Capítulo 11 - as sombras que se movem no escuro

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A sonolência havia piorado depois que Changkyun foi obrigado a realizar alguns exames. Um novo remédio fazia com que ele dormisse ainda mais do que estava habituado, sentindo os olhos pesados durante quase o dia inteiro, o que, por um lado, era bom, já que não lhe sobrava energia ou tempo para continuar a falar sobre Jooheon e sua ausência. Por vezes acordava e via Minhyuk deitado consigo, imaginando se era noite ou já de manhã; nem sempre Minhyuk estava desperto, mas quando estava, questionava ao irmão mais novo se ele se sentia bem e a resposta era dada com um vazio tão grande que a voz de Changkyun nem parecia estar saindo dele mesmo.

Não sonhava mais com o acidente, mas tais sonhos tinham sido substituídos por imagens de gente lhe apontando o dedo e cochichando sobre a família - coisas que ele havia realmente presenciado na visita ao médico na cidade. As pessoas que sempre sorriam para ele quando ele aparecia para as sessões de terapia não mais o fitavam com alegria e demonstravam mais medo do que qualquer outro sentimento. Ele ouviu o burburinho sobre Jooheon e criou mentalmente uma cena em que cada uma daquelas pessoas perdia a língua por transmitirem tamanhas bobagens. Torceu para que os exames fossem rápidos para que pudesse voltar para casa o quanto antes.

Uma semana havia se passado e nenhum dos policiais voltou para informá-los sobre possíveis novidades ou sobre os diários. Hoseok ligou várias vezes para o oficial Choi, mas era sempre dito que ele encontrava-se ocupado e que qualquer objeto entregue ainda estava sendo analisado. Por muito tempo, os garotos concluíram que havia sido um esforço vão e que ninguém iria acreditar no conteúdo daqueles cadernos, não quando as teorias absurdas sobre Jooheon ser o vilão da história já estavam criando raízes grossas sob o solo da província. Parecia impossível mudar um pensamento que fora reforçado dia após dia durante doze anos e a esperança de que os papéis dos personagens envolvidos na história do acidente pudessem ser invertidos esvaiu-se a cada momento vivido sem respostas.

Tornou-se comum que Changkyun ficasse sentado na escadaria que dava para o terceiro pavimento, de onde tinha um vislumbre do térreo e do corredor do segundo andar, lendo livros em silêncio, vez ou outra cortando a concentração para checar a movimentação na casa. As portas e janelas continuavam trancadas, evitando qualquer visita surpresa, e seus irmãos permaneciam calados na sala de estar ou na cozinha, cobertos por uma monotonia insana. Os mais velhos não queriam sair ou ir até a cidade com receio de que algo viesse a acontecer justamente por eles estarem fora. Os mais novos não tinham motivos para deixar a casa, agora que seus trabalhos também tinham sido comprometidos por conta dos boatos.

Changkyun sentia falta de Jooheon tanto quanto de Hyungwon e ainda encontrava-se confuso com o desaparecimento de ambos. Não entendia o fato de que Jooheon mentira sobre estar contando com a ajuda de Hyunwoo e também não conseguia imaginar como era possível o garoto entrar e sair da casa sem ser notado, passando tanto tempo consigo sem levantar nenhuma suspeita. Queria poder informá-lo de que os demais garotos confiavam nele como ele mesmo o fazia, que ele estaria em segurança se ficassem todos juntos ali dentro, que eles venceriam qualquer barreira para permanecerem nos braços um do outro como o mais novo tanto desejava.

A luxação na perna de Kihyun melhorou consideravelmente durante os poucos dias de repouso e ele já conseguia apoiar o calcanhar no chão, o que o permitia movimentar-se melhor sozinho. Ainda assim, ele recebia ajuda para ir de um cômodo a outro e estava dormindo no quarto de Hyungwon enquanto não tinha condições de subir as escadas até o seu. Ele e Changkyun terminaram de ler os diários restantes de Jooheon, já tão acostumados com a narração que a náusea que sempre os invadia diante de alguns parágrafos já não chegava mais com tanta intensidade.

- Fico pensando se ele tem medo de nós - Kihyun disse, fechando um dos cadernos e o deixando sobre a cama. - Eu nunca o conheci, não seria nada estranho ele não poder confiar em mim como confia em você.

Pomegranate Seeds | JooKyunOnde histórias criam vida. Descubra agora