- Não tenho certeza se é uma boa ideia - Minhyuk disse quando Changkyun se ofereceu para levar a bandeja com comida para o quarto de Hoseok, que não comia desde o acidente com Kihyun. O mais novo insistiu tanto que seu irmão acabou cedendo, mas avisou que ficaria do lado de fora, escutando.
Changkyun carregou a bandeja com as mãos tremendo de leve, porque tinha decidido contar o que sabia antes que fosse tarde demais. Bateu na porta do quarto de Hoseok e a abriu mesmo não recebendo resposta. Entrou devagar vendo seu hyung deitado, os olhos cobertos por uma camiseta dobrada, e encostou a porta com o pé, levando a bandeja até o colchão.
- Eu não estou com fome - Hoseok disse e descobriu os olhos, tomando um pequeno susto ao constatar que não era Minhyuk quem estava ali. Ele engoliu em seco e se sentou, observando Changkyun deslizar o objeto por sobre o edredom amarrotado, também tomando posto na ponta da cama. - O que você quer?
Aquilo não foi dito de modo rude, apesar da escolha de palavras. Changkyun respirou fundo e pediu para que o garoto se servisse. Havia algumas frutas cortadas, dois sanduíches bem recheados e uma xícara de chá. Hoseok olhou para o cuidado com que a bandeja estava montada e não conseguiu recusar. Sentia fome, claro, mas não achava que merecia nada daquilo, ao menos não depois do que fizera na noite anterior.
O mais novo apenas o assistiu enquanto ele comia, esperando o momento certo para abordar o assunto que trazia consigo. Tinha pensado a noite inteira sobre isso e estava pronto para unir os irmãos de uma vez por todas, já que tinha uma esperança muito grande de que, juntos, conseguiriam encontrar uma saída.
- Eu sei que quer me dizer alguma coisa - Hoseok interrompeu os devaneios de Changkyun, falando de boca cheia -, mas eu não sei se quero saber.
- Você precisa...
- Ah, é? E por quê? - Hoseok questionou, fitando Changkyun com um olhar muito sério. - Sou um monstro como o meu pai, você corre perigo ficando no quarto comigo.
- Hyung, não fale assim - o menino pediu, a voz soando fraca. - Nós nos importamos com você e sabemos que fez tudo isso para nos proteger. O que aconteceu ontem foi um acidente e eu, novamente, sou testemunha de algo assim...
Hoseok desviou os olhos e parou de comer, devolvendo a metade de um sanduíche à bandeja.
- Eu me lembrei de tudo - o mais novo soltou, sabendo que não poderia manter o assunto principal de lado por tanto tempo. - Inclusive do que Jooheon e eu vimos. Nós sabemos de tudo, hyung, dos abusos e do veneno.
Hoseok não se chocou com a informação porque sempre achou que chegaria o dia em que o garoto recuperaria tais lembranças, mas, ainda assim, começou a chorar. Era a reação que Changkyun esperava, mas não estava preparado para lidar com ela. Seus olhos também ficaram marejados, mas ele se conteve porque não podia desabar sem antes concluir a sua missão.
- Eu não quis te contar antes porque tudo aconteceu tão depressa e ao mesmo tempo - ele disse -, mas nós entendemos, hyung, sobre tudo. O que você fez foi correto. Você nos salvou muitas vezes de seu pai...
- Mas não salvei Hyungwon! - Hoseok gritou, o desespero o tomando novamente. Changkyun tirou a bandeja da cama e a deixou sobre o tapete com medo de que o chá fosse derramado. Ao voltar, aproximou-se de seu hyung e arriscou tocar o braço dele de leve.
- Ele vai aparecer - disse, tentando inutilmente confortar o coração abalado do outro. - Eu sei que não aconteceu nada de ruim com ele, não pode ter acontecido...
- Então por que ele não está aqui? - Hoseok indagou, mais como um lamento do que realmente uma pergunta. Changkyun o puxou para um abraço e ambos se entregaram a uma cumplicidade nunca antes partilhada. Changkyun sentiu a intensa tremedeira do corpo de Hoseok e nunca havia visto o mais velho tão frágil como ele estava. Tentou pensar em alguma coisa que pudesse animá-lo, mas realmente não havia nada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pomegranate Seeds | JooKyun
Fiksi PenggemarDurante onze anos Changkyun sofreu com surtos de amnésia por causa de um acidente ocorrido na infância. Quando os lapsos de memória cessaram, ele teve de se adaptar à vida como se tivesse saído de um coma: além de viver com uma família nada convenci...