Capítulo 02 - Hyungwon hyung

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Os Shin tinham uma verdadeira biblioteca dentro de casa e era lá que Changkyun mais se divertia desde que os lapsos de memória cessaram. Com toda a confusão em torno do desaparecimento de Jooheon e, sem ter mais para quem ler em voz alta, o garoto se enfurnou no cômodo procurando pelos autores que o irmão havia recomendado. Encontrou dois deles: Nabokov e Miller, e levou os dois livros para a mesa redonda próxima à janela. Juntas as obras pareciam ter uma média de quatrocentas páginas, mas ele estava com a esperança de saciar as suas dúvidas sem precisar ler tanta coisa de uma vez.

Começou por Trópico de Câncer, estranhando o início da leitura onde o narrador fazia elogios à uma axila e falava sobre parasitas. Mais algumas frases e a palavra pênis começou a aparecer repetidas vezes em poucos parágrafos. "Tudo bem", Changkyun pensou, "ele está mencionando os órgãos de alguns animais". Mas então apareceu uma personagem a quem o narrador claramente desejava, e alguma coisa pinicou Changkyun, que começou a desconfiar sobre o motivo de Minhyuk não ter lhe dito o que seus hyungs estavam fazendo mas, ainda assim, ele não achava que essa fosse a resposta certa. Ele parou de ler depois da quarta menção à vulva de uma mulher e deixou o livro de lado. Decidiu dar uma olhada em Lolita, cuja primeira página lhe pareceu um tanto quanto esquisita - o narrador estava falando de uma paixão por uma menina -; mais adiante, ele percebeu, o narrador falava sobre lembranças e alguns acontecimentos sexuais, o que foi o suficiente para fazer o queixo de Changkyun cair, porque enfim ele havia percebido o que tudo aquilo queria dizer.

Hoseok e Hyungwon não estavam brigando, mas se atracando por outro motivo e de outra forma. Changkyun sabia que as pessoas se amavam fisicamente, mas nunca teria suspeitado que seus hyungs pudessem fazê-lo uns com os outros. O que ele havia lido em tantos livros anteriormente não era nada como as coisas que estavam descritas nestes que ele agora folheava com receio, mas também com muita curiosidade. Teria terminado ambos se alguém não tivesse lhe interrompido.

- Eu devia saber que só havia um lugar onde você poderia estar e... - Hyungwon se calou ao checar o que Changkyun havia escolhido para ler. Levantou uma sobrancelha, apontando para o livro que o garoto tinha nas mãos. - Lolita?

Changkyun arregalou os olhos e fechou o livro depressa, arremessando-o sobre a mesa, como se alguém tivesse deixado aquela monstruosidade ali e ele tivesse apenas pegado para ver a capa. Mas nenhum disfarce adiantaria, não quando Hyungwon esticou o pescoço e leu o título do outro livro, o de Miller, e deixou escapar um risinho de surpresa.

- Se você não se importar, está na hora dos estudos - Hyungwon informou, ainda com um sorriso no rosto. O outro tentou dizer alguma coisa, mas não sabia que palavras usar, portanto calou-se e se levantou para sair.

Os dois seguiram até o segundo pavimento e entraram no quarto de Changkyun, onde o mais velho ensinava algumas matérias ao mais novo todas às quintas e sextas feiras. Eles se sentavam sempre lado a lado na escrivaninha, Changkyun à direita de Hyungwon porque era canhoto, e ficavam horas estudando até alguém aparecer para chamá-los para o jantar. Naquela tarde, porém, Changkyun tentou tomar certa distância de seu hyung por estar deveras envergonhado. Pelo tom de voz usado pelo mais velho, ele sabia muito bem quais eram os temas dos livros que ele havia selecionado. Além disso, Changkyun não conseguia deixar de pensar que Hyungwon estava fazendo aquele tipo de... coisas... com Hoseok, o que era muito para sua imaginação fértil.

Hyungwon sempre foi um bom hyung. Era dois anos mais velho que Changkyun e o ajudou bastante, principalmente com relação à morte da senhora Shin. Ele sempre ficava de companhia no quarto nos meses em que Changkyun estava ainda bastante debilitado, sofrendo com a terapia que lhe exigia um esforço mental tão grande que resultava em muitas dores de cabeça. Auxiliava-o com os horários, com as dúvidas e com os deveres, ensinando tudo o que ele sabia. Eles eram bons amigos também.

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