pai.
-Que é, tá com medo de que?
-Você vai quebrar ele.
-Vou nada, vira de costas.
Ela vira tampando os olhos, com medo de machucar.
-Aiiii tá doendo.
-Eiri vai com calma. ( Digo assustada ).
-Não tenho culpa se ela é dura.
-Aiii.
-Segura a cabeça, praga.
-Mano vou colocar meu fone, pra não imaginar um pornô ( Raider ri e coloca os fones ).
-Você vai arrebenta tudo, tem que colocar creme.
-Olha isso... parece um ninho de rato! Gente... olha? Vai quebra a escova, Meu deus você brigo com gatos? Que coisa horrível.
-Eiriiii.
Ela começa a chorar.
-Eiri, para de ofende ela.
-Quero saber, como vou desenrolar essa bucha. ( Eiri fica indignado ).
-Taca creme nessa merda sem miséria, porque tá foda. ( Eiri debocha ).
Riu mas tento controlar.
Depois de terminar nós vamos comer.
Passa um jogo na TV e decido assistir com Raider.
-Pai?
-Que é?
-Meu pônei rasgo.
-E eu com isso?
Observo a cena de longe.
-Vê com a Katharina.
-Tenho medo, dela roubar ele.
Ele passa a mão no rosto e respira fundo.
-Tá..
Ela abre um sorriso.
Ele costura com cuidado e ela observa, ele quebra a linha no dente e devolve o pônei.
-Tô, agora some!
-Obrigada, papai.
Ela da um beijinho no rosto dele e sai correndo com vergonha.
Eiri fica vermelho e fingi não ter acontecido nada.
-Também quero um beijinho ( Raider zoa ).
Eiri só levanta fingindo que não ouviu.
-Eirii..
-Fala amor.
-Que??? ( tomo um susto ).
-Irina... eu quis dizer Irina.
-Ah.
Meu coração acelera e fico vermelha, "Eiri sempre me surpreendendo".
-Você vai no casamento?
Ele pensa e não fala.
-Sou o padrinho né?
-Sim..
-Do seu ex?
-É.
-Qual o sentido disso?
-Eiriiii vai ou não?
-Só acho estranho... seu atual estar lá do lado do ex. Meio pesado.
-É mais... ele escolheu assim.
-Irina, quer mesmo fazer isso?
-Porque tá perguntado...
-É chato.. ele viveu tanto tempo com você e agora..
-Eu VOU! Já disse! Só falta você decidir.
Ele me olha com um pouco de pena.
-Não sei não..
Abraço ele forte.
-Por favor... por favor, vai comigo, você vai me fortalecer.
Ele me afasta e vê meu rosto em lágrimas.
-Você tá confusa.
-Ele tá feliz... num tá ( começo a soluçar ).
-Odeio pessoas que mentem pra si mesmas.
-Eu tô com VOCÊ AGORA! Num TÔ?
-Não é isso que estou dizendo..
Eiri está falando baixo comigo, está manso, ele está tranquilo, isso me assusta, achei que ele estava com ciúmes.
Enquanto vou decidir meu vestido, Eiri vai para frente do espelho e se arruma.
-Sabe a cor do vestido?
-Sei... mais o foda é que deixei pra última hora.
-Pega meu cartão, vai lá comprar um.
-Não sei escolher...
Eiri pensa.
-Raider? Tá vivo?
-Simmmm graças a deus ( ele respondi bebendo o wisque de Eiri ).
"Ele vai mandar o Raider ir comigo".
-Fica com a Dora, porque eu vou ali com a Irina.
-Hã??
Olho para ele sem entender.
-Vem..
Ele estende a mão pra mim e eu fico com vergonha.
Entro no carro com ele.
Ele parece estar calmo.
Ao chegar no shopping, ambos reconhecem ele e pedem fotos.
Ele as trata bem, me pedi licença e tira.
-Posso pega na sua mão...Eiri?
-Porque ainda pergunta?
Fico recuada e ele chega perto de mim e me da um beijo na testa.
-Vem...
Ele pega na minha mão e me guia pelo shopping.
-Tem uma loja aqui, que é de vestidos.
-Tá...
Ele me olha e abre um sorriso de canto. Sabe que estou nervosa, com vergonha e tímida.
Entro na loja e logo minha vontade é correr.
Eiri me puxa e me coloca na frente da moça.
-Ela precisa de um vestido com urgência.
-Qual preço seria? Tem de..
-Não importa.
A moça assusta.
-É vermelho.
-Moça é pra hoje ( Eiri pressiona ).
A moça corre com as auxiliares.
-Eiri...
-Calma linda.
Meu coração só acelera quando ele me elogia. Me sinto nas nuvens.
Vou experimentando os vestidos e mostrando a ele.
-E esse?
-É bonito.
-Mais você disse isso dos últimos 5.
-Porque todos são bonitos ( ele retruca ).
Entro no vestiário e fico pensando.
O vestido se encaixou ao meu corpo mais é decotado.
Eiri abre a cortina.
-Porque tá demorando?
-Ouuu.. ( empurro ele pra fora ).
Ele me pega pela cintura e trás para si.
Eu estou um pouco trêmula, o casamento é do meu ex. Eiri sabe disso, e está muito tranquilo.
Ele adentra suas mãos em meus cabelos e me beija intensamente.
Retribuo imediatamente.
Eu precisava disso, agora que sinto seu gosto, meus pensamentos deixam de ser turbulentos.
-Eir-ii.. ( Eu paro o movimento o afastando um pouco ).
-Xii, fica quetinha.
Ele volta a me beijar, sua língua pede espaço, e logo se enrola com a minha.
A um bom tempo não nos beijamos, acho que até perdi o costume.
Respiro, olho em seus olhos e abraço como um urso.
Ele apoia a cabeça na minha e da um beijo leve nela.
-Está tudo bem moça?
Fico quieta.
-Tô ajudando ela.
As mulheres murmuram e riem baixinho.
Inclusive eu.
Abro a cortina e lá estão elas de plantão para me atender.
-Acho que vai ser esse.
-Ótima escolha.
Fico com vergonha de usa o cartão dele. Mais uso e quando vou devolver...
-É seu, pode ficar.
As mulheres colocam a mão na boca e eu congelo.
-Tá-aa ok, então..
-Anda Irina!
-Já vouuu.
-Tchau moças.
-Bom casamento ( elas acenam felizes da vida pela compra hiper cara que fiz ).
-Dá tempo?
-Dá.
Ele joga para trás as sacolas e se prepara para sair do estacionamento.
Olho para meu celular e minha mãe me ligou 8 vezes.
-Irina... vai dar tudo certo.
-Sei que vai.
-Porque eu estou com você.
Ele coloca a mão na minha coxa alisando-a e eu retribuo com um sorriso.

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