Eles estavam correndo no quintal da casa e entrando e saindo da sala de estar. De vez em quando subiam as escadas em silêncio com medo de atrapalhar quem estivesse repousando ou estudando nos quartos. Changkyun tinha feito uma dobradura de avião e agora eles precisavam de mais um pedaço de papel para criar outra dobradura para Jooheon. Eles subiram até o quarto do mais novo e, depois de estarem ambos com seus respectivos brinquedos, desceram à procura de mais espaço.
- Esconda-se caça 1402! Eles têm canhões apontados para o céu! - Changkyun disse e se afastou de Jooheon que seguiu por outro corredor. Eles adoravam inventar histórias e quanto mais absurdas elas fossem, melhor. Changkyun se escondeu na cozinha, embaixo da mesa e esperou pelo próximo comando que seria dado por seu amigo, mas ele ficou tempo demais em silêncio, o que levou o mais novo a procurá-lo. Jooheon estava parado no corredor do terceiro andar, de frente para a única porta maciça do pavimento, os braços caídos nas laterais do corpo como se tivesse visto um fantasma.
Sem dizer nada, Changkyun se aproximou e tentou enxergar o que havia deixado seu hyung naquele estado. O que viu dentro do quarto, que estava com a porta entreaberta, foram dois borrões que ele não conseguiu distinguir. A cena então mudou novamente para o lago, a água turvando sua visão e entrando por seu nariz e seus ouvidos.
Changkyun abriu os olhos assustado. Nunca tivera um sonho tão longo e, mesmo sem ter certeza, achou que aquela cena poderia realmente ter acontecido. Jooheon e ele adoravam inventar brincadeiras estranhas quando eram crianças e o fato de que sempre havia duas pessoas num quarto em seus sonhos o deixava intrigado. E se, naquele dia, eles tivessem visto algo que não deviam e por isso tinham sido atacados?
Ele balançou a cabeça, confuso. As palavras escritas no diário o faziam imaginar que poderia ter havido uma quinta pessoa na cena do acidente, alguém que nunca fora mencionado e que seria o real culpado ao invés de Jooheon. Embora não fizesse sentido, era a versão que ele então mais desejou comprovar: isso livraria o amigo e qualquer um dos outros envolvidos do julgamento cruel das pessoas.
Desceu as escadas até a cozinha onde quase todos os outros estavam reunidos tomando o café da manhã. Aos domingos o único que não se fazia presente era Hoseok, que geralmente tinha tarefas no restaurante. Shin Hosung estava sentado em sua poltrona na sala de estar com uma bandeja de café em seu colo, compenetrado em algum programa sobre animais na televisão, e Changkyun curvou-se num cumprimento rápido antes de se juntar aos garotos, puxando uma cadeira na mesa e já pegando pedaços de torrada com as mãos.
- É quase um milagre quando você acorda sozinho - Hyungwon disse e pegou um copo da bandeja de centro, servindo-a com o suco de cor avermelhada para deixá-la na frente de Changkyun. Kihyun olhou de esguelha e desviou o rosto para fora.
- Podíamos fazer alguma coisa no povoado hoje, o que acham? - Minhyuk sugeriu, mas ninguém pareceu muito animado com a sugestão. - Ah, qual é? Vocês estão parecendo um bando de velhos!
No primeiro gole, Changkyun segurou o copo na altura dos olhos e ergueu uma sobrancelha, sem ter certeza de que tinha apreciado aquele gosto.
- Do que é esse suco? - ele perguntou.
- Romã com hibisco - Hyunwoo respondeu sem se virar. Estava preparando alguma coisa na pia.
- Exótico - Minhyuk falou em um tom de voz divertido, apontando para Hyunwoo. Voltou ao assunto anterior: - E então? Ar puro? Passeio pela praça?
- Obrigado, hyung, mas não estou com muita vontade - Changkyun respondeu e Kihyun imediatamente se juntou a ele, alegando que estava cansado por ter trabalhado a semana inteira.
- Você tirou um belo de um cochilo com meu irmão ontem, não foi? - Minhyuk disse e parecia indignado que ninguém quisesse acompanhá-lo. Kihyun ficou levemente corado. - Hyungwon?
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Pomegranate Seeds | JooKyun
FanfictionDurante onze anos Changkyun sofreu com surtos de amnésia por causa de um acidente ocorrido na infância. Quando os lapsos de memória cessaram, ele teve de se adaptar à vida como se tivesse saído de um coma: além de viver com uma família nada convenci...