O táxi já estava lá quando Changkyun desceu apressado pelas escadarias. Minhyuk rolou os olhos pela demora do irmão e os dois entraram no veículo, informando ao motorista o endereço para onde estavam indo. As sessões de terapia aconteciam aos sábados de manhã, quinzenalmente e, mesmo com a rápida recuperação do garoto, os profissionais não achavam uma má ideia dar continuidade aos exercícios. Todos o conheciam na clínica como se ele fosse um garoto renascido de um longo coma, por isso era tratado com carinho e curiosidade. Por ser muito bonito, as pessoas também paravam o que faziam para vê-lo. Tudo estava sempre em ordem. Minhyuk também chamava a atenção por sua aparência e quando não estava flertando com alguma enfermeira, ficava dormindo com o braço apoiado na poltrona da sala de espera, exausto por conta do cansaço acumulado no trabalho durante a semana. Depois da terapia, eles passavam na livraria e Changkyun retornava sempre com um exemplar novo e uma ansiedade graúda em devorar a nova compra.
Dessa vez, voltava com um livro chamado "O Pântano das Borboletas", segurando-o contra o peito como se fosse seu maior tesouro no momento. Quando ele e Minhyuk desceram do táxi, já perto do meio dia, uma coisa diferente chamou a atenção do mais novo: na janela mais alta da casa, aquela que pertencia ao quarto do sótão onde ele nunca havia entrado, havia a sombra de alguém e ele pôde jurar que era Jooheon. Sem dizer uma palavra, Changkyun desatou a correr para dentro, largando o livro na primeira mesa que viu. Pulou os degraus de dois em dois e quase tropeçou ao fazer o contorno do último degrau, pisando com força no tapete do corredor que ele conhecia bem. Sem pensar duas vezes, pôs a mão na maçaneta arredondada e abriu a porta de madeira, invadindo o cômodo com seu corpo desajeitado e agora cansado, os olhos vistoriando cada canto quando perto da janela não havia nada além das cortinas que iam do teto ao chão.
Mas ele o vira! Uma forma tão real que era impossível que estivesse alucinando, como Minhyuk disse que estava depois que o tirou daquele lugar à força. Changkyun não teve nem tempo de observar muito do quarto, porque Minhyuk lhe arrastou até o segundo andar, aparentemente furioso.
- Você não pode entrar lá! - ele disse, uma das mãos na cabeça e outra na cintura. - E nunca mais me assuste desse jeito, achei que estava passando mal!
Changkyun fez bico, mas logo emendou a pergunta que Minhyuk engasgou para responder:
- Se o quarto de Jooheon está vazio, o que é que tem eu entrar lá?
O irmão soltou um suspiro pesado e disse que eram ordens do senhor Shin. Se alguém visse outra pessoa circulando pelo quarto tão conhecido, poderiam descobrir que Jooheon não estava mais preso e isso só traria problemas.
- O terceiro andar é bem visível de alguns pontos na vizinhança - Minhyuk disse e Changkyun fingiu entender, mas a verdade era que não havia muito sentido naquela explicação. Ele esticou o livro que o mais novo havia largado. - Toma. Não me faça correr atrás de você de novo.
- O que está acontecendo aqui? - eles ouviram uma voz surgir pela escadaria e Hyunwoo se aproximou, analisando as expressões dos garotos.
- Changkyun, curioso como sempre - Minhyuk disse e apontou para o irmão -, estava entrando em lugares onde não deve.
Hyunwoo não demonstrou emoção alguma, mas levou a mão direita até o ombro de Changkyun e lhe deu um apertão leve e bem amigável. Em seguida, encarou Minhyuk.
- Queria falar com você - ele disse simplesmente e o outro concordou. Os dois fizeram questão de esperar Changkyun entrar em seu próprio quarto antes de seguirem para outro aposento.
Changkyun deixou o livro sobre a mesinha de estudos e caminhou até a janela, observando o entorno. Realmente havia algumas residências na vizinhança com janelas voltadas para a casa, mas certamente não havia ninguém vigiando o terreno dos Shin vinte e quatro horas por dia; e se alguém visse um vulto na janela, logicamente pensaria se tratar de Jooheon, já que ninguém conhecia sua aparência além de Hyunwoo. Talvez Minhyuk estivesse escondendo alguma coisa e novamente tivesse medo de falar diretamente com o irmão, como quando tentou explicar que Hyungwon e Hoseok não estava brigando, mas fazendo sexo. Changkyun teve vontade de ir atrás de seu hyung e dizer umas poucas e boas para ele, sobre já estar grande o suficiente para entender o que quer que ele tivesse para dizer; mas de que adiantaria quando ainda o tratavam como o bebê da casa? Ser o mais novo já era ruim o suficiente, porém, ser o menino da amnésia era muito pior.
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Pomegranate Seeds | JooKyun
Fiksi PenggemarDurante onze anos Changkyun sofreu com surtos de amnésia por causa de um acidente ocorrido na infância. Quando os lapsos de memória cessaram, ele teve de se adaptar à vida como se tivesse saído de um coma: além de viver com uma família nada convenci...