Capítulo 01 - Introdução

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AVISOS:

• Esta fanfic também foi postada no Spirit Fanfiction.

• A história possui trechos sobre temas delicados, sendo o principal deles a violência familiar. Se você se sente desconfortável, peço que não leia! Obrigada pela compreensão.

• A fic foi revisada em setembro de 2021 para atender às regras de postagem do site.



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Atrás daquela porta de madeira maciça, no terceiro e último andar da casa, alguém escutava enquanto Changkyun lia em voz alta. Sentado no chão com as costas apoiadas na parede do corredor, ele folheava as páginas com cuidado e ditava cada frase como se a história narrada fosse de sua autoria. Sua voz era o único som a ecoar pelo corredor, uma vez que os demais moradores quase nunca perdiam tempo subindo até ali. Ele, porém, não se importava em encarar todos os dias os dezesseis degraus de piso e espelho irregulares, quase sempre no mesmo horário - por volta das seis da tarde -, munido de livros, papel e caneta. Fazia isso às escondidas no início, quando não tinha certeza sobre que locais lhe eram permitidos explorar, mas, com o passar do tempo e a real ausência de sermões, ele se deu conta de que qualquer lugar na casa era também seu por direito.

Atrás daquela porta, no entanto, estava o único cômodo que ele, principalmente ele, estava proibido de conhecer. O problema não estava no quarto em si, mas em seu ocupante: Jooheon, o rapaz que nunca era visto, mas para quem Changkyun dedicava suas leituras - e ele esperava sinceramente que estivesse sendo apreciado, embora nunca realmente recebesse nada em resposta a seus esforços.

A única pessoa autorizada a entrar naquele local era Hyunwoo, o mais velho dos rapazes. Era quem cuidava da alimentação de Jooheon, mas nunca falava sobre nada além disso. Se Changkyun insistisse em interrogá-lo sobre o morador misterioso, Hyunwoo simplesmente lhe dava como resposta uma lista de verduras e o despachava para o povoado para fazer compras.

Havia muitos boatos circulando sobre Jooheon desde sempre. De acordo com Minhyuk, irmão mais velho de Changkyun, o garoto seria apenas um fantasma incapaz de realizar a passagem para o outro mundo. Já Kihyun, seu agora melhor amigo, achava que Jooheon tinha alguma doença que o impedia de manter contato - inclusive físico - com outras pessoas (o que soava bem mais plausível do que a conclusão de Minhyuk). Mas Changkyun não acreditava que nenhuma dessas hipóteses fosse válida. Ele tinha conhecimento sobre parte do que havia acontecido há anos e sabia que Jooheon não tinha nenhum problema grave, ao contrário, as outras pessoas é que tinham problemas com ele.

Changkyun terminou de ler, marcando a página com uma folha colhida mais cedo no jardim. Como de hábito, escreveu num pedaço de papel a pergunta que vinha fazendo nos últimos meses depois das sessões de leitura: "Você está aí?". Com cuidado, deslizou o papel para dentro, por baixo da porta, e esperou os costumeiros quinze minutos pela resposta. Nada, como sempre. Levantou-se e caminhou até a escada para retornar aos seus aposentos.

Changkyun tinha vinte e um anos recém-completados, mas praticamente perdera metade deles depois de sofrer um grave acidente quando era criança: quase morreu afogado depois de ter sido golpeado na cabeça e caído dentro de um lago. Acontecera bem perto da casa, quando tinha apenas nove anos de idade e estava brincando no parque central. Ele sofreu durante longos onze anos com surtos de amnésia, sem conseguir lembrar-se do passado nem guardar as informações do presente. Quando finalmente conseguiu recuperar a capacidade de se lembrar das coisas, ja estava com vinte anos de idade. Durante o ano seguinte foi obrigado a aprender tudo o que precisava para sobreviver sozinho, mesmo estando circundado de gente, e sofreu bastante com a recuperação que incluía terapia e aulas intensivas. Ele se sentia pronto, depois disso tudo, para ser visto como uma pessoa normal, embora todos o fitassem e se lembrassem dele como o "garoto que ficou onze anos em branco". Estava marcado por ser o sobrevivente de um conflito que jamais era mencionado. Obviamente ele se lembrava de fragmentos do dia em que foi atacado, mas não havia a cola para uni-los em uma história compreensível. Era por isso que ele subia até a porta de Jooheon, na esperança de completar este enorme quebra-cabeça.

Pomegranate Seeds | JooKyunOnde histórias criam vida. Descubra agora